Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A cobertura do tornado mostra que TVs locais ainda são poderosas

As melhores imagens da cobertura do tornado na cidade de Moore, em Oklahoma, vieram das emissoras de TV local, mesmo com todo o equipamento caro e sofisticado das grandes emissoras. John Welshm da KFOR, afiliada da NBC, olhava o cenário do helicóptero e repetia a palavra “já era”, quando percebia que muitos lugares haviam sido devastados. A KWTV, afiliada da CBS, tinha um helicóptero sobrevoando a cidade menos de 15 minutos depois de o tornado ter passado pelo local.

Duas das cenas mais memoráveis vieram do repórter da KFOR, Lance West, chorando desesperado ao telefone quando passava pela escola e de novo pelas ruínas. “Eles vão retirar as pequenas vítimas daqui muito em breve”, disse. Esses momentos poderiam ter soado falsos em redes maiores. Na KFOR, entretanto, pareceram verdadeiros. A emoção não tornou o relato de West, repleto de detalhes vívidos e úteis, menos substancial.

Ainda assim, nos dois casos, os âncoras interrompiam o repórter, desculpando-se por sua visível emoção. “É preciso entender que quando se chega no local, vendo a cena em primeira mão, não apenas pelo prisma da TV, mas quando se vive lá, é um evento extremamente emocional para repórteres e para todos os envolvidos. E Lance é um dos nossos melhores repórteres, ganhador de Emmy. Ele vai nos dar mais informações, mas ele é humano, como todos nós”, disse o âncora. A argumentação era desnecessária, resquício de uma pretensa neutralidade jornalística. Também era o caso de uma TV local não compreendendo seu papel.

Não é segredo que a TV local vem lutando para manter sua importância e audiência nos últimos anos. Um estudo recente do Pew Research Center revelou que a audiência caiu em todas as emissoras e horários em 2012. Em 2006, a audiência local entre jovens com menos de 30 anos era de 42%; em 2012, era de 28%. Atualmente, as emissoras locais estão mais limitadas à cobertura previsível do tempo, trânsito e crime. A cobertura do tornado, no entanto, foi um lembrete do que elas são capazes de fazer. A TV local deve ser emocionante, produzida por jornalistas que são os vizinhos dos telespectadores.

West cobre tornados na cidade de Oklahoma há quase duas décadas. Ele certamente tem o direito de ter sido afetado pelo que viu. Sua cobertura visceral é o que torna a TV local válida de ser assistida. Já as declarações dos repórteres de emissoras nacionais soaram muitas vezes falsas e robóticas. É uma pena que eles só mostram seu potencial quando desastrem acontecem.