O Ministério do Interior do Paquistão ordenou a expulsão do chefe da sucursal do New York Times em Islamabad, Declan Walsh, às vésperas das eleições parlamentares, realizadas no sábado (11/5). Até o momento em que este texto foi escrito, as informações davam conta de que o pleito havia sido vencido pelo partido do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, derrubado por um golpe militar em 1999 – na ocasião, Sharif foi preso e posteriormente seguiu para o exílio na Arábia Saudita, voltando ao Paquistão em 2007. Walsh foi obrigado a deixar o país ainda no sábado. Em sua conta no Twitter, ele postou uma foto do aeroporto com a mensagem “Aqui vou eu. Difícil acreditar que isto está acontecendo”.
O governo não deu explicações para a ordem de expulsão, que foi entregue por policiais por meio de uma carta, na semana passada. Walsh recebeu um telefonema de um número desconhecido aconselhando-o a ir para casa imediatamente. Quando chegou lá, alguns policiais de uniforme e um à paisana o esperavam do lado de fora, para entregar a carta e pedir que ele assinasse o recebimento. O documento informava que seu visto seria cancelado devido a “atividades indesejáveis” e que ele deveria sair do país em 72 horas. Dessa maneira, Walsh não estaria no Paquistão na noite das eleições, a primeira na história do país na qual um governo eleito por civis completa seu mandato e entrega o poder para outro governo eleito.
Veterano
Walsh, de 39 anos, mora no Paquistão há nove anos, a maior parte deles trabalhando para o jornal britânico The Guardian. Ele foi contratado pelo NYTimes em janeiro de 2012 e vem escrevendo intensamente sobre os protestos políticos violentos no país, a insurgência islâmica e as relações algumas vezes tensas com os EUA, que está liderando ataques de drones (aviões não tripulados) nas áreas de fronteira com o Afeganistão.
Jill Abramson, editora-executiva do diário americano, expressou preocupações sobre a ordem e enviou uma carta de protesto ao ministro do Interior do Paquistão, Malik Muhammad Habib Khan, descrevendo Walsh como “um repórter íntegro que sempre ofereceu uma cobertura equilibrada e objetiva”. Ela pediu ao ministro para regularizar o visto do jornalista. “As acusações sobre atividades indesejáveis são vagas e não justificadas e Walsh não recebeu explicações de supostas más ações”, escreveu ela, acrescentando que o momento em que a ordem foi emitida foi uma surpresa, às vesperas das eleições, que são vistas como um marco democrático importante para o Paquistão. “A expulsão de um jornalista estabelecido no país, no dia da votação, contradiz essa impressão”.
Violência
O período que antecedeu as eleições foi particularmente violento, com ataques suicidas e outros que prejudicaram a campanha de diversos partidos. O Talibã paquistanês e outros grupos extremistas ameaçaram muitos candidatos, especialmente membros dos partidos liberal e secular. Na semana passada, homens armados não identificados sequestraram um candidato que é filho do ex-primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani.
Grupos de defesa da liberdade de expressão afirmaram estar indignados com a expulsão, ressaltando que ela reforçou a reputação do Paquistão com um dos países mais inóspitos para jornalistas. “A expulsão de Declan Walsh mostra o quanto as autoridades temem a cobertura independente”, disse Bob Dietz, coordenador na Ásia do Comitê para a Proteção dos Jornalistas. Segundo a Repórteres Sem Fronteiras, o Paquistão é o país mais letal para jornalistas desde o começo de 2013, com seis mortes relacionadas ao trabalho. Além disso, autoridades falharam em condenar suspeitos de 23 assassinatos de jornalistas ao longo da última década.