Na terça-feira (13/3), o âncora do Jornal da Globo, William Waack, referiu-se ao “governo da Globo” quando queria se referir ao Jornal da Globo ou ao governo Dilma (ver aqui). A imprensa noticiou o fatocomo equívoco ou gafe. Mas o fato também poderia ser interpretado como um ato falho.
Afinal, todos sabemos que a Rede Globo sempre teve um imenso poder político. O clã Marinho ajudou a eleger Fernando Collor e a derrubá-lo. Editou o debate para prejudicar Lula em 1989 e o colocou no Jornal Nacional quando ele foi eleito presidente. Na última eleição presidencial, o jornalismo global liderou a campanha midiática para transformar o incidente da bolinha de papel na cabeça de José Serra num ataque terrorista. A Rede Globo minimizou o incidente na Bacia de Campos para inibir ações governamentais contra a Chevron e lidera a campanha midiática contra a regulação da mídia.
William Waack disse que nenhum presidente governa sem o apoio do Congresso. Mas também poderia ter dito que ninguém conseguiu governar sem o apoio da Globo ou contra a vontade da companhia. A expressão “governo da Globo”, portanto, não pode ser entendida necessariamente como um equívoco. Afinal, dentro da própria Rede Globo muitos devem acreditar que o melhor governo é aquele que o clã Marinho pretende construir, editar, censurar ou limitar, abusando de seu poder econômico e midiático.
A fragilidade da democracia
O poder da Globo é evidente. O exercício deste poder tem sido bem documentado e estudado. Mas nunca a própria Rede Globo admitiu publicamente que agiu ou que age mais como um instrumento de poder de seus donos do que como uma companhia que visa lucros. Nesse sentido é que o suposto equívoco de William Waack pode, sim, ser interpretado como um ato falho. Pois os“atos falhos são compreendidos por muitas pessoas como falta de atenção, cansaço, eventualidade, porém pode ser interpretado como uma manifestação reprimida” (ver aqui).
O que o jornalista disse nos faz refletir bastante sobre a verdadeira natureza e fragilidade de nossa democracia. Bem como sobre o excessivo poder político de algumas companhias de mídia que precisam ser reguladas não para que fiquem sob o jugo da censura, mas para que não possam solapar a soberania popular que origina todo poder estatal na forma do parágrafo único, do art. 1º, da CF/88.
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[Fábio de Oliveira Ribeiro é advogado, Osasco, SP]