Críticos do Partido Popular, do primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy, alegam que a recente série de afastamentos de profissionais de organizações de mídia estatais é um sinal de que o governo não irá tolerar nenhuma crítica. Diversos jornalistas que ousaram questionar as políticas austeras da administração atual foram afastados dos canais de rádio e TV da Corporación de Radio y Televisión Española (RTVE). Na semana passada, foi a vez de Ana Pastor, apresentadora do popular programa matutino Los Desayunos, exibido na Televisión Española (TVE).
Políticos espanhóis tendem a ter uma boa cobertura na imprensa e raramente são pressionados. Ana, entretanto, é conhecida por fazer perguntas difíceis e, muitas vezes, desconfortáveis a seus entrevistados. Quando entrevistou o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, questionando-o sobre a Primavera Árabe, seu lenço caiu gradualmente de sua cabeça, deixando o cabelo à mostra. Na ocasião, ela alegou não ter sido intencional.
Governo alérgico ao debate
No sábado (4/8), o canal disse que Ana estava deixando o cargo após recusar a oferta de um trabalho como apresentadora de um programa noturno. A versão da jornalista foi diferente: “Pensei que iam me oferecer algo, mas não era nada substancial. O chefe de notícias disse que tínhamos que pensar sobre meu futuro, mas foi tudo muito vago. Ele disse para esperar para ver o que aconteceria entre agora e janeiro. Não quiserem dizer que eu estava demitida, mas eu estava, e não vou ficar ganhando dinheiro público para não fazer nada”.
Opositores ao partido de direita dizem que o governo de Rajoy não vai tolerar nenhuma crítica e que é “alérgico” ao debate. “Eles estão se livrando de mim pelo fato de eu agir como uma jornalista”, disse Ana, classificando seu afastamento de uma decisão política. Antes dela, Fran Llorente, diretor de notícias da TVE e a quem o governo acusa de parcialidade política, já havia sido afastado. A ex-âncora Pepa Bueno afirmou que ele vivia sob constante pressão do partido de situação. “Nunca recebi nenhuma instrução política dele”, disse Pepa. Mais de 70% da equipe foi contra o nome do jornalista Julio Somoano para substituir Llorente.
Desde 1980, a equipe da TVE recebe indicações políticas. Em 2006, no entanto, a lei mudou para que as indicações tivessem que ser aprovadas por 2/3 de uma maioria no Parlamento. Este ano, o Partido Popular usou sua maioria para descartar a legislação de 2006 e começou a nomear veteranos da última administração do partido para trabalhar na emissora. Informações de Stephen Burgen [The Guardian, 5/8/12].