Outro dia, na revista Slate, Matthew Yglesias dizia que os consumidores de jornalismo estão gozando de “anos dourados”. Bem, de certa forma – precisamente da mesma maneira que os saqueadores gozam de um padrão de vida melhorado. O problema é que só continua melhorado até esvaziar o estoque.
A nova indústria passou de uma situação de lucros obscenos a uma situação ligeiramente lucrativa e – pelo menos, no caso dos jornais – a uma situação amplamente deficitária. Todo aquele conteúdo fantástico de que falava Yglesias é pago por empresas de capital de risco que fizeram a aposta errada, conhecidas empresas de mídia que fuçam em sua poupança para pagar contas, trabalhadores em busca de emprego que ganham uma miséria, amadores, semiprofissionais, voluntários e monges. Eu diria que o modelo de negócios é insustentável, mas perder dinheiro não é um modelo de negócios. É um modelo de perder os negócios.
Aqueles consumidores que usam alegremente a internet para mostrar conteúdo do mundo todo via novos websites, blogs e mecanismos agregadores escolhem, essencialmente, um inventário virgem. Ah, e quando chegam com as coisas em casa, as mercadorias não são mais o que eram. E parte delas tem um cheiro azedo.
Integridade editorial
Bem-vindo à Economia do Jornalismo 101.
Eis aqui tudo o que você precisa saber. Os anúncios classificados lucrativos desapareceram graças à Craigslist e o custo dos anúncios de exposição online são baixíssimos. E isso se deve à maldita lei da oferta e demanda: existe uma porção infinita de conteúdo online e, portanto, uma quantidade infinita de inventários de publicidade e, portanto, os preços são inexoravelmente puxados para baixo.
A consequente receita não sustenta organizações de mídia sólidas. A receita nem sustenta organizações de mídia fracas. O que significa que uma porção de gente esperta e desesperada vem procurando dinheiro, de maneira esperta e desesperada, em outros lugares. Até agora, o resultado tem sido pífio.
Por onde começar? Temos o cancelado programa de encontros do Washington Post, cobrando das pessoas pelo acesso a repórteres – e formadores de políticas – em jantares em off. Temos o fracasso da publicidade nativa na The Atlantic – um sopro publicitário para a Cientologia publicado de uma maneira que parecia um editorial sobre Cientologia. E temos a onda de pagar: pay-per-post, pay-per-tweet, pay-per-review – e a prima deles, a publicidade associada, que incentiva blogueiros e tuiteiros a levarem os leitores a fazer uma transação. Nas emissoras de TV, temos um seriado incestuoso entre as novas divisões e as divisões de entretenimento, e na TV local, releases de informações em vídeo camufladas como reportagem.
No entanto, nenhum desses truques está de saída. Pelo contrário, estão crescendo. O que é assustador, pois uma coisa que todos eles têm em comum, de uma maneira ou de outra, é comprometer a integridade editorial. Leitores e espectadores não têm como saber que são vítimas de marketing, ou que o conteúdo, de forma inerente, não é confiável.
A última palavra
Alguém poderia dizer “Ah, as revistas! Essa indústria sempre foi um bordel.” O que é verdade – embora excetuando os segmentos de informação e de políticas públicas. E alguém poderia dizer: “A TV estava se prostituindo para audiências muito antes de alguém ter pronunciado as palavras ‘isca do clique’.” O que também é verdade.
O problema é que é cada vez menos útil separar estas indústrias pelo meio. O texto, o áudio e o vídeo estão rapidamente convergindo. À medida que as marcas do jornalismo se parecem crescentemente mais uma com a outra, vemos sinais inequívocos dos publishers caminhando encurvados rumo a um mínimo denominador comum da ética.
Alguém que se preocupe, em profundidade, com um jornalismo de qualidade e independente, deveria rezar para que paywalls e outros modelos de assinaturas prevaleçam. Isso porque no mundo dos espertos e dos desesperados, os desesperados sempre ficam com a última palavra.