O fato de que o Fórum Econômico Mundial, realizado na cidade suíça de Davos desde 1971, consiga tirar 2,6 mil profissionais de seus países sem saber precisamente a razão da ida ao local é uma façanha. Qualquer evento que cobre US$ 23 mil por assento (em torno de R$ 46 mil) tem algo a ensinar aos rivais.
A revista de negócios Quartz revelou na semana passada a lista “confidencial” dos participantes, reforçando a ideia de que 0,1% não está lá por boas razões. “Permite que banqueiros ou pessoas do setor se encontrem e façam acordos que não poderiam estar fazendo legalmente em seus escritórios”, disse Richard Saul Wurman, fundador das conferências Ted.
Mas por que viajar até Davos para, por exemplo, estabelecer preços? A maior parte das pessoas no fórum gasta seus dias debatendo responsabilidade social corporativa e economia global, e suas noites encontrando-se para beber e comer. O fórum não é uma conspiração, é “infotainment”, ou seja, entretenimento mesclado às notícias.
Klaus Schwab, fundador do evento, apresenta-se como uma alma exultante cuja missão é promover a compreensão entre os políticos e o setor privado. Segundo ele, a agenda desse ano é “olhar para o futuro de uma maneira muito mais positiva, construtiva e dinâmica, ganhando a resiliência para se adaptar a contextos mutáveis”.
Fórmula de sucesso
Schwab também é um empreendedor sagaz que fundou um negócio que é modelo para outros, de redes sociais incluindo Facebook e Twitter a empresas de mídia tradicionais que desejam cobrar por conteúdo. Ele administra uma rede com grande margens de lucro e crescimento. Davos tem “dinamismo resiliente”.
A fórmula é, em primeiro lugar, o fato de o fórum ser sério – seus participantes discutem tópicos importantes e analisam o estado do mundo. Eles escutam desde formadores de políticas e economistas. “Davos é uma fábrica na qual a sabedoria convencional é fabricada”, opinou David Rothkopf, autor da Power Inc. Isso faz diferença porque é uma operação empresarial – poucas pessoas compram seus próprios ingressos para o fórum. A taxa é paga por organizações que querem ter garantia de que o evento vale a pena ou ao menos justifique os gastos, caso alguém pergunte.
Em segundo lugar, é ao vivo. Empresas de mídia e de entretenimento chegaram à conclusão do valor de eventos ao vivo. Encontrar especialistas, ver suas reações, perguntar a eles, talvez até conversar em um bar, é uma experiência mais engajadora do que ler seus textos ou vê-los na TV. Além disso, é cheio de performances. Dentre os participantes estão também cientistas e artistas que falam sobre seus campos.
Em terceiro lugar, é um clube. A entrada é altamente restrita e mexe com a vaidade dos convidados ou daqueles que recebem autorização para participar. Nesse sentido, assemelha-se a uma rede social online. O Facebook e o Twitter são livres para uso e têm uma massiva participação, comparado com Davos, mas eles compartilham o atributo atraente da não necessidade de pagar pelo conteúdo. Na verdade, muitas empresas tornam-se patrocinadoras para colocar pessoas nos paineis em Davos.
Combinação potente
Convidados estrelas, membros empresariais, contato pessoal e estímulo intelectual fazem uma combinação potente. O efeito de rede é difícil de quebrar, mesmo com contratempos como protestos antiglobalização nos anos 90. Que grupo de mídia não gostaria de ser dono de um evento como esse? Muitos já promovem conferências e outros estão buscando formas de obter outras receitas além da publicidade. Mas é difícil replicar o que Schwab fez. As conferências empresariais de alto nível tem a figura de um empresário no seu âmago – como Chris Anderson na Ted, Herb Allen na conferência de mídia da Sun Valley, Yossi Vardi na DLD e Schwab no Fórum.