Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O volume de tuítes dos eleitores pode não significar muito

Convém adicionar um dado à pilha de números usada, inclusive em previsões pelos colégios eleitorais, para calcular as oscilações dos candidatos às eleições americanas: os tuítes por minuto. Durante ambas as convenções dos principais partidos, a rede social estava contando os tuítes, tanto por minuto quanto sua quantidade total. No total, os democratas ficaram com mais do dobro de tuítes, enquanto por minuto superaram os republicanos por quase quatro vezes mais – e em cada convenção o volume de tuítes atingiu o seu máximo quando o candidato a presidente do partido concluiu o seu discurso. O mesmo processo será usado para avaliar o desempenho dos candidatos nos debates.

Se isto significa alguma coisa quanto ao resultado da eleição é uma questão em aberto. O uso do Twitter cresceu de uma forma dramática desde a última eleição presidencial, mas seus usuários continuam sendo em grande parte uma amostra distorcida do total de usuários da internet, os quais não representam o total de eleitores. E, também, uns poucos tuiteiros entusiasmados e produtivos podem adoçar os números. Assim como podem os tuítes de não-cidadãos interessados e os jovens com menos de 18 anos, que não podem votar. E os tuítes não precisam ser endossamentos; podem até zombar daquilo que descrevem.

Scott Keeter, diretor de pesquisas do centro de pesquisas Pew Research Center, em Washington, destaca que as análises do Twitter tenderam a exagerar o interesse e o apoio ao deputado Ron Paul, do Texas, quando concorria para ser o candidato republicano este ano. Os cálculos baseados em tuítes por minuto, por exemplo, são “mais válidos em nos dizer quando acontecem fatos que têm repercussão junto ao eleitorado do que em dizer-nos em que direção se dará esse impacto”, disse Keeter.

Número de pessoas no Twitter muda o tempo todo

Os tuítes por minuto são uma forma refinada de medidas que o Twitter já fez antes para mostrar um interesse intensificado entre seus usuários em determinados eventos. Até o início deste ano, um método típico que a empresa usava era o de revelar a quantidade de tuítes por segundo enquanto transcorria o evento – e comparar esse número com os números de uma atividade banal. Mas era difícil de controlar devido à influência de outros eventos à medida que o alcance global do Twitter crescia – a equipe compreendeu que o número “podia basear-se em qualquer outra coisa acontecendo no mundo”, disse Elaine Filadelfo, porta-voz do Twitter.

As Olimpíadas deste verão ajudaram a mudança na metodologia, uma vez que filtrar influências irrelevantes é mais difícil durante um evento de 17 dias que inclui competições e cerimônias durante a maior parte do dia. A equipe do Twitter, então, preparou termos e hashtags que sinalizavam que determinado tuíte era sobre os Jogos. Assim mesmo, alguns tuítes sobre as Olimpíadas se perderam. Elaine destaca que alguns tuítes poderiam dizer “isso é fantástico”, sem qualquer palavra relacionada às Olimpíadas. “Eles podiam estar se referindo ao fato de Michael Phelps ter ganho 18 medalhas, mas não temos condições de incluir todos os usos da palavra ‘fantástico’”, disse ela. “Ou as pessoas podiam tuitar ‘booooooooolt’ para Usain Bolt. Em grande parte, provavelmente estamos contando por baixo.” Mesmo que o Twitter esteja “contando para baixo”, o número de tuítes por minuto pode minimizar o número de pessoas ouvidas numa pesquisa acional, pois os pesquisadores apenas têm de ficar sentados contando os tuítes. Isso pode ser tentador para pessoas que queiram avaliar a opinião pública.

No entanto, um problema é que nem todas as pessoas estão no Twitter; o outro é que, entre aquelas que estão, nem todas tuítam. O número de pessoas no Twitter muda o tempo todo, dificultando comparações por tempo. Em novembro de 2010, o número de usuários da internet com idade entre 25 e 34 anos que usava o Twitter diariamente era ligeiramente maior (5%) do que o dos usuários da internet com idade entre 18 e 24 anos (4%), segundo uma pesquisa do Pew Research Center. Mas em fevereiro deste ano, o número de usuários mais jovens que usavam o Twitter diariamente era quase o dobro (20% a 11%).

Um índice de opinião

A base dos usuários do Twitter também está crescendo, o que significa que os recordes de tuítes por minuto serão quebrados o tempo todo. O crescimento em índices de tuítes sobre eventos políticos pode refletir que “mais fácil passar um tuíte do smartphone de alguém, o que não tem nada a ver com a opinião política do público neste ano ou no ano passado”, disse Michael Wu, principal cientista da Lithium Technologies Inc., que monitora critérios nas mídias sociais. O envio de tuítes também pode não ser o melhor indicador de envolvimento, disse Wu. Um usuário do Twitter tão entusiasmado, por exemplo, com o discurso do presidente Barack Obama na convenção e que não está tuitando “está, na realidade, muito envolvido com o discurso de Obama, provavelmente muito mais profundamente envolvido do que aqueles que estão ocupados tuitando”, disse Wu.

Os analistas do Twitter estão preocupados com a necessidade de mais de uma forma de medição, disse Elaine Filadelfo. Quando, num jogo da National Football League (Liga Nacional de Futubol Americano) de segunda-feira passada (24/9), revoltados com a derrota, os fãs do Green Bay Packers soltaram tuítes furiosos, o Twitter divulgou o número total de tuítes, e não o índice por minuto, pois a reação online deu-se gradualmente.

E para a eleição a empresa está tentando um índice de opinião – que revele, por exemplo, que a opinião do Twitter sobre Obama era ligeiramente superior àquela de Mitt Romney na sexta-feira, 26 a 22. A vantagem de Obama no último dia da convenção democrata era de 52 a 9. Informações de Carl Bialik [Wall Street Journal, 28/9/12].