O crítico literário Liu Xiaobo, um dos mais conhecidos ativistas políticos da China, é o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2010 por sua ‘longa e não-violenta luta por direitos humanos fundamentais’. A escolha do Comitê do Nobel, na Noruega, representa uma clara crítica ao governo chinês em meio ao autoritarismo de seus líderes. O país comunista enfrenta um momento de aumento de intolerância à dissidência política e de opinião diante do desafio de se tornar uma nação mais aberta por conta do crescimento econômico.
Xiaobo, de 54 anos, foi condenado em 2008 a 11 anos de prisão sob acusação de subversão. Ele é a terceira pessoa encarcerada a receber o prêmio, e o primeiro cidadão chinês. Ao anunciar a escolha, o Comitê ressaltou que a China – hoje a segunda maior economia do mundo – tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza, mas ao mesmo tempo continua a ignorar direitos básicos da população garantidos pela Constituição Chinesa e por convenções internacionais das quais o país faz parte.
‘Criminoso’
O governo chinês reagiu com irritação à homenagem, afirmando que ela poderá prejudicar as relações da China com a Noruega. ‘Liu Xiaobo é um criminoso que foi sentenciado pela justiça chinesa por violar a lei chinesa’, afirmou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Xiaobo é perseguido pelo governo – proibido de participar da vida acadêmica e de publicar material no país – desde 1989, quando participou ativamente dos protestos por democracia na Praça da Paz Celestial. Foi ele quem negociou a retirada pacífica dos manifestantes diante do Exército. ‘Se não fosse por Liu e por outros para conseguir a saída pacífica da praça, ela teria virado um campo de sangue’, lembra o veterano jornalista Gao Yuy, dissidente preso durante os protestos.
Manifesto
A mais recente prisão do ativista, em 2008, ocorreu um dia antes de um manifesto reformista de sua co-autoria ser divulgado na internet. O documento defendia que os líderes chineses respeitassem os direitos humanos e a independência do sistema judiciário e aceitassem uma reforma política que, no fim, acabaria com o monopólio de poder do Partido Comunista. ‘Por todos estes anos, Liu Xiaobo insiste em dizer a verdade sobre a China e, por causa disso, pela quarta vez ele perdeu sua liberdade individual’, afirmou sua mulher, Liu Xia, em entrevista esta semana.
A mídia estatal chinesa e os principais portais de internet do país não noticiaram a escolha do Nobel. Uma reportagem da rede americana CNN sobre Xiaobo foi censurada, e pessoas afirmaram não conseguir transmitir mensagens de texto por celular contendo o nome do ativista em chinês. Com informações do New York Times [8/10/10].