A Imedi, emissora de TV de oposição da Geórgia, continuou em pleno funcionamento em novembro de 2007, quando policiais à paisana invadiram os estúdios. Os equipamentos foram em parte destruídos e os funcionários tiveram que deitar no chão e entregar seus telefones celulares. Um âncora descreveu toda a confusão ao vivo quando, então, o canal saiu do ar.
Para justificar o ataque, o governo alegou que a Imedi havia incitado a desordem pública quando transmitiu uma declaração de um de seus fundadores, Badri Patarkatsishvili, prometendo derrubar o presidente Mikheil Saakashvili. Naquele dia, a polícia agiu violentamente contra manifestantes anti-governo. Depois disso, foi decretado estado de emergência por nove dias.
Limites
Onze meses depois, os limites da liberdade na Geórgia continuam a ser questionados e testados. O governo do país e seus partidários americanos, incluindo os senadores e candidatos à presidência dos EUA Barack Obama e John McCain, definem a nação como uma democracia em meio a uma região instável e, portanto, meritória de fazer parte da Otan. Entretanto, diversos críticos – dentro e fora do país – argumentam que não há liberdade de expressão.
A Imedi reabriu em setembro e pertence agora a Josef Kei, empresário pró-governo e primo de Patarkatsishvili – que concorreu à presidência da Geórgia depois da invasão da Imedi e morreu vítima de um ataque do coração, em Londres.
Semi-autoritarismo
O presidente Saakashvili chegou ao poder em 2004 – depois de uma onda de protestos que ficou conhecida como Revolução Rosa – prometendo deixar o autoritarismo no passado. Na opinião de Lincoln A. Mitchell, especialista em Geórgia da Universidade de Colúmbia, o líder governa, na verdade, um estado ‘semi-autoritário’, embora alegue que o país é um dos mais democráticos da região. ‘A realidade é que o governo de Saakashvili é o mesmo dos últimos 20 anos, da época do período soviético’, afirma.
Em um de seus relatórios mais recentes sobre liberdade de imprensa, o grupo de pesquisa Freedom House classificou a Geórgia no mesmo patamar de países como Colômbia e atrás da Nigéria, Indonésia e Ucrânia. Eka Khoperia, ex-diretora do canal mais popular do país, o Rustavi 2, conta que sofreu tanta pressão governamental que cansou das tentativas das autoridades para influenciar seu trabalho. Eka renunciou em julho de 2006 em protesto a um esforço do governo para impedi-la de divulgar o assassinato de um bancário no qual estavam envolvidos funcionários do Ministério do Interior. Informações de Dan Bilefsky e Michael Schwirtz [The New York Times, 7/10/08].