Pelo segundo ano consecutivo, o magnata Rupert Murdoch enfrentou críticas de acionistas da News Corporation durante o encontro anual do grupo – e, mais uma vez, as propostas de mudanças administrativas foram derrubadas. O resultado não foi tão surpreendente porque a família Murdoch controla quase 40% das ações com direito a voto.
No encontro, realizado na semana passada no estúdio da Fox em Los Angeles, todos os 14 membros propostos para a diretoria foram eleitos. O grupo derrotou, ainda, os esforços para eliminar a dupla estrutura da News Corporation, que garante à família Murdoch o controle, e também a exigência de que seu presidente seja independente. Murdoch, de 81 anos, é ao mesmo tempo presidente e principal executivo do conglomerado de mídia e entretenimento de 59 bilhões de dólares (cerca de R$ 118 bilhões).
Protestos semelhantes foram crescentes no ano passado, depois que um escândalo dos grampos telefônicos abalou a empresa, provocando o fechamento do tabloide britânico News of the World, de 168 anos, e resultando na detenção de dúzias de pessoas. Assim como no ano passado, as queixas de grandes investidores não conseguiram superar o bloqueio da família Murdoch. Em suas observações de abertura, Murdoch falou em tom de lamentação sobre os esforços da empresa para enfrentar as consequências do escândalo dos telefones grampeados. “Tivemos que dar duro para consertar as coisas”, disse. “Muito duro.”
Votos de protesto
Murdoch descreveu as novas medidas de cooperação da empresa e destacou que no mês passado, a Ofcom, órgão regulador da mídia no Reino Unido, considerou a British Sky Broadcasting – da qual a News Corporation detém 39% – em “perfeitas condições” de obter uma licença para funcionar. Disse ainda que detalhes sobre a planejada separação da News Corporation em duas empresas – uma para os setores de mídia e publicações e a outra para entretenimento, mais lucrativa – poderiam ser revelados no final do ano.
Várias pessoas, representando grandes acionistas, foram francamente críticas quanto à administração. Julie Tanner, diretora-assistente da Christian Brothers Investment Services, defendeu, como já fizera no ano passado, que a empresa deveria eleger um presidente independente. “A falta de controles internos na empresa teve repercussões sérias e prolongadas”, disse. “Isso resultou no fechamento de um jornal, em investigações criminais, no cancelamento da compra da BSkyB, na corrosão da confiança do público e manchou a reputação da empresa.”
Outros investidores, inclusive dois grandes fundos de pensão da Califórnia – a California Public Employees’ Retirement System, ou Calpers, e a California State Teachers’ Retirement System, ou Calstrs – fizeram constar seus votos de protesto ao não apoiarem a reeleição de toda a diretoria, cujos membros incluem Murdoch e dois filhos, Lachlan e James. O número de votos, registrado junto à Securities and Exchange Commission [a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA] na terça-feira (16/10), mostra que os filhos de Murdoch tiveram bastantes votos negativos, mas ganharam a reeleição por margem superior à que haviam obtido no ano passado.
O êxito financeiro da News Corp.
Foram eleitos dois novos diretores: Elaine L. Chao, ex-secretária do Trabalho no governo de George W. Bush, e Álvaro Uribe, ex-presidente da Colômbia. A nomeação de Uribe foi criticada porque o serviço secreto, sob seu controle, foi acusado de grampear ilegalmente jornalistas e advogados de direitos humanos, entre outros.
Entre as outras questões que Murdoch descartou estava um pedido de incluir mais comentários de esquerda na página editorial do Wall Street Journal, propriedade da News Corporation. “Não interferimos com a página editorial”, disse ele. Talvez antecipando objeções, Murdoch destacou o êxito financeiro da empresa. Suas ações subiram 45% em relação ao ano passado e fecharam na terça-feira (16/10) com um aumento de 1,7%, em US$ 24,77 (cerca de R$ 50). Informações de Ben Sisario [New York Times, 17/10/12] e daThe Economist [20/10/12].
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