Em sua última coluna como ombudsman do New York Times, o jornalista Arthur Brisbane escreveu que seus colegas no jornalão “compartilham um tipo de progressismo político e cultural” que “virtualmente sangra pela estrutura” do jornal. Ele afirmou ainda que repórteres do diário chegam a tratar algumas questões liberais, como o movimento Ocupe Wall Street e o casamento gay, “mais como causas do que como pautas jornalísticas”.
A redação não deve ter gostado muito das afirmações. Mas quem não gostou nada da acusação de parcialidade liberal foi a editora-executiva do Times, Jill Abramson, que fez questão de discordar publicamente da coluna do ombudsman de saída. “Em nossa redação, estamos sempre conscientes de que a maneira comovemos uma questão em Nova York não é necessariamente como ela é vista no resto do país ou do mundo. Discordo das conclusões generalizadas do senhor Brisbane”, afirmou ela em entrevista ao site Politico.
Jill afirmou que concorda com a posição de outro ex-ombudsman, Daniel Okrent, e de seu antecessor no cargo de editor-executivo, Bill Keller, que acreditavam que, ao cobrir certas questões sociais e culturais, o diário por vezes reflete sua base urbana e cosmopolita. “Mas eu com frequência cito, inclusive em conversas com o senhor Brisbane, outro editor-executivo, Abe Rosenthal, que queria ser lembrado por manter ‘o jornal justo’. Isso é essencial”, completou.
Editor público
Procurado pelo Politico, Brisbane não quis comentar seu último artigo na pele de “editor público” – como é chamado o cargo de ombudsman no Times. “Prefiro que a coluna fale por si própria”, disse. No texto, ele ainda acusou o jornal de não ser transparente o bastante, apesar dos esforços para tal nos últimos anos.
O ombdusman é o representante dos leitores dentro de um jornal. Ele trabalha separado da redação e responde críticas, sugestões e queixas do público. As posições tomadas por ele em suas colunas não necessariamente refletem as posições do jornal, e ele não pode ser demitido do cargo, que tem duração limitada. Brisbane foi o 4º ombudsman do Times, por dois anos, e passa o bastão para Margaret Sullivan, ex-editora do jornal Buffalo News. Ela é a primeira mulher no cargo no Times. O objetivo do diário é aproveitar o momento de troca para remodelar o posto, tornando-o mais ligado à relação com os leitores na internet e nas mídias sociais. Com informações de Dylan Byers [Politico, 26/8/12].
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