Ex-ombudsmans doWashington Post estão criticando a intenção do jornal de eliminar o cargo de representante dos leitores. Eles defendem o propósito vital do posto como o único meio de comunicação independente entre leitores e a redação. O diário mantém o cargo de ombudsman por um termo definido desde 1970 – é a posição mais longa em um grande jornal americano.
Atualmente, o cargo é ocupado por Patrick Pexton, cujo termo termina no dia 1º de março. “Não decidimos o que faremos quando Pat sair”, explicou Fred Hiatt, editor de páginas editoriais do Post. “Acho que é importante que o Post continue a oferecer aos leitores um modo para fazer perguntas ou reclamações e terem certeza de que serão ouvidos. Não estou certo de que ter um ombudsman cujo foco primário é escrever uma coluna semanal é o melhor caminho para se chegar a esse objetivo”.
O ombudsman tem liberdade editorial e pode criticar livremente o trabalho do jornal – o que pode incluir conflitos de interesse na equipe, linguagem ofensiva dos repórteres e falhas na apuração. “Se Hiatt considera a coluna semanal um problema, há possibilidades de ajustes que podem ser feitas para manter o cargo”, opinou Geneva Overholser, ombudsman de 1995 a 1998.
Liberdade para criticar
Para Andrew Alexander, antecessor de Pexton, eliminar o cargo seria uma perda terrível para os leitores. “Tenho receio de que seria amplamente interpretado, de maneira justa ou não, como o Post usando pressões financeiras ou outras razões como uma desculpa para se livrar da crítica interna”, disparou ele, que atualmente trabalha na Escola de Jornalismo E.W. Scripps, da Universidade de Ohio. “O papel vem sendo dar aos leitoers acesso a um agente independente com poderes para investigar acusações de que o Post não atingiu os seus altos padrões jornalísticos. Certamente, o papel do ombudsman deve evoluir na era digital. Faz sentido continuar a usar novas plataformas para interagir com os leitores. Mas há uma grande diferença entre um ombudsman que meramente reflete o que os leitores estão dizendo e o que tem independência e autoridade para fazer perguntas desconfortáveis a repórteres e editores”.
Michael Getler, que ocupou o cargo de 2000 a 2005 e é o atual ombudsman da PBS, espera que o Post mantenha o posto. “O Post, em especial, vem sendo o padrão de ouro para esse cargo há mais de 40 anos, em termos de dar independência verdadeira para que o ombudsman lide com questões de preocupação editorial e faça com que o jornal mantenha seus altos padrões”.
Grande erro
Na opinião de Ben Bagdikian, ex-reitor da Escola de Jornalismo da Universidade da Califórnia que foi ombudsman do Post em 1972, o fim do posto de ombudsman seria uma decisão desastrosa. “O ombudsman não é apenas uma função útil; acho que mais pessoas leem a crítica do que a notícia em si. Se você comete um erro ou as pessoas acham que você o fez, você pode explicar a elas e aumentar a confiança no jornal e elas sabem que o jornal está ouvindo os leitores”, afirmou.
Jeffrey Dvorkin, ex-ombudsman da NPR e diretor-executivo da Organização de Ombusmen de Notícias, acredita que o jornal estaria dando um passo atrás se eliminasse o cargo. “O Post tem uma tradição longa e gloriosa de grandes ombudsmen, e quebrar essa conexão seria um erro”, disse.
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