Tudo começou com um texto provocativo e anônimo sobre sexo antes do casamento publicado por um jornal universitário online no estilo de narrativa em primeira pessoa. Passaria despercebido, se não tivesse sido escrito por uma judia ortodoxa e divulgado em uma publicação da Faculdade Stern para Mulheres, parte da Universidade Yeshiva de Manhattan, na qual a autora dizia estudar.
No texto, a jovem narra sua ida a um motel, onde tira suas roupas conservadoras, veste algo sexy e usa um perfume floral, antes de transar com um rapaz. Na manhã seguinte, lamenta o que fez. Como uma instituição judia ortodoxa que ensina tanto temas judeus quanto seculares, a universidade atrai muitos estudantes religiosos que consideram o sexo antes do casamento – não apenas o ato, mas o debate aberto sobre ele – algo muito além das fronteiras aceitáveis da castidade. No entanto, há também alunos que querem romper estes limites.
Tensão entre dois lados
O resultado do artigo anônimo foi um debate que durou uma semana no campus e que reflete a tensão entre as identidades religiosa e secular da universidade em um lugar no qual sexo ainda é considerado um assunto profundamente particular. Depois que o artigo foi publicado, estudantes conservadores mobilizaram-se para fazer uma queixa ao conselho estudantil da faculdade sobre o jornal online, The YU Beacon, produzido em conjunto por estudantes da Stern e do Yeshiva College, escola exclusiva para homens.
Membros do conselho pediram que o texto fosse retirado do ar e que o jornal negociasse seu status com a instituição. Editores, no entanto, fizeram o contrário: reforçaram o laço com a faculdade e prometeram continuar a publicar artigos de maneira independente. Como houve discordâncias em relação a esta atitude, dois editores optaram por deixar seus cargos. “Peço desculpas àqueles chateados com o artigo”, declarou o editor-chefe Simi Lampert, que optou por permanecer na publicação. “Mas não me arrependo da decisão de publicá-lo. Esta é a razão pela qual o Beacon foi fundado, em primeiro lugar: ser uma plataforma para cada aluno, não apenas para a maioria”.
Há diversos jornais universitários na Universidade Yeshiva. O Commentator é publicado no campus masculino no bairro de Washington Heights, e o Observer, no feminino, no centro de Manhattan. Desde o começo, o Beacon teve a intenção de romper os limites, unindo homens e mulheres e aceitando todos os pontos de vista dos alunos. Além das notícias, são divulgados textos de alunos, e foi na seção “How Do I Even Begin To Explain This” (Como eu começo a explicar isso, tradução livre) que o artigo polêmico foi publicado. O texto foi repassado por email pelos estudantes e o site recebeu, rapidamente, milhares de visitas. Informações de Sharon Otterman [New York Times, 9/12/11].