Dois canais de TV israelenses cancelaram no fim da semana passada a exibição de entrevistas com o extremista judeu Yigal Amir, assassino do ex-premiê Yitzhak Rabin. Em editorial publicado em 2/11, o jornal israelense Haaretz criticou a decisão do Canal 2 e do Canal 10, além da posição de autoridades que militaram contra a transmissão das entrevistas. Segundo o Haaretz, com exceção do criminoso – que com a polêmica que cercou a exibição recebeu uma aura de reverência e mistério –, ninguém se beneficiou com a decisão.
Amir matou Rabin a tiros durante um comício pela paz em Tel Aviv, em 1995, por se opor às negociações pela reconciliação entre israelenses e palestinos – Rabin havia assinado com Yasser Arafat, dois anos antes, o Acordo de Oslo. Por isso, diz o jornal, é fácil compreender por que muitos israelenses não querem ouvir ou ver a imagem do assassino. Seu crime não significou apenas a morte de um homem; os tiros em Rabin atingiram a esperança pela paz no Oriente Médio.
Interesse
Ainda assim, defende o Haaretz, há um claro interesse público em questionar Amir, entender a fundo seus motivos e suas fontes de inspiração, saber quem foram as pessoas ou grupos que afetaram sua ação e compreender o ambiente público e político que o levaram a se tornar um assassino. Uma prévia do conteúdo das entrevistas foi divulgada por um dos canais, e continha novas informações que justificariam a exibição. Amir, que cumpre prisão perpétua, foi entrevistado pelas emissoras por telefone, sem permissão da administração da penitenciária. Depois da polêmica, ele foi transferido para uma solitária em uma prisão de segurança máxima.
Aqueles que se opuseram à exibição temiam que Amir se transformasse, aos olhos do público, em uma celebridade, e que a razão para ele estar na cadeia fosse ofuscada. O jornal discorda: foi justamente a censura sobre a entrevista que fez surgir uma imagem de personagem misterioso que deve ser escondido do público. Como tudo o que é proibido, a atenção sobre o assassino aumentou.
Informações
‘Uma entrevista para a imprensa não é um prêmio ou uma medalha de honra’, diz o Haaretz, lembrando que tanto a mídia israelense quanto a internacional já cansaram de divulgar entrevistas com assassinos, líderes terroristas e chefões do crime organizado. Geralmente, estes entrevistados acabam por liberar informações vitais para uma maior compreensão das fontes do mal. ‘Exibir suas histórias não é o mesmo que admirá-los por seus atos criminosos. E é exatamente assim que a entrevista com Amir deveria ser vista’.
O jornal critica ainda a atitude do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, que expressou sua contrariedade à exibição das entrevistas e chegou a conversar sobre o assunto com a presidente da Segunda Autoridade para Televisão e Rádio, Nurit Dabush. O órgão representa o interesse do público nas transmissões comerciais, e, segundo o Haaretz, não compete a ele discutir a censura de uma emissora por razões políticas. Olmert comemorou o cancelamento das entrevistas, afirmando que elas não tinham nenhuma relação com a liberdade de expressão. ‘A exibição das entrevistas teria ferido os sentimentos de grande parte da população. Podemos apenas lamentar a atenção, excessiva e desnecessária, dada ao assassino e não ao assassinado, Yitzhak Rabin’, afirmou. Com informações da AFP [1/11/08].