Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Livro destrincha negócios do magnata

A história já é conhecida: o último ano não tem sido nada bom para a News International, braço britânico do grupo de mídia News Corporation e a maior companhia de mídia do Reino Unido. Os problemas já existiam, mas ganharam destaque (e viraram uma verdadeira bola de neve) em janeiro de 2011, quando Andy Coulson, ex-editor do tabloide News of the World, renunciou ao cargo de secretário de imprensa do primeiro-ministro David Cameron. Coulson foi, posteriormente, detido sob suspeita de corrupção e conspiração para interceptar mensagens telefônicas ilegalmente. Outros executivos, ex-editores e repórteres de veículos da News International também foram presos e interrogados nos meses seguintes. As acusações incluiam a prática de grampos telefônicos ilegais para espionar políticos, celebridades, atletas e cidadãos comuns que viraram notícia por conta de acontecimentos trágicos, como os pais da menina Madeleine McCann, desaparecida em 2007.

Os problemas atingiram seu auge em julho, com a revelação de que o News of the World teria grampeado, em 2002, o telefone de uma adolescente de 13 anos. Milly Dower estava então desaparecida, e descobriu-se meses mais tarde que havia sido assassinada. O jornal tentava monitorar as mensagens em seu telefone para saber se ela havia, na verdade, fugido de casa. A revelação provocou uma reação furiosa do público e críticas pesadas de todos os lados. O magnata Rupert Murdoch, dono na News Corp, decidiu fechar seu tabloide dominical e abandonar sua aposta para comprar a companhia de TV por satélite britânica BSkyB. Suspeitas de que policiais teriam colaborado, em troca de dinheiro, com o esquema de espionagem do jornal acabaram derrubando o chefe da Polícia Metropolitana de Londres.

Quatro meses depois, em novembro, Rupert Murdoch e seu filho James, então presidente da News International, depuseram diante de uma comissão parlamentar. Na ocasião, Tom Watson, membro trabalhista do Parlamento britânico que liderou as investigações dos grampos nos tabloides da empresa, dizendo não acreditar que a alta cúpula da News International não tivesse conhecimento da prática de grampos ilegais usada há anos, disse a James que ele devia ser o “primeiro chefe da máfia na história a não saber que estava dirigindo um empreendimento criminoso”. James limitou-se a responder que aquele comentário era “inapropriado”.

O escândalo, desde o princípio

Agora, com a colaboração do jornalista Martin Hickman, do jornal Independent, Watson publicou um livro sobre os negócios dos Murdoch, na tentativa de provar que seu comentário não foi nem um pouco inapropriado. O livro vai até o início do escândalo, em 2005, quando o príncipe William ficou intrigado por um tabloide da News Corp saber que ele havia machucado o joelho, informação que não havia sido oficialmente divulgada.

Na ocasião, a culpa recaiu sobre um único jornalista, que teria, por conta própria, contratado um detetive para grampear os telefones de funcionários da família real. Intitulado Dial M for Murdoch: News Corporation and the Corruption of Britain (Disque M para Murdoch: a News Corporation e a corrupção no Reino Unido, na tradução livre), o livro descreve como a versão da história mudou ao longo do tempo, de um jornalista, para um pequeno grupo de jornalistas, para finalmente chegar a um jornal inteiro, que acabou sacrificado para salvar a companhia. Watson alega que a cúpula da News International tinha tanta confiança em suas ligações políticas e policiais que achava que poderia simplesmente destruir provas, ameaçar críticos e encobrir suas atividades ilegais impunemente.

Watson também traça um panorama das complexas relações envolvendo política e imprensa. Os mesmos jornais que fiscalizavam os políticos e chefes de polícia, diz ele, ofereciam a essas figuras lucrativos trabalhos como colunistas. Agora, os principais partidos políticos britânicos se afastaram dos negócios dos Murdoch, mas os laços, até pouco tempo atrás, eram próximos. O ex-premiê Tony Blair, por exemplo, é padrinho de uma das filhas mais novas de Rupert Murdoch, e o atual primeiro-ministro, David Cameron, que já abandonou um feriado em família para se encontrar com o empresário na Grécia, costumava andar a cavalo com o marido de Rebekah Brooks, ex-executiva-chefe da News International.

Exageros

Em resenha sobre o livro na Economist, é dito que Watson tem uma tendência ao exagero, principalmente nas comparações com conspirações ao estilo da máfia. “Seja lá o que Murdoch seja, ele não abate seus inimigos”, afirma o texto. “A acusação formal sobre uma única empresa não é suficiente para consertar o danificado sistema político-midiático britânico. Um mafioso como Al Capone pode ser preso. Derrube um mau presidente, e um bom governo pode retornar no lugar. Mas milhões de consumidores de jornais deram a Murdoch seu poder – e não resmungaram quando os tabloides invadiram a privacidade dos ricos e famosos. Sem o caso Milly Dowler, envolvendo uma estudante comum, a opinião do público poderia nunca ter se voltado contra o News of the World”.

O livro já está disponível na versão e-book no site da Amazon.

Informações da Economist [28/4/12].