Um artigo considerado ofensivo ao Islã, publicado em um jornal indiano, resultou em protestos de muçulmanos e no assassinato de duas pessoas, levando a polícia a impor toque de recolher nas cidades de Shimoga e Hassan. Um dos mortos foi atingido pela polícia, que abriu fogo quando tentava conter centenas de manifestantes muçulmanos que atacaram lojas e veículos nas duas cidades, ambas no estado de Karnataka, administrado pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata. Segundo os policiais, hindus chegaram a revidar os ataques.
A escritora Taslima Nasrin, apontada como autora do polêmico artigo que dizia que o véu muçulmano limitava a liberdade das mulheres, negou a autoria do texto e afirmou suspeitar de uma tentativa de prejudicá-la. ‘Fiquei chocada com o que aconteceu em Karnataka’, disse. ‘Soube que foi provocado por um artigo escrito por mim, que apareceu no jornal Karnataka. Mas nunca escrevi nada para esta publicação na minha vida. Nunca mencionei no que escrevi até hoje que o profeta Maomé era contra a burca’.
Controvérsia
O trabalho de Taslima já causou polêmica no passado. Em 1994, a escritora teve de deixar Bangladesh depois que um tribunal determinou que ela havia ofendido deliberada e maliciosamente os sentimentos religiosos dos muçulmanos com seu romance Lajja, sobre conflitos entre muçulmanos e hindus. Na época, milhares de muçulmanos radicais protestaram contra a autora, chegando a pedir que ela fosse morta por blasfêmia. Desde então, Taslima recebe ameaças. Ela passou uma década morando na Europa Ocidental e nos EUA e, em 2004, foi para a Índia, com uma permissão de residência temporária.
Ex-médica, a escritora define-se como humanista secular e critica a religião como força opressiva. Em 2004, um clérigo ofereceu uma recompensa para qualquer um que conseguisse humilhá-la ao sujar seu rosto com tinta ou a atingindo com um sapato. Diversos livros de sua autoria foram proibidos na Índia e em Bangladesh. Em 1994, Taslima recebeu o prêmio Sakharov, por liberdade de pensamento, concedido pelo Parlamento Europeu. Informações da Reuters [2/3/10].