Escândalos envolvendo a família real britânica não são novidade. A princesa Diana era constantemente perseguida por paparazzi – e acabou morrendo em meio a uma fuga deles. O príncipe Charles e sua atual mulher, Camilla Parker Bowles, foram flagrados, quando amantes, em uma ligação telefônica de conteúdo erótico. Sarah Ferguson, então mulher do príncipe Andrew, apareceu na capa dos tabloides sensacionalistas de topless tendo seu dedão do pé chupado por um empresário americano. Não havia o mínimo pudor, por parte da imprensa, em publicar fotos e informações picantes ou constrangedoras sobre membros da família real.
Pulando de geração, o príncipe Harry, filho mais novo de Charles e Diana, parece ser o eleito para continuar a tradição de escândalos constrangendo a monarquia. Na semana passada, foram vazadas fotos em que ele aparece pelado junto a uma mulher, também nua, durante uma festinha (a brincadeira era “strip-bilhar”) em um hotel em Las Vegas.
Harry mostrou, em ocasiões anteriores, que gosta de diversão, e que não tem um pingo de noção de que algumas ações – como se vestir de oficial nazista em uma festa à fantasia – podem prejudicar a imagem de sua família. O príncipe, que é membro da Real Academia Militar da Grã-Bretanha, também já foi flagrado agredindo um fotógrafo na saída de uma boate. Então seriam fotos do príncipe nu farreando com amigos e mulheres algo tão escandaloso assim?
Contenção de danos
Enquanto as imagens já circulavam livremente pela internet ao redor do mundo, assessores do príncipe Charles ameaçavam ações legais contra jornais britânicos que ousassem publicá-las. As fotos estariam sendo oferecidas por 10 mil libras por uma agência, e diversos jornais ingleses e irlandeses teriam expressado intenção de comprá-las. Inicialmente, os assessores pediram amigavelmente que os jornais não publicassem as imagens, mas, em seguida, uma firma de advocacia representando a família real teria enviado uma carta alertando editores que a divulgação fora do Reino Unido não justificava a publicação em veículos britânicos.
Em artigo no Huffington Post UK, Neil Wallis, ex-editor do News of the World, afirmou que a decisão dos tabloides de não publicar as imagens demonstrava o efeito arrebatador do Inquérito Leveson na imprensa britânica. “Lorde Leveson, seu trabalho aqui está completo”, escreveu, referindo-se ao juiz Brian Leveson, que comandou o inquérito aberto para revisar os padrões éticos da mídia no Reino Unido após o escândalo dos grampos telefônicos que levou ao fechamento do News of the World.
Peter Willis, editor do Daily Mirror, rebateu a opinião, afirmando que a atitude dos jornais mostrava que a auto-regulação está funcionando. Os jornais deram a notícia sobre a existência das fotos – divulgadas originalmente pelo site americano TMZ – na primeira página, mas sem mostrá-las.
Do dublê ao original
A exceção foi o Sun. Inicialmente, o tabloide recriou a cena com um dublê de Harry nu para mostrar aos leitores o que eles não haviam visto – no caso, posaram para a encenação um editor de fotografia e uma estagiária. Posteriormente, o jornal de Rupert Murdoch acabou optando por publicar as fotos. Fontes ligadas ao magnata disseram que a decisão foi dele, que teria ficado irritado com a proibição velada.
A News International, braço britânico do grupo de mídia comandado por Murdoch, não comentou a especulação sobre a influência do empresário na decisão. Junto com as fotos, o Sun justificava: havia um “claro interesse público”, pois era importante que os leitores ficassem informados sobre um “legítimo debate público sobre o comportamento do homem que é o terceiro na linha de sucessão real”. No mesmo dia da publicação das imagens, na sexta-feira (24/8), a Press Complaints Commission recebeu mais de 850 reclamações do público contra o tabloide. Um porta-voz do órgão afirmou que a maioria das queixas dizia respeito a “invasão de privacidade”.
Em uma pesquisa publicada no Press Gazette, 68% dos britânicos disseram acreditar que o Sun errou ao publicar as fotos; 21% acham que havia “interesse público” para a publicação; e 14% disseram que já haviam visto as imagens. Por outro lado, 48% afirmaram que não tinham interesse em vê-las – online ou nos jornais. Com informações de Lisa O’Carroll [The Guardian, 23 e 24/8/12], Michael Holden [Reuters, 23/8/12] e Jane Merrick e Paul Bignell [The Independent, 26/8/12].