No mês passado, o holandês Rob Wijnberg, ex-editor-chefe do jornal nrc.next, voltado ao público jovem, propôs uma nova ideia de jornalismo online na rede nacional de TV do país. Wijnberg queria conquistar 15 mil pessoas dispostas a pagar 60 euros pela assinatura de um veículo jornalístico que ainda não existe.
Não era uma tarefa fácil, mas, em 24 horas, sua equipe conseguiu metade do dinheiro. Em apenas uma semana, o projeto De Correspondentangariou um milhão de euros via financiamento coletivo. O projeto é impressionante não só pela quantia coletada, mas justamente pela incerteza. “E isso por um bom motivo: ainda não sabemos como ele será”, diz Wijnberg, “porque nós realmente queremos criar algo novo”.
O que se sabe é que De Correspondent promete romper com o ciclo jornalístico ao focar no contexto das notícias, não apenas no que aconteceu nas últimas 24 horas. Correspondentes individuais, muitos deles famosos ou semi-famosos na Holanda, serão os “guias”, decidindo explicitamente as pautas que serão exploradas.
Um dos correspondentes, por exemplo, é conhecido por uma série de televisão sobre a Rússia e a Índia. Seu trabalho será estudar um local da Holanda por mês. “Pode ser um lugar de onde o circo da notícia já saiu, mas também pode ser um lugar onde algo interessante está acontecendo de maneira lenta o suficiente para não aparecer nos jornais”, explica Wijnberg.
Manifesto
Para se ter uma ideia do que a publicação pode vir a ser, foi produzido um manifesto de 10 itens: “Diário, mas além das pautas do dia”; “Da notícia para o novo”; “Sem ideologia política, mas com ideais jornalísticos”; “Temas e conexões”; “Jornalismo em vez de receita”; “De leitores a participantes”; “Sem publicidade, mas com parceiros”; “Sem público alvo, com almas gêmeas”; “Ambicioso em ideal, modesto sobre sabedoria”; “Totalmente digital”.
O De Correspondent será apenas digital, o que Joris Luyendijik, consultor do projeto, vê como uma oportunidade de se livrar do DNA existente do jornalismo tradicional: “Os gêneros jornalísticos atuais foram moldados pelas restrições dos impressos e de transmissão. Se as outras indústrias fossem tão lentas em inovação, nós jornalistas seríamos críticos disso”.
O conceito de Wijnberg não surgiu do nada. Em setembro, ele foi demitido do jornal em que trabalhava após a direção do veículo decidir tornar as pautas “mais atuais”. Depois da demissão, ele escreveu um livro sobre o atual estado da mídia, que oferece um contexto para o projeto do De Correspondent: “Não acredito em ‘notícias’, no senso objetivo da palavra. Você pode descrever o mundo de infinitas maneiras, e as ‘notícias’ são apenas uma delas”. Ele também adiciona: “Quero que os correspondentes tomem suas decisões explicitamente, o que acham importante, por que seus leitores deveriam se interessar por tal matéria. Você faz isso ao deixar claro que não está seguindo a agenda dos jornais, mas está em uma jornada subjetiva no mundo”.
Parcerias e doações
Com planos tão ambiciosos, Wijnberg é realista sobre seu financiamento. “Para a prática do bom jornalismo, isso é só o começo”, diz. Além do financiamento coletivo, outra estratégia é formar acordos, desde produções conjuntas, ao uso de fundações ou doações. Mas com uma condição: “nós queremos colocar os termos da parceria na Internet, para que nossos leitores possam ver que o conteúdo é independente das organizações com que trabalhamos”.
Além da obscuridade do projeto, outro ponto de crítica é que os correspondentes do jornal seriam um grupo de celebridades no ramo. Dentre eles estão um antigo líder do Partido Verde holandês, um reconhecido romancista e vários jornalistas que aparecem na TV regularmente. A crítica irritou Luyendijk: “Se você diz ‘ei, dê 60 euros para sete desconhecidos’, isso não irá funcionar. Além disso, as outras pessoas do projeto não poderiam se comprometer sem ter certeza sobre o financiamento”.
Até o início desta semana, o projeto já contava com mais de 18 mil assinantes.