Mesmo depois de sair do New York Times, o repórter Jayson Blair, continua dando trabalho ao jornal. Ele acaba de lançar seu livro de memórias, Burning Down my Master’s House, em que conta como inventava e copiava matérias, gerando um escândalo que derrubou o editor-executivo Howell Raines e o editor-administrativo Gerald Boyd. A editora New Millenium Press, que publica a obra, acusa o Times de ter reproduzido alguns trechos quando ainda estavam embargados.
A prática de embargo é comum na imprensa e consiste em um compromisso do veículo de não publicar certas informações antes do prazo determinado pela fonte. A vantagem, no caso de um livro, por exemplo, é que o crítico literário terá tempo de avaliá-lo e escrever texto a seu respeito a tempo de que saia junto com o lançamento. Agora, a New Millenium ameaça até com processo por violação de direitos autorais.
Segundo a Editor & Publisher [2/3/04], a representante do Times, Catherine Mathis, negou a quebra de embargo e afirmou que, como ficou bem claro na reportagem, uma cópia do livro de Blair foi comprada no sítio Amazon. A editora pediu o comprovante de compra e, ainda assim, disse que o procedimento foi irregular. ‘Eles usaram uma cópia que sabiam que não deviam usar. Eles violaram nosso copyright, independente de onde a conseguiram’, reclama o assessor da New Millenium, Ed Reilly. Seja qual for o lado com razão, essa polêmica ajuda a divulgar o livro.
A participação de Blair no programa Dateline NBC também é passível de crítica. Um jornalista mentiroso deve ter espaço na TV para divulgar seu livro? A entrevistadora Katie Couric não enxerga o problema desta maneira. Acredita que foi bem dura com o repórter e que dificilmente as pessoas se sentirão estimuladas a correr para a livraria para adquirir uma cópia de suas memórias. ‘Se baseássemos todas as nossas entrevistas em pessoas que fazem o bem neste mundo, infelizmente ficaríamos muito limitados’, conclui, admitindo, no entanto, que algumas pessoas, principalmente seus ex-colegas de Times, poderiam se chatear ao verem Blair na TV.
No programa, o jornalista conta de como usava drogas durante o trabalho e lamenta pela saída de Boyd e Raines. ‘Não gostaria que jamais houvesse outro Jayson Blair’, diz. Também revela a primeira vez que mentiu no Times: quando o World Trade Center foi destruído por ataques terroristas, disse a seus superiores que um parente seu havia morrido no desastre para não ter de cobri-lo.