Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Canais e anunciantes em busca do público latino

Sofia Vergara é, hoje, provavelmente a atriz hispânica mais famosa da TV americana. Uma das protagonistas do seriado cômico Modern Family, aclamado pelo público e pela crítica, ela já gravou comerciais para grandes marcas como Pepsi e Cover Girl. Mas apesar da popularidade do seriado e da popularidade de Sofia, Modern Family não faz tanto sucesso entre os hispânicos nos EUA – da audiência total de 12,9 milhões na última temporada, apenas 798 mil telespectadores, ou 6%, eram hispânicos.

O mesmo padrão é encontrado em seriados como Two and a Half Men, da CBS, com 611 mil telespectadores hispânicos em um total de 14,6 milhões de telespectadores; Grey’s Anatomy, da ABC, com 583 mil hispânicos em 10,9 milhões; e Glee, da Fox, com 518 mil de um total de 8,7 milhões.

Por trás dos números está um problema enfrentado por executivos e anunciantes dos canais em língua inglesa: eles querem desesperadamente chamar a atenção dos mais de 50 milhões de latinos que vivem nos EUA (cerca de ¾ deles falam espanhol). As emissoras americanas em inglês querem atrair principalmente os jovens bilíngues e biculturais, mas eles parecem querer muito pouco da TV americana em inglês. Na realidade, eles continuam a assistir a canais em espanhol. Em maio, no último episódio da temporada mais recente deModern Family, muito mais hispânicos estavam assistindo à telenovela La Que No Podía Amar, na Univisión, que teve audiência de 5,2 milhões de telespectadores. “Somos parte do grupo demográfico que mais cresce no país”, diz Randy Falco, executivo-chefe da Univisión. A empresa fez, recentemente, uma parceria com a ABC News, de propriedade da Walt Disney Company, para criar um canal de notícias 24 horas voltado ao público hispânico.

Estereótipos que não agradam

A questão, apontam críticos e telespectadores, é que ainda não há nos canais em língua inglesa um programa que lide com a cultura hispânica de modo a não ofender os latinos com estereótipos rudes. Na última temporada, a CBS acreditou que acertaria no tom multicultural com o programa Rob, com o comediante Rob Schneider. Baseado levemente na vida de Schneider, o programa mostrava suas experiências ao se casar com uma mexicana e os conflitos gerados com o casamento. Mas o conflito maior acabou acontecendo entre o programa e seu público-alvo.

Em um dos episódios, o personagem de Schneider diz à família da sua mulher, quando a encontra pela primeira vez: “Grande família. Agora eu sei o que acontece durante todas aquelas siestas”. Para Joe Zubizarreta, co-proprietário e diretor da agência de publicidade Zubi Advertising, houve um uso excessivo de estereótipos. “Entendo que o mercado em geral ache engraçado as idiossincrasias sobre hispânicos. Mas, como hispânicos, quando vemos TV, gostaríamos de ver algo parecido com nossas vidas”, resume.

Segundo Julio Ricardo Varela, fundador do site Latino Rebels, Rob virou uma piada na comunidade hispânica. Ele notou que uma promoção na página do Facebook convidava os fãs a atingir uma piñata virtual para poder conhecer o estúdio. Na mesma página havia imagens do elenco dançando conga. “Foi além do ridículo”, diz.

Segundo Nina Tassler, presidente da CBS, atingir o público hispânico é muito importante para a rede. Ela não comentou sobre Rob especificamente, mas o programa não terá uma segunda temporada. “A cultura é algo único, então encontrar o tom da narrativa que consegue se comunicar com uma grande parte da comunidade latina é obviamente algo que buscamos”.

Futuros projetos

Dentre as séries que estavam sendo desenvolvidas para a próxima temporada nas redes em inglês, uma chamou atenção por seu foco no estereótipo latino – Devious Maids, da ABC, que mostra empregadas domésticas trabalhando em Beverly Hills. O programa estava sendo produzido por Marc Cherry, do seriado Desperate Housewives, com base em uma novela em espanhol.

A ABC acertou em cheio há alguns anos, com dois programas respeitados pela comunidade latina: The George Lopez Show e Ugly Betty. Mas, em janeiro, um personagem do programa Work It disse que seria ótimo vendendo drogas por ser porto-riquenho. O programa foi cancelado após dois episódios por baixo índice de audiência. Também houve protestos em frente à emissora. Paul Lee, presidente da ABC, afirmou que a rede estava comprometida com a “diversidade”.

No mês passado, a News Corporation, proprietária da Fox, lançou o canal Mundo Fox, em espanhol. Trata-se de mais uma tentativa de conquistar este público tão desejado pelas redes e anunciantes. Informações de Tanzina veja e Bill Carter [The New York Times, 5/8/12].