O estado de saúde de Kimberly Dozier, correspondente da rede de televisão americana CBS, ferida na explosão de um carro-bomba quando acompanhava um comboio militar dos EUA em Bagdá na segunda-feira (28/5), é crítico, mas estável. A equipe fazia uma reportagem com uma pauta a princípio simples, mas que se tornou irônica: mostrar aos telespectadores como era o Memorial Day, feriado americano dedicado a lembrar os americanos mortos em guerras, dos soldados no Iraque.
Kimberly, de nacionalidade americana, teve estilhaços removidos de sua cabeça por médicos de um hospital militar em Bagdá e foi posteriormente transferida para um hospital militar americano em Landstuhl, na Alemanha. A jornalista ainda deve permanecer cerca de quatro dias na UTI do hospital – para onde foram seus pais, irmãos e namorado – antes de ser transferida para os EUA. ‘Kimberly ainda está em estado muito grave. Ela está consciente, mas sedada, o que a impede de falar’, informou Marie Shaw, porta-voz do hospital. ‘Ela deve ficar estável o suficiente para conseguir suportar o vôo’, completou.
Esta foi a segunda ocasião neste ano em que jornalistas que acompanhavam comboios militares foram atingidos por bombas. O âncora da ABC Bob Woodruff ficou gravemente ferido, assim como o cinegrafista Doug Vogt, em uma explosão à bomba em janeiro, perto de Bagdá. Woodruff ainda se recupera de graves ferimentos na cabeça. Na semana passada, a ABC News anunciou que Charles Gibson seria o novo âncora do World News Tonight, programa que Woodruff apresentava com Elizabeth Vargas.
Mídia em risco constante
No incidente desta segunda-feira, morreram o cinegrafista Paul Douglas e o técnico de som James Brolan, ambos de nacionalidade britânica, além de um soldado americano e um civil iraquiano que trabalhava como tradutor. A equipe da CBS estaria usando roupas de proteção. Seis soldados americanos também ficaram feridos. A imprensa chegou rapidamente à cena, onde o veículo do Exército estava em chamas e militares faziam a segurança da área. A explosão ocorreu no mesmo dia em que uma série de ataques matou no mínimo 40 pessoas e deixou dezenas de feridos no Iraque.
Douglas trabalhava para a CBS News desde a década de 90, e havia viajado com a emissora para o Afeganistão, Paquistão, Ruanda e Bósnia. Brolan trabalhava como freelancer para a CBS em Bagdá e no Afeganistão desde o ano passado. ‘Esta é uma imensa perda para a CBS News. Kimberly, Paul e James eram veteranos na cobertura de guerra que provavam sua coragem e dedicação a cada dia na nossa tentativa de informar o público americano’, afirmou Sean McManus, presidente da CBS News.
Kimberly havia feito diversas matérias para a CBS no Iraque nos últimos três anos, e já havia acompanhado outros comboios militares. ‘Toda vez que Kimberly deixava o Iraque ela perguntava: ‘Quando eu vou voltar lá’? Ela era uma pessoa determinada a cobrir o Iraque’, relembrou McManus. Antes de ir trabalhar no Iraque, Kimberly trabalhou como chefe dos correspondentes da WCBS-TV no escritório do Oriente Médio da emissora em Jerusalém.
Zalmay Khalizad, embaixador americano no Iraque, afirmou estar ‘chocado e muito triste’ com a notícia da morte dos profissionais da CBS. ‘Estes jornalistas arriscaram suas vidas para contar ao mundo a história de pessoas corajosas e de uma nação orgulhosa. Os terroristas que cometeram este crime mostraram que não querem que o mundo saiba o que está acontecendo no Iraque, onde pessoas determinadas estão lutando por liberdade e democracia’, completou.
Dados divergentes
A CBS, como outras empresas de mídia, luta para conseguir garantir a segurança de seus funcionários no Iraque. Os jornalistas iraquianos são os que correm mais riscos. Só este mês, três repórteres iraquianos foram mortos em um período de duas semanas, de acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras. Além destes, 42 jornalistas foram seqüestrados.
De acordo com o Comitê para Proteção dos Jornalistas, subiu para 71 o número de jornalistas mortos no Iraque desde a invasão americana em 2003, igualando o total em toda a Segunda Guerra Mundial – dados que não incluem dezenas de assistentes de mídia também mortos no país. Outras instituições internacionais divergem, entretanto, quanto à contagem de mortos. Para a RSF, o número seria de 66 jornalistas e 30 assistentes da mídia, enquanto para o Fórum da Liberdade, fundação dedicada a discutir a liberdade de imprensa, seriam 79 os profissionais mortos.
Os números confirmam que esta é a guerra mais mortal para profissionais da mídia. De acordo com o Fórum da Liberdade, 63 profissionais da mídia foram mortos na Guerra do Vietnã; 17, na Coréia; e 69, na Segunda Guerra Mundial. Informações da Reuters [31/5/06], de Krista Larson [AP, 30/5/06], Marc Santora e Bill Carter [The New York Times, 30/5/06] e Alastair Macdonald [Reuters, 29/5/06].