Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Escândalos em emissora pública japonesa

O presidente da rede de TV pública japonesa NHK, Katsuji Ebisawa, pediu demissão depois de uma crise envolvendo a emissora, a começar pelas pressões de políticos importantes, há quatro anos, para censura a programa que levantava a história dos abusos sexuais das tropas japonesas na Segunda Guerra Mundial.

O documentário, escreve Anthony Faiola [The Washington Post, 26/1/05], contava a história de coreanas, indonésias e chinesas estupradas por soldados do antigo exército imperial japonês. Reportagens do jornal Asahi revelou que políticos ligados ao primeiro-ministro Junichiro Koizumi teriam usado sua influência para impedir que o documentário fosse ao ar na íntegra. As denúncias provocaram grande pressão sobre a rede de TV e resultaram na prisão de uma pessoa por fraude e na punição interna de outras 12.

Há duas semanas, um produtor da NHK admitiu que houve interferência política na exibição do programa, que foi ao ar, há quatro anos, sem a principal imagem e sem as declarações das sobreviventes. Foi adicionado ao documentário o depoimento de um intelectual dizendo que muitas mulheres que acompanhavam as tropas eram, na verdade, prostitutas. Depois que o programa foi exibido, uma organização japonesa de defesa dos direitos das mulheres entrou com processo de difamação contra a emissora.

A NHK negou ter cedido a pressões políticas sobre o conteúdo do documentário e disse que a declaração do produtor tinha ‘numerosas mentiras’. Mesmo com a saída de seu presidente, o descontentamento do público com a emissora levou mais de 100 mil telespectadores a recusar o pagamento da licença de TV. Ebisawa admitiu que o número de pessoas que pararam de pagar a licença deve chegar a meio milhão em março, e que por isso a NHK está cortando os salários dos funcionários em mais de 15%.

Em 1992, o Japão pediu oficialmente perdão a milhares de coreanas usadas como escravas sexuais na Segunda Guerra Mundial.