Dan Rather, o âncora da rede americana CBS que apresentou a matéria com documentos falsos sobre o serviço militar de George W. Bush, deixou o posto de apresentador do CBS Evening News na semana passada. Com 42 anos de carreira, ele, mais que qualquer outro jornalista da TV americana, era a personificação do repórter que não media esforços para fazer uma matéria. Rather fazia questão de reforçar isso, sempre dando um jeito de se colocar no centro das reportagens. Algumas vezes, por exemplo, chegou a fazer passagens amarrado a postes telefônicos, para ilustrar a força de um furacão.
Como mostra reportagem de Alessandra Stanley [The New York Times, 10/3/05], Rather tem grandes coberturas em seu currículo. Destacou-se com o assassinato de John Kennedy, esteve no Vietnã, acompanhou o caso Watergate, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e, finalmente, a eleição iraquiana. Mesmo os conservadores americanos, que o odiavam porque representava para eles o que havia de mais liberal na grande imprensa, não questionavam sua honestidade. Talvez por isso, tenha sido tão aplaudido no final do último telejornal que apresentou. Os colegas presentes no estúdio resolveram homenageá-lo, reconhecendo seu trabalho, ao contrário do que fez a alta cúpula da CBS, que escolheu um momento em que estava vulnerável pelo caso de Bush na Guarda Nacional para criticá-lo, antecipando sua aposentadoria. Repórter em essência, Rather acabou se complicando numa posição em que nunca gostou de estar: a de apresentador que fala coisas apuradas pelos outros, sem ter certeza do que está dizendo.