Completou 50 anos, na quarta-feira (15/10), o célebre discurso do âncora americano Edward R. Murrow sobre rádio e televisão na convenção da Radio and Television News Directors Association (Associação dos Diretores de Rádio e Telejornalismo), em Chicago. Na ocasião, o jornalista da rede CBS afirmou à platéia que se, dali a meio século, historiadores analisassem vídeos das grandes redes americanas – ABC, CBS e NBC –, encontrariam ‘provas da decadência, escapismo e alienação das realidades do mundo em que vivemos’ [ver, neste Observatório, ‘A crítica da notícia como mercadoria‘].
No discurso, que ficou conhecido como ‘Cabos e Luzes em uma Caixa’, Murrow expressava receio de que o poder do rádio e da TV fosse usado de maneira danosa à sociedade e à cultura. Especificamente sobre a TV, ele foi ainda mais fundo. ‘Este veículo pode ensinar, iluminar; sim, pode até inspirar. Mas só pode fazê-lo se os seres humanos estiverem determinados a usá-lo para estes fins. De outro modo, são meramente cabos e luzes em uma caixa’, afirmou, ao fim do discurso, para ainda lembrar que ‘há uma grande e talvez decisiva batalha a ser travada contra a ignorância, a intolerância e a indiferença. Esta arma, a televisão, poderia ser útil’.
A Associação dos Diretores celebrou a data reproduzindo o discurso e divulgando, em seu sítio, trechos de um debate que ocorreu em junho deste ano sobre o legado de Murrow e o futuro das notícias eletrônicas. Em nota no blog TV Decoder, no sítio do New York Times, o jornalista Brian Stelter perguntou aos leitores o que, 50 anos depois, as palavras de Murrow significavam para eles. Alguns responderam que o âncora ficaria abismado com o que se tornou a televisão hoje; outros, que o discurso é ‘profético’ e que os termos ‘ignorância, intolerância e indiferença’, usados por Murrow, não estão lá tão distantes ‘das realidades do mundo em que vivemos’ em 2008. ‘As divisões de notícias deixaram de ser fontes independentes de reportagens imparciais; são apenas mais um centro corporativo de lucro – e devem ser lucrativas, ou então cabeças rolam’, resumiu o leitor Cody McCall, que diz suspeitar que Murrow ficaria ‘horrorizado’ com o telejornalismo 50 anos depois de seu discurso.