A Ren-TV, emissora russa conhecida por reportagens alternativas aos parciais canais estatais do país, tem preocupado analistas de mídia e defensores da liberdade de expressão, informa Sophia Kishkovsky [The New York Times, 2/1/06]. Recentes problemas no departamento jornalístico da emissora parecem indicar que a programação independente corre perigo. ‘A Ren-TV era a última emissora com notícias de verdade e pessoas que tentavam falar a verdade’, desabafa Alexei Simonov, presidente do grupo de liberdade de imprensa Glasnost Defense Foundation.
Fundada e dirigida por Irena Lesnevskaya e seu filho, Dmitry Lesnevsky, a Ren-TV foi comprada no ano passado pela empresa petrolífera Surgutneftegaz, pelo grupo industrial Severstal e pela emissora alemã RTL. Apesar das companhias terem garantido que não mudariam o perfil editorial da emissora, críticos afirmam que a venda foi positiva para o governo de Vladimir Putin, já que os executivos-chefes das duas empresas russas teriam feito campanha para o presidente nas eleições de 2004.
Barrada na porta
Os problemas começaram no fim de novembro passado, quando a âncora Olga Romanova foi impedida de entrar no estúdio após denunciar no ar que algumas matérias haviam sido censuradas pela direção. Entre elas estavam a notícia de que o Ministério Público havia retirado uma acusação de homicídio contra o filho do ministro da Defesa, Sergei Ivanov, que atropelou – e matou – uma pedestre, e uma história sobre um time de futebol de homens sem-teto de São Petersburgo. Para esta, conta Olga, a direção usou a justificativa de que ‘não há sem-teto em São Petersburgo. São Petersburgo é rica, é a cidade do presidente’.
A ex-âncora afirma que as mudanças editoriais vieram depois que os novos acionistas da emissora apontaram um novo executivo-chefe para dirigir a Ren-TV Media Holding, companhia proprietária da Ren-TV. Alexander Ordzhonikidze, que assumiu o posto, defende-se, afirmando que nunca deu ordens para que as reportagens citadas por Olga fossem vetadas.
A jornalista acusa ainda Ralph Siebenaler, executivo da RTL que assumiu o posto de executivo-chefe da Ren-TV, de conivência com a censura imposta por Ordzhonikidze. Siebenaler diz que a parte editorial não é sua responsabilidade no canal, e por isso não comentaria os atos e acusações das pessoas envolvidas. Ele afirma, entretanto, que ‘quando uma companhia tem uma mudança de administração, acontece de, infelizmente, algumas partes da equipe antiga não se darem bem com os membros do novo time’.
Já Andrew Buckhurst, vice-presidente sênior da RTL, diz que o grupo não tem conhecimento de qualquer interferência política nas decisões do canal russo. ‘Todos os três acionistas compartilham da mesma visão de que a Ren-TV deve continuar com sua linha editorial, oferecendo um serviço completo a seu público, incluindo [a cobertura de] notícias’, completa.