O New York Times teve que se explicar por uma foto publicada em seu site na sexta-feira (24/8), ilustrando a cobertura do tiroteio que deixou dois mortos em frente a um dos pontos turísticos mais famosos de Manhattan. Um ex-funcionário de uma empresa de importação voltou ao local um ano após sua demissão e atirou em um ex-colega de trabalho, na manhã de sexta, próximo ao Empire State Building. O assassino acabou morto por policiais, e outras nove pessoas ficaram feridas. O Times trazia em destaque na home uma imagem, tirada de cima, da vítima deitada na calçada, braços esticados, com muito sangue escorrendo pelo chão. [Veja a foto aqui]
Logo teve início uma discussão nos blogs de crítica de mídia americanos sobre a foto. “Precisava?”, era a pergunta recorrente. Em seu blog, Jim Romenesko afirmou que estava recebendo muitas críticas de leitores. Um deles escreveu: “Nunca vi uma foto tão explícita publicada, especialmente quando a legenda diz apenas ‘vítima’. Trata-se do atirador ou da vítima inocente? Eles não poderiam ter esperado para descobrir, ou deixado claro na legenda de quem se tratava? (Presumo que eles não soubessem naquele momento). Mas se era o alvo do atirador, como você explica isso para a família da vítima? E se era o atirador, ainda assim é meio explícito demais para a home do NYT, não?”
A foto foi tirada por um gerente de vendas que trabalha no mesmo prédio onde trabalhava o homem morto por seu ex-colega. Dez minutos depois do tiroteio, ele abriu a janela de seu escritório no terceiro andar, colocou o braço para fora segurando seu iPhone e capturou apenas uma imagem. “A foto que apareceu na capa do Times foi tirada sem um olho por trás do visor”, resumiu Bernie Bernstein em artigo no blog On the Media. O fotógrafo, creditado como Sam Gerwitz, contou para ele que achou a imagem “muito sangrenta” e que inicialmente não queria mostrá-la para a imprensa porque não queria ganhar dinheiro com ela. Mas seus colegas de trabalho o estimularam a enviá-la para o Times e doar o dinheiro que recebesse para caridade. Segundo ele, o jornal pagou “cerca de 300 dólares”.
Contando uma história
Houve quem não visse nada demais na opção do diário pela imagem sangrenta. “Ainda que seja incrivelmente forte e perturbadora, o que torna [a foto do New York Times] tão explícita é o sangue, a cor… mas sangue é uma parte inseparável da ferida letal”, afirmou Kenny Irby, fundador do programa de fotojornalismo do Instituto Poynter. No Twitter, David Carr, colunista de mídia e cultura do Times, defendeu a decisão: “Mostrar apenas os sobreviventes chorando após uma violência destas não conta a história toda. Às vezes você tem que ir fundo”.
Em uma pesquisa no Huffington Post, 59,16% dos internautas achavam que o jornal estava certo em publicar a foto, pois tem a responsabilidade de mostrar imagens jornalísticas mesmo que elas sejam fortes; 40,84% consideravam que a imagem era desnecessária para a cobertura.
Depois de tantas opiniões espalhadas pela rede, Eileen Murphy, porta-voz do Times, explicou a decisão. “É uma imagem extremamente explícita e nós compreendemos por que tantas pessoas a consideram dissonante. Nosso julgamento editorial diz que trata-se de uma fotografia com valor jornalístico que mostra o resultado e o impacto de um ato público de violência”.
O jornal acabou removendo a foto como destaque da home, e a colocou em um slideshow. O Poynter fez uma compilação para mostrar como diversos sites de notícias americanos retrataram o incidente. Com informações de Andrew Beaujon [Poynter, 24/8/12] e Rebbeca Shapiro [Huffington Post, 24/8/12].