Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ainda sobre o papel do jornal na checagem de fatos

Na medida em que esquenta o clima da disputa pelo posto de candidato republicano à presidência americana, cresce a demanda dos leitores por uma análise mais agressiva das declarações dos pré-candidatos, comenta, em sua coluna [21/1/12], o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane. O movimento pela apuração dos fatos não é novo. Agora, entretanto, com os primeiros anúncios de campanha dos pré-candidatos republicanos, a guerra da checagem dos fatos chegou a uma nova fase.

No New York Times, a cobertura dos debates tipicamente inclui um artigo principal e uma ferramenta chamada “Fact Check” (algo como “Checagem do fato”), em que as declarações dos candidatos são investigadas. Na semana passada, a acusação de Mitt Romney de que o presidente Barack Obama não tem um plano para empregos foi classificada como incorreta pelo NYTimes, por exemplo.

Esta função de conferir os fatos é feita pela equipe regular, que tem outras tarefas. Além das declarações, o jornal analisa anúncios políticos e realiza investigações mais profundas como parte de sua cobertura eleitoral. Já o PolitiFact, por sua vez, é uma unidade dedicada à checagem dos fatos no The Tampa Bay Times. Em funcionamento desde 2007, o PolitiFact examina declarações e publica os resultados sob a marca “Truth-O-Meter”, algo como “Verdadeirômetro”, um gráfico que fornece uma nota de verdadeiro a falso. O Washington Post tem o “The Fact Checker” (algo como “Checador de Fatos”), também com uma equipe exclusiva e um mecanismo de notas com classificações como “Pinóquio” e “Geppetto”.

Filtros

Jornalistas sempre tiveram como tarefa básica e essencial de seu trabalho verificar declarações, mas a forma de fazê-lo evoluiu. O momento atual tem suas raízes nos final dos anos 80, como resposta a campanhas agressivas como a de Willie Horton destinada a Michael Dukakis, candidato democrata em 1988, segundo o editor do PolitiFact, Bill Adair. Já as unidades específicas e dedicadas à checagem dos fatos remontam a 2003, quando o FactCheck.orgfoi criado pelo Centro de Políticas Públicas Annenberg, da Universidade da Pensilvânia.

A evolução é resultado de uma dinâmica que vem mudando a indústria jornalística. Segundo Adair, quando havia poucos veículos, os jornalistas funcionavam como espécies de guardiões para filtrar declarações falsas. “Agora, os fatos são passados de tantas maneiras – seja cabo, rádio, e-mails. Há um milhão de fontes diferentes. Não há filtro. É importante que façamos verificações porque as pessoas estão obtendo suas informações de tantas fontes e imaginam o que é verdade”, disse.

Polêmica provocada pelo ombudsman

O modo tradicional de um jornal lidar com declarações falsas não está sendo suficiente para os leitores, como pôde observar o ombudsman na semana passada, quando perguntouem seu blog se os leitores queriam mais checagem de fatos em artigos. Esta verificação da autenticidade no dia a dia é atraente, mas Brisbane levanta alguns tópicos de preocupação.

Primeiro: é preciso verificar se o jornal está contradizendo um fato que é quantificável e reconhecível ou uma opinião? A retórica política é repleta de frases de efeito e rótulos, muitos deles para refletir a opinião de quem fala. É possível verificar os fatos sem mostrar tendências ou inclinações? Alguns argumentam que a checagem dos fatos não permite isso. Um estudo da Universidade de Minnesota, por exemplo, mostrou que o PolitiFact deu notas substancialmente mais duras aos republicanos do que aos democratas entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011. Outra preocupação é correr o risco de cometer erros ao verificar dados com prazos curtos. Segundo observa o ombudsman, checagem de fatos em política toma tempo, recursos e atenção. Editores e repórteres precisam identificar prioridades e exercitar o julgamento: eles não podem fazer tudo.