Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Irmãos Koch avaliam compra de jornais do grupo Tribune

Há três anos, os irmãos bilionários Charles e David Koch, empresários industriais e apoiadores de causas libertárias, realizaram um seminário com doadores políticos com ideias afins em Aspen, estado do Colorado. Apresentaram, numa estratégia de dez anos, três vertentes para mudar o país rumo a um governo menor com menos regulamentos e impostos.

As duas primeiras vertentes da estratégia – ativistas de organizações de base educacionais e políticas de influência – não surpreenderam, considerando o volume de dinheiro que eles já deram para institutos geradores de políticas e grupos de ação política. Mas a terceira surpreendeu: a mídia.

Com exceção do financiamento de umas poucas publicações libertárias marginais, os irmãos Koch quase sempre evitaram investimentos em organizações de mídia. Agora, a Koch Industries, a imensa empresa privada da qual Charles G. Koch é presidente e principal executivo, está avaliando a possibilidade de comprar os oito jornais regionais do grupo Tribune Company, que inclui Los Angeles Times, Chicago Tribune, Baltimore Sun, Orlando Sentinel e Hartford Courant.

“Como garantir que nossa voz seja ouvida?”

No início de maio, o grupo Tribune deverá enviar dados financeiros a todos os pretendentes sérios àquela que será uma das maiores vendas de jornais em circulação nos EUA. A Koch Industries está entre os interessados, segundo várias pessoas com acesso direto à venda e que falaram na condição de não serem nominalmente citadas. O grupo Tribune saiu da falência em 31 de dezembro de 2012 e contratou os bancos JP Morgan Chase e Evercore Partners para vender seus jornais impressos. Avaliados em aproximadamente 623 milhões de dólares (cerca de R$ 1,25 bilhão), os jornais representariam uma operação financeira insignificante para a Koch Industries, um conglomerado de energia e manufatura com sede em Wichita, estado do Kansas, com receita anual da ordem de 115 bilhões de dólares (cerca de R$ 230 bilhões).

Politicamente, no entanto, os jornais poderiam servir como uma plataforma mais ampla para as ideias liberais dos irmãos Koch. The Los Angeles Times é o quarto maior jornal do país e o Chicago Tribune é o nono. Entre os outros, dois estão entre os maiores jornais do estado da Flórida – The Orlando Sentinel e The Sun Sentinel, em Fort Lauderdale. Um acordo poderia incluir no negócio o jornal Hoy, o segundo maior diário em língua espanhola.

Uma pessoa que participou do seminário em Aspen, falando na condição de anonimato, descreveu a estratégia da seguinte forma: “Nunca era ‘Como iremos destruir o outro lado?’, e sim, ‘Como iremos garantir que nossa voz seja ouvida?’” Entre os convidados presentes ao seminário de Aspen estavam Philip F. Anschutz, o republicano magnata do petróleo que é dono das empresas que publicam The Washington Examiner, The Oklahoman e The Weekly Standard , e o executivo de hedge fund Paul E. Singer, que faz parte da diretoria da revista política Commentary. Foi pedido aos participantes que não discutissem detalhes do seminário com a imprensa.

Empresa diz não ter ligação com Tea Party

Uma pessoa que participou de outros seminários da Koch Industries, que vêm sendo realizados desde 2003, disse que Charles e David Koch nunca disseram que queriam comprar jornais ou outros grandes veículos de mídia, mas muitas vezes dizem que consideram “a voz conservadora mal representada”. Os irmãos Koch pretendem fazer outra conferência no fim deste mês, em Palm Springs, estado da Califórnia.

De momento, segundo pessoas próximas ao negócio, dentro do grupo Tribune o que se pensa é que a Koch Industries poderia ser o comprador mais atraente. Outros interessados – um grupo de ricos moradores de Los Angeles liderado pelo bilionário Eli Briad e Ronald W. Burkle, destacados doadores democratas, e a News Corporation, de Rupert Murdoch – prefeririam comprar somente o Los Angeles Times. O grupo Tribune avisou que prefere vender os oito jornais e as operações encarregadas da parte administrativa como um pacote. (O grupo Tribune, com valor de 7 bilhões de dólares [cerca de R$ 14 bilhões], também possui 23 estações de televisão e poderia decidir manter os jornais, caso estes não consigam uma oferta suficientemente atraente.)

A Koch Industries é uma das maiores patrocinadoras de causas libertárias – o que inclui o financiamento de grupos políticos como o Instituto Cato, em Washington, e a formação de Americanos para a Prosperidade, o grupo de ação política que ajudou a galvanizar organizações do Tea Party e suas causas. A empresa disse não ter ligação direta com o Tea Party.

“Não fazemos comentários”

Este mês, um representante dos irmãos Koch entrou em contato com Eddy W. Hartenstein, publisher e principal executivo do Los Angeles Times, para discutir uma oferta, segundo uma pessoa que falou na condição de anonimato porque a conversa era privada. Hartenstein não quis comentar.

A Koch Industries trouxe recentemente Angela Redding, uma consultora de Salt Lake City, para analisar o ambiente de mídia e assessorar oportunidades. Angela, que antes trabalhou na Fundação de Caridade Charles G. Koch, não respondeu aos pedidos de entrevista.

“Enquanto empresa com 60 mil funcionários pelo mundo todo, estamos constantemente aproveitando oportunidades lucrativas em muitas indústrias e setores. Portanto, é natural que nosso nome tenha surgido vinculado a esse boato”, disse Melissa Cohlmia, porta-voz do setor público das empresas Koch, numa declaração dada no mês passado. “Respeitamos a independência das instituições jornalísticas citadas nos noticiários”, continuou Melissa, “mas é nossa política, há muito tempo, não fazer comentários sobre acordos ou boatos de acordos que podemos ou não estar buscando.”

Quando uma imprensa livre é uma imprensa que foi comprada

Uma pessoa que anteriormente assessorou a Koch Industries disse que os jornais do grupo Tribune eram considerados uma oportunidade de investimento e inteiramente separados da missão de Charles e David Koch de enxugar o tamanho do governo.

Pelo menos na cidade politicamente liberal de Los Angeles, um jornal conservador poderia ser difícil. David H. Koch, que vive em Nova York e é vice-presidente executivo da Koch Industries, disse, segundo o consultor republicano Reed Galen, de Orange County, estado da Califórnia, que apoia o casamento gay e poderia buscar um apoio para algumas questões sociais.

O principal concorrente da Koch Industries para a compra do Los Angeles Times é um grupo composto majoritariamente por democratas residentes na cidade. No ciclo político de 2012, Broad doou 477.800 dólares (cerca de R$ 950 mil) aos candidatos e causas democratas, diretamente ou através de sua fundação, segundo o Center for Responsive Politics. Burkle é, há muito tempo, defensor dos sindicatos. O presidente Bill Clinton foi consultor da empresa financeira de Burkle, Yucaipa Companies, que em 2012 doou 107.500 dólares (cerca de R$ 215 mil) ao partido e às causas democratas. Também faz parte do grupo Austin Beutner, candidato a prefeito de Los Angeles pelo Partido Democrata e co-fundador do banco de investimentos Evercore Partners. “Vai ser um grupo bipartidário”, disse Beutner. “Não se trata de ideologia, mas de interesse cívico.” (O consórcio de Los Angeles poderá ainda incluir o republicano Andrew Cherng, fundador da rede de restaurantes chineses Panda Express.) “É assustador quando uma imprensa livre é, na verdade, uma imprensa que foi comprada e isso pode acontecer para qualquer dos lados”, disse Ellen Miller, diretora-executiva da Sunlight Foundation, um grupo de vigilância não-partidário.

Passo seguinte

No mês passado, pouco depois do L.A. Weekly divulgar em primeira mão o interesse da Koch Industries nos jornais do grupo Tribune, o website Daily Kos e o Courage Campaign, um grupo liberal de advocacia sediado em Los Angeles, coletaram milhares de assinaturas em protesto contra o acordo. Ao mesmo tempo, os conservadores recebiam com satisfação a ideia de uma meia dúzia de jornais importantes disseminando as ideias de “liberdade” econômica de impostos e regulamentos que os irmãos Koch vêm defendendo.

Seton Motley, presidente da Less Government [Menos Governo], uma organização dedicada ao enxugamento do papel do governo na sociedade, disse que a eleição de 2012 reforçou a ideia de que os conservadores precisam de uma maior presença na mídia. “Uma piada que rola entre os conservadores, quando assistem ao partido gastar 500 milhões de dólares (cerca de R$ 1 bilhão) nos anúncios ineficazes da TV, é: ‘Por que não se compra a NBC?’”, disse Motley. “É bom saber que os irmãos Koch estão falando em lutar contra o fogo com um pouco de fogo.”

Há anos que a Koch Industries acha que a grande mídia faz uma cobertura injusta da empresa e da família que a fundou devido a suas crenças políticas. KochFacts.com, um site mantido pela empresa, questiona incorreções cometidas pela imprensa. O site, que diz haver parcialidade liberal nos noticiários, já publicou conversas privadas, por e-mail, entre assessores de imprensa da empresa e jornalistas – um deles, Kenneth P. Vogel, repórter do Politico – e editores – da revista New Yorker, em resposta a um artigo de Jane Mayer sobre os irmãos Koch. “Até agora, não pareceram particularmente entusiásticos com o papel da imprensa livre”, diz Jane Mayer num e-mail, “mas esperamos que, caso se tornem publishers de um jornal, abracem essa causa com um pouco mais de entusiasmo.”

Um militante democrata que preferiu ficar anônimo disse que achava admirável como, ao longo das décadas, os irmãos Koch consolidaram uma complexa infraestrutura política que apoia sua agenda. Logicamente, o passo seguinte seria uma organização de mídia. E acrescentou: “Se alguém malicioso da imprensa disser que Darth Vader está comprando o grupo Tribune, eles estão pouco ligando.”