Em apenas quatro meses como colunista de opinião doNew York Times, Joe Nocera já conseguiu o feito de ter um artigo na lista dos mais enviados por e-mail e experimentou a sensação de enfrentar uma enxurrada de críticas. O motivo: escreveu que os republicanos do movimento ultraconservador Tea Party haviam promovido uma jihad (guerra santa) aos americanos. “Estes terroristas quiseram sacrificar a credibilidade da nação para atingir cortes profundos de despesas. Eles podem colocar de lado as vestimentas suicidas, mas tenham ciência de que terão de vesti-las novamente em breve”, escreveu Nocera em texto publicado no dia 2/8. Diante da repercussão, o colunista desculpou-se. “Eu fui um hipócrita, disseram os críticos, por usar tais expressões quando, em outras ocasiões, pedi por uma política mais civilizada. Eu concordo com eles, peço desculpas”, escreveu, quatro dias depois.
Nocera acredita ter ultrapassado os limites. “Mas, quais são estes limites que os colunistas de opinião devem observar?”, questiona o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane. “Em uma era de retórica cada vez mais veemente, será que ele foi longe demais?”. Andrew Rosenthal, editor das páginas editoriais, e outros entrevistados por Brisbane não acreditam que Nocera tenha ido.
John Carroll, ex-editor do Los Angeles Times, gostou da primeira coluna e não se sentiu ofendido pela retórica. “Eu, pessoalmente, não pediria desculpas. Posso reconhecer as boas intenções do Tea Party, mas não vejo motivo para se desculpar. Por outro lado, acredito que Nocera deve se conscientizar do seu tom e usá-lo de modo esporádico”, opinou. É o que também pensa Tim McGuire, que já foi editor do The Star Tribune. “Ele sabia que sua coluna causaria polêmica. Então, para quê se desculpar?”.
Responsabilidade
Na verdade, trata-se de um caso de “deixar passar”, mesmo com críticas. Para o historiador Marcus Daniel, comentários políticos fortes são saudáveis e cada vez mais frequentes na era de uma mídia democratizada, assim como ocorria no começo do jornalismo americano. “Muitos dos jornalistas no final do século 18 tinham a ideia de que as pessoas devem poder escrever o que quiserem. Os leitores devem ser capazes de tomar decisões sobre o que querem”, afirmou.
Nocera explicou, no entanto, que a enxurrada de emails com reclamações provocou um “momento de introspecção”. Afinal, ele é novo no cargo de colunista de opinião – antes, assinava uma coluna sobre economia. “Ainda estou no processo de decidir que tipo de colunista serei”, disse. E, em seu momento introspectivo, decidiu que não pode pedir civilidade enquanto chama os outros de terroristas.
As páginas de opinião do NYTimes devem ter opiniões fortes e variadas, mas amparadas em uma linguagem razoável, para estimular o debate e informar o público, defende o ombudsman. O jornal é responsável pelo tom e pelo conteúdo de tudo aquilo que publica.