Nas últimas semanas, a ‘mídia tradicional’ dos EUA tem estado ocupada ponderando a escolha de Katie Couric, popular apresentadora do programa Today, da NBC, de se tornar âncora do noticiário Evening News, da CBS, em setembro. Aqueles em outros países, assim como os americanos com menos de 30 anos, devem ser perdoados por pensar que uma notícia sobre uma jornalista de TV é apenas uma espetacular demonstração de olhar para o próprio umbigo. E é claro que é – é por isso, precisamente, que carrega umas duas lições sobre a ‘nova mídia’.
Notícias sobre notícias são, em parte, um produto da ânsia dos jornalistas em falar sobre eles próprios – ânsia bastante universal, ao que parece. O mesmo impulso é a chave para as mudanças que varrem às áreas de notícias e entretenimento, como expõe nosso especial sobre a Nova Mídia. A comunicação de massa costumava ser uma via de mão única, da mídia para o público. Leitores, ouvintes e telespectadores, como um murmúrio abaixo da superioridade dos profissionais, ficavam restritos aos programas de auditório e às páginas de cartas.
A transição para uma era de participação desafia este cenário. A infra-estrutura de fornecimento de conteúdo de mídia – a internet – torna-se rapidamente onipresente. Cidadãos comuns criam seus próprios blogs, wikis e podcasts porque custa quase nada fazê-lo. A maioria deles não liga para o tamanho de sua ‘audiência’. Alguns escolhem mantê-los pequenos e íntimos; uma minúscula parcela se torna estrela – organizações de mídia de uma só pessoa. Como o público é composto de pessoas que estão, elas próprias, expressando-se publicamente, a nova mídia é mais um tumulto do que um sermão.
O que leva ao segundo item sobre o Evening News: angústia. O trabalho de Katie Couric é importante porque representa uma tentativa de reforçar uma instituição desagregada. Executivos de mídia não são os únicos a se preocupar com a queda da audiência. O Evening News, da CBS, foi transmitido pela primeira vez em 1948 e as pessoas são sentimentais quanto aos veículos de comunicação que as acompanham durante a vida. O medo é em parte sobre o que será perdido da mídia tradicional, e em parte sobre o que a substituirá. Muitos temem que a cacofonia leve a uma sociedade fragmentada. Como pode algo bom vir do clamor de tantas vozes levantadas? Não seria isso uma câmara de eco na qual os cheios de apaixonada intensidade passam longas horas compartilhando preconceitos?
Isso é delirantemente pessimista. Para começar, na era da participação de massa, a nova mídia irá coexistir com a antiga – de fato, já é difícil dizer quando uma se torna a outra. É verdade que cada vez mais pessoas irão baixar videoclipes curtos de sítios como o YouTube.com, alugar DVDs no Netflix.com, discutir livros na Amazon.com e criar debates online em seus próprios blogs. Mas isso não irá substituir os sucessos de bilheteria de Steven Spielberg ou a equipe de repórteres do New York Times.
Além do mais, a facilidade com que a internet espalha besteiras – para não falar em mentiras e difamações – é compensada pela facilidade com que espalha pensamentos e idéias. Lamentar a gloriosa fecundidade da nova mídia é escolher o respeitoso silêncio da catedral ao estrondo alegre de uma loja de departamentos.