No dia 11 de março de 2011, o Japão sofreu um enorme terremoto, seguido por uma tsunami. Logo depois, a tragédia cresceu com explosões na usina nuclear de Fukushima. No total, 25 mil pessoas morreram ou desapareceram. Dois anos depois, 310 mil pessoas evacuadas das cidades próximas à usina continuam incapazes de retornar a seus lares. O desastre atordoou toda a nação, inclusive seus jornalistas.
Sem muito tempo e conhecimento o suficiente sobre desastres do tipo, os repórteres japoneses correram para saber o que o governo, burocratas, acadêmicos e a companhia japonesa de energia elétrica diria ao público. Quando o governo e a empresa cederam apenas fatos parciais ou fato nenhum, a credibilidade da imprensa foi derrubada. “Em vez de tentar descobrir a verdade, a mídia virou a máquina de relações públicas do poder”, diz Yasuo Onuki, jornalista e ex-produtor executivo da emissora pública japonesa, a NHK.
No dia 26 de março de 2011, duas semanas depois do desastre, Katsunobu Sakurai, prefeito de Minami Soma, cidade na região de Fukushima, apareceu em um vídeo no Youtube. “Nós estamos isolados”, disse ele, utlizando uma vestimenta de emergência. Apesar do governo pedir a evacuação dos residentes, cerca de 20 mil pessoas ainda viviam na cidade. A falta de abastecimento e as informações insuficientes foram problemas graves.
Falando em japonês, mas com legendas em inglês, Sakurai falou para o mundo: “Se a mídia não vier até essa área e extrair informações diretas, nunca saberá qual é a real situação dos residentes. Nós insistimos que venham aqui testemunhar o que está acontecendo”.
Yasuharo Dando, ex jornalista do jornal Asahi Shimbun, registrou a covardia da imprensa em seu blog. Segundo ele, um funcionário do jornal instruiu os correspondentes a manter uma distância de 30 quilometros da região e reportar no interior de edifícios. Na época, a região de evacuação delimitada pelo governo era somente de 20 quilometros da usina.
Uma curiosidade é que uma pesquisa de 2011 mostrou que 75% dos japoneses consideraram boa a cobertura do terremoto. No entanto, quando perguntados sobre a cobertura do acidente nuclear, apenas 39,4% dos entrevistados a acharam satisfatória.
A nova mídia
Quando as pessoas queriam saber além das reportagens limitadas da grande mídia, voltavam-se para a Internet e encontravam opiniões de especialistas estrangeiros. O Twitter ganhou um status maior, tornando-se um veículo útil para a divulgação de informações, apesar de também divulgar dados imprecisos.
O BLOGOS, site similar ao Huffington Post, em que 700 blogueiros escrevem sobre seus campos de conhecimentos, tornou-se um dos destinos para pais preocupados com a segurança de seus filhos diante da radiação.
O desastre também apresentou uma oportunidade para freelancers, que escreveram diversas reportagens nos lugares afetados, sem as regras restritivas da grande mídia.
Em janeiro, Shigeyuki Koide começou atividades que descreve como “mídia média”, voltada para leitores e audiências específicas. Em seu primeiro simpósio, convidou doutores e pais da região de Fukushima para conversar sobre os perigos de câncer de tireóide nas crianças em áreas afetadas pela radiação.
O correspodente de Tóquio para o jornal britânico The Guardian, Justin McCurry, alerta para o perigo da mídia perder a vista dos fatos à medida que o tempo passa. McCurry visitou Fukushima no mês passado e o maior temor dos seus residentes era de que a imprensa japonesa não se interesse mais pela região. “Muitas das pessoas que conheci falaram que o assunto depende da mídia internacional para se manter aceso”, disse o jornalista.