Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Dois anos da Primavera Negra

Sobre um desenho inspirado no livro infantil Onde está Wally?, ambientado em Havana, surge a pergunta: ‘Onde estão os jornalistas?’. A resposta vem logo abaixo: ‘Não procure em Cuba, eles estão na prisão’. A imagem é de um cartaz que faz parte da campanha da organização Repórteres Sem Fronteiras em prol dos mais de 20 jornalistas presos em Cuba.

O país tornou-se a segunda maior prisão do mundo para jornalistas, ficando atrás apenas da China. O drama dos jornalistas teve início há dois anos, quando 75 pessoas consideradas dissidentes ao regime de Fidel Castro foram detidas e receberam penas de 14 a 27 anos de confinamento. Seis dos jornalistas envolvidos no episódio, que ficou conhecido como ‘Primavera Negra’, foram libertados em dezembro do ano passado. Ainda assim, a imprensa independente de Cuba continua sendo alvo de censura e de ameaças feitas por autoridades do governo.

As condições em que se encontram os jornalistas presos é degradante. Muitos estão doentes e não têm as mínimas condições sanitárias na prisão. A comida é escassa e o tratamento médico, inadequado. A maior parte dos profissionais detidos só pode receber uma visita da família a cada três meses.

Héctor Maseda Gutiérrez, da agência de notícias Grupo de Trabajo Decoro, conseguiu enviar uma carta a sua mulher dizendo que a comida e os remédios que ela leva em suas visitas são confiscados quando ela vai embora. Casos como o de Miguel Galván Gutiérrez, da Havana Press, que em setembro de 2004 teve seu colchão retirado da cela sem explicações e desde então dorme em cima de uma tábua, e de Juan Carlos Herrera Acosta, da Agencia de Prensa Libre Oriental (APLO), que ficou um ano dentro de uma cela sem janela, são preocupantes.

Para protestar contra a detenção dos jornalistas, considerada uma violação das leis internacionais de direitos humanos e de liberdade de imprensa, as organizações Repórteres Sem Fronteiras e Comitê para a Proteção dos Jornalistas realizaram campanhas para chamar a atenção do mundo para os problemas enfrentados pela imprensa em Cuba.

A campanha dos RSF, em parceria com a agência de publicidade SAATCHI & SAATCHI, teve peças para cinema, rádio e mídia impressa. A idéia foi contrastar imagens da ilha: de um lado, cenas idílicas que mostram o paraíso turístico; do outro, as sórdidas penitenciárias que ‘abrigam’ os oponentes ao governo de Fidel Castro.

Já o CPJ enviou carta ao presidente cubano, assinada por 108 representantes de 18 países, pedindo a soltura imediata dos jornalistas. A carta e a lista dos signatários podem ser vistas em http://www.cpj.org/Briefings/2005/cuba_crackdown_05/cuba_crackdown_main.html#signers. Informações dos Repórteres Sem Fronteiras e do Comitê para a Proteção dos Jornalistas [16/3/05].