O WikiLeaks foi “imprudente” ao divulgar informações confidenciais sem tentar proteger autoridades da inteligência, segundo um dos repórteres que desvendou o escândalo de Watergate. Carl Bernstein disse que a organização responsável por denúncias, que divulgou milhões de documentos confidenciais, inclusive relatórios de operações militares, “fez algumas coisas muito úteis”, mas também agiu de maneira “imprudente”.
O ex-repórter do Washington Post, que ajudou a expor o escândalo político que levou à renúncia de Richard Nixon como presidente dos Estados Unidos, também insistiu que a melhor maneira de fazer jornalismo é conversando com as pessoas, e não através de redes sociais.
Ele disse: “Acho que atualmente um número excessivo de pessoas não está interessado em chegar à melhor versão da verdade. Na realidade, estão interessadas em informações que reforcem aquilo em que já acreditam. Munição para as crenças políticas que já têm. Deparamos com dois problemas. Não temos um número suficiente de instituições que gastem o suficiente para fazer grandes reportagens. E não temos um número suficiente de pessoas dispostas a receber abertamente informações que podem ser contrárias às ideias preconcebidas que têm sobre o que está acontecendo.”
E acrescentou: “Acho que o WikiLeaks fez algumas coisas muito úteis. E também acho que, às vezes, foram imprudentes divulgando informações sem tentar proteger pessoas que trabalham para a inteligência. De uma maneira geral, acho que quanto mais informação seja divulgada, melhor. Mas acho que, às vezes, o WikiLeaks foi negligente.”
A melhor versão da verdade
Carl Bernstein falou durante um evento em Hollywood, quando foi projetado o filme Todos os homens do presidente [All The President’s Men], vencedor do Oscar e baseado no trabalho que ele fez para o Washington Post com seu companheiro Bob Woodward.
Bernstein, de 72 anos, cujo papel foi desempenhado por Dustin Hoffman no filme de 1976, destacou a divulgação do escândalo dos telefones grampeados feita pelo Guardian e a investigação feita pelo Boston Globe sobre abuso sexual de crianças por padres católicos como exemplos de “reportagem séria”.
Ele disse: “Reportagens sérias não são fáceis. Uma reportagem séria, que é a maneira de chegar à melhor versão da verdade, é o que você vê em Spotlight. É ir de porta em porta. É o que o Guardian fez na cobertura de Rupert Murdoch em termos de pirataria digital. É sobre conversar com uma porção de pessoas, obter fontes. Nada disso é fácil, nem fascinante. Há muitas boas reportagens sendo feitas e a grande reportagem é feita por meio do uso das velhas técnicas de conversar com as pessoas. Você pode ir à internet e usar o Google para localizar uma informação que uma vez você conseguiu na biblioteca pública, mas você não vai conseguir a matéria no Google, não vai consegui-la no Twitter. Nós o fazíamos conversando com as pessoas.”