O editor chinês Tan Zuoren foi condenado a cinco anos de prisão por subversão esta semana, em um exemplo de que Pequim não tem planos de abrandar sua posição com relação a dissidentes políticos. Zuoren foi preso em março de 2009 depois de criticar o Partido Comunista da China em artigo sobre o massacre às manifestações por reformas na Praça da Paz Celestial, em 1989.
Segundo pessoas próximas a Zuoren, outro fator pode ter contribuído para a condenação: o jornalista reunia informações para um relatório independente sobre centenas de crianças mortas no desabamento de escolas em Sichuan e províncias vizinhas durante o devastador terremoto que atingiu o país em maio de 2008.
Segundo Pu Zhiqiang, advogado do editor, as autoridades têm a intenção de silenciá-lo por conta da apuração sobre o terremoto. Após a tragédia, o governo central tentou reprimir qualquer debate sobre a má qualidade de construção das escolas – o que levou a acusações de corrupção e desvio de dinheiro. ‘Você pode ver a tendência deste governo – por um lado, quer ser aceito por leis e valores internacionais’, diz o artista Ai Weiwei, amigo de Zuoren. ‘Por outro, é uma ditadura muito primitiva que viola os direitos humanos’. Weiwei tentou documentar online o número de mortes das escolas destruídas e fez projetos de arte para homenagear as crianças mortas. O advogado do jornalista informou que irá apelar da sentença.
Diversos dissidentes políticos e ativistas em defesa dos direitos humanos foram condenados à prisão desde a véspera dos Jogos Olímpicos de 2008, realizados em agosto daquele ano em Pequim. Em dezembro, uma corte sentenciou o ativista pró-democracia Liu Xiaobo a 11 anos de prisão por ter ajudado a escrever uma petição online pedindo por reformas democráticas no país. Gao Zhisheng, outro conhecido dissidente, desapareceu em fevereiro de 2009. Acredita-se que ele tenha sido detido por forças de segurança, embora o governo se recuse a responder qualquer questão sobre seu paradeiro ou estado de saúde. Em novembro, uma corte sentenciou Huang Qi, outro crítico do governo envolvido no relato do terremoto, a três anos de prisão.
Silêncio
O terremoto de 2008 foi o desastre natural mais letal das últimas décadas na China, matando quase 69 mil pessoas e deixando 18 mil desaparecidos, segundo estimativas do governo. Inicialmente, informes da mídia oficial davam conta de que cerca de sete mil escolas haviam desabado com os tremores, matando mais de 10 mil crianças. Em maio, o governo divulgou seu primeiro índice oficial de alunos mortos na tragédia, informando que 5.335 estudantes morreram ou foram considerados desaparecidos.
Em muitos casos, prédios vizinhos às escolas que desabaram ficaram intactos. Funcionários da administração local pagaram às famílias das vítimas para garantir seu silêncio e detiveram aqueles que foram a Pequim falar com o governo central. Este mês, um documentário da HBO sobre o terremoto recebeu uma indicação ao Oscar. A mídia chinesa oficial omitiu qualquer menção a isto e os dois cineastas responsáveis pelo filme, Jon Alpert e Matthew O’Neill, dizem que a China recusa-se a renovar seus vistos. Informações de Edward Wong [NYTimes, 10/2/10].