Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Diário fundado por Sartre abre capital a milionário

Em assembléia, os funcionários do jornal esquerdista francês Libération aprovaram, por 196 votos a 130, a venda de uma fatia de 37% das ações do diário a um dos herdeiros da milionária família Rothschild. Segundo a AP [20/1/05], a decisão não foi fácil para os votantes.

Fundado pelo filósofo Jean-Paul Sartre, entre outros intelectuais franceses, o Libération tem história de mais de três décadas de independência. No entanto, como a situação não está boa para a imprensa escrita, a injeção de 20 milhões de euros oferecida por Edouard de Rothschild foi vista como necessária, após quatro anos no vermelho. Mesmo o diretor do jornal, Serge July, que ali trabalha desde que participou de sua criação, em 1973, foi favorável à venda, após obter garantias de que Rothschild não interviria nas decisões editoriais. Seu direito de voto está limitado a 40%. A associação de funcionários, mesmo tendo sua participação diluída para 19%, manterá poder de veto sobre decisões administrativas.

July afirma que o reforço de capital será bem-vindo para diminuir o preço do jornal e, além disso, melhorar seu conteúdo e distribuição. Rothschild não esconde que a aquisição é apenas a primeira do grupo de mídia que pretende construir. Ele poderá aumentar sua participação no Libération se comprar os 10% que o fundo de investimento 3i venderá em breve.

Grandes capitalistas se aproveitam da crise financeira dos jornais franceses. O conservador Le Figaro foi comprado pela Dassault, fabricante de armas. Sua intervenção nas decisões editoriais do jornal revoltou os funcionários. Comenta-se que o Le Monde esteja em negociações com a Lagardère, outra indústria de armas.