Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Episódio com Bill Clinton desperta questão ética

Em um evento da campanha de Hillary Clinton em Dakota do Sul, na semana passada, uma mulher de 61 anos se espremeu na multidão para apertar a mão do ex-presidente Bill Clinton e trocar algumas palavras com ele sobre um artigo publicado na revista Vanity Fair. Poucas horas depois, o conteúdo desta conversa – em um arquivo de áudio com duração de três minutos – estava disponível no sítio Huffington Post. Nele, é possível ouvir o ex-presidente chamar de desonesto (e outras palavras nada simpáticas) Todd Purdum, autor da matéria na Vanity Fair e ex-repórter do New York Times. No artigo, Purdum chamava Clinton de mulherengo.


O ex-presidente provavelmente ficou surpreso ao ver suas afirmações no sítio, pois Mayhill Fowler, a senhora com quem ele conversou brevemente, não tinha credencial que a identificasse como repórter e não chegou a revelar sua intenção de entrevistá-lo. Um gravador digital estava visível em sua mão, porém Mayhill – que se descreve como ‘jornalista-cidadã’ – não acredita que Clinton tenha reparado nisto. ‘Ele certamente pensou que eu era alguém da platéia presente no evento’, contou.


Debate ético


O episódio, reproduzido nas TVs a cabo americanas como uma evidência do temperamento explosivo de Clinton no final da campanha de sua mulher, gerou uma discussão entre jornalistas, professores e blogueiros sobre a conduta ética na ‘Era YouTube’ – onde qualquer pessoa pode, munida de gravador ou celular com câmera, atuar como repórter.


‘Isto dificulta o nosso trabalho. Se você não tiver confiança [dos entrevistados], não há boas matérias. Se alguém usa meios desonestos para se obter a verdade, fica ferida a causa do fluxo livre de informação para a qual ela [Mayhill] alega contribuir’, opina o colunista e repórter político da Newsweek Jonathan Alter. ‘Você tem que se identificar quando estiver entrevistando alguém’.


Não é o que pensa Jane Hamsher, ex-produtora de Hollywood que fundou o Firedoglake, sítio de tendência esquerdista. ‘Se Clinton não se preocupou em saber quem ela [Mayhill] era, a falha é dele’, defende.


Reincidente


Esta não é a primeira vez que Mayhill omite fatos para conseguir cumprir sua tarefa jornalística. Em abril, ela alegou ser colaboradora da campanha do senador Barack Obama para conseguir acesso a um evento de arrecadação de fundos do candidato, em São Francisco – evento para o qual a mídia não havia sido convidada. Na ocasião, o gravador digital da ‘jornalista-cidadã’ registrou o senador dizendo algo que não agradou aos moradores de Pensilvânia: ‘Não é surpresa que, por não crescerem economicamente, eles se agarrem a armas ou à religião’.


Mayhill era professora e não tinha experiência como repórter até começar a atuar como jornalista-cidadã, há cerca de um ano. Eventualmente, ela publica algo interessante no Off the Bus, projeto da blogueira Arianna Huffington e de Jay Rosen, crítico de mídia e professor de jornalismo da New York University, no qual blogueiros escrevem sobre os principais candidatos à presidência dos EUA. Informações de Jacques Steinberg [New York Times, 8/6/08].