No sábado à noite, falei com Judith, mulher de Scliar, e ela me avisou: ‘Entre esta noite e amanhã cedo, Moacyr terá partido, meu amigo.’ Estivemos juntos pela última vez no Palácio do Governo, quando Alberto Goldman nos deu a Comenda da Ordem do Ipiranga. Rimos, felizes: Quem diria que seriamos comendadores? Naquela noite, aos nos despedirmos, Scliar comentou: ‘Pensar que esta é uma amizade de 50 anos.’ Ontem, meio século de amizade desmoronou.
Scliar era leal, generoso, fiel
Quando, em 1996, sofri uma complicada intervenção cirúrgica por conta de um aneurisma cerebral, ele telefonou para minha mulher: ‘Se for necessário, em duas horas estarei em São Paulo para acompanhar os procedimentos’.
No dia 20 de janeiro, fui a Porto Alegre, mas não consegui vê-lo, estava na UTI do Hospital das Clínicas, sedado. Ficou assim todo este tempo. Durante hora e meia conversei com Judith, que estava esperançosa. Praticamente todos os médicos de Porto Alegre estavam em torno dele. Mas, não deu, ele partiu. Fará falta. Pela generosidade, solidariedade e integridade. Hoje comecei a reler O Centauro no Jardim, um de meus favoritos entre seus livros. Nele, Scliar é Cortázar, Borges, Kafka, Como dizia Graciliano Ramos, a palavra é para dizer, não para enfeitar. Scliar dizia.
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Escritor