Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Especialistas contestam auto-regulamentação na propaganda de álcool


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 12 de julho de 2007


AUTO-REGULAMENTAÇÃO CONTESTADA
Ronaldo Laranjeira e Ilana Pinsky


O Conar não funciona para o álcool


‘A AUTO-REGULAMENTAÇÃO da propaganda, no Brasil exercida pelo Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária), é a estratégia defendida pelas indústrias de bebidas alcoólicas como efetiva para regulamentar a promoção de seus produtos. As vantagens presumidas seriam: eficiência, maiores incentivos para obediência e custo reduzido. Esses argumentos têm sido defendidos em vários artigos recentes na mídia. É possível que a auto-regulamentação seja ‘mais eficiente do que a atuação do Estado’ em algumas áreas, mas, certamente, essa lógica não se aplica à área das bebidas alcoólicas.


Existem evidências científicas de que a exposição de crianças à promoção de bebidas alcoólicas aumenta a probabilidade de que elas iniciem um consumo precoce e bebam mais. Isso acontece em adição a outras variáveis, como baixo preço dos produtos e facilidade do acesso, mas é independente delas. Ou seja, a promoção não é o único fator que causa impacto no consumo de álcool, mas certamente é um deles. Embora inúmeras pesquisas tenham demonstrado de forma inequívoca esse fato, tal verdade não é aceita pela indústria do álcool.


Mas esse não é o único fator importante. A propaganda do álcool, principalmente a que é apreciada pelas crianças, em especial a que contém humor, se relaciona com suas atitudes e expectativas positivas quanto às bebidas alcoólicas. Isso significa que a propaganda é um fator de estruturação de atitudes das crianças em relação às bebidas alcoólicas -atitudes e crenças que não são mudadas do dia para a noite. Esse processo se dá com um acúmulo de mensagens atraentes e exclusivamente positivas e bem-humoradas em relação às bebidas alcoólicas.


Pesquisa nacional financiada pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) mostra que cerca de 60% dos adolescentes brasileiros estão expostos a algum tipo de promoção de álcool (televisão, rádio, revista ou outdoor) diariamente.


Portanto, do ponto de vista da saúde pública, é fundamental que possamos exercer influência não somente no tipo de propaganda a que nossas crianças são expostas mas também -e principalmente- na quantidade de exposição. Pelo simples motivo de que, quanto maior é a exposição, maior é o consumo do álcool. É o que as pesquisas mostram.


Mas voltemos à auto-regulamentação. Os códigos relacionam-se principalmente com questões de conteúdo das mensagens, basicamente restringindo mensagens direcionadas aos menores de idade e que incentivem o consumo abusivo. Vários estudos científicos internacionais apontam que a interpretação desses códigos varia muito, dependendo do público que os avalia. Dessa maneira, e não surpreendentemente, avaliações realizadas por membros das indústrias de interesse econômico (publicitários, indústria de álcool, mídia etc.) encontram muito menos violações do que as realizadas por representantes do público geral. Pesquisa com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) recém-concluída pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com estudantes do ensino médio de escolas públicas apontou grande número de violações em cinco propagandas de cerveja selecionadas como as mais apreciadas pelos estudantes.


Uma das recomendações do Conar com respeito à propaganda de álcool é que ela ‘evite associação com erotismo’. O leitor que já tenha assistido a algum comercial de cerveja talvez nos acompanhe na dúvida quanto ao cumprimento desse item. De qualquer maneira, a principal intenção da auto-regulamentação no caso das bebidas alcoólicas é evitar ingerência externa -leia-se restrição à quantidade de propaganda. E é a exposição, no final, o que realmente importa em termos do impacto no consumo dos adolescentes e jovens.


O ministro da Saúde, grande defensor da saúde pública, já expressou a sua preferência pela restrição da propaganda do álcool, à semelhança do que foi feito com o cigarro. Do presidente Lula espera-se que tenha a coragem e a determinação para optar pela restrição desse tipo de propaganda que estimula que menores de idade bebam. Afinal, não é a concorrência entre marcas que está em jogo, mas a saúde da sociedade brasileira.


RONALDO LARANJEIRA, 50, doutor em psiquiatria pela Universidade de Londres (Inglaterra), é professor livre docente do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).


ILANA PINSKY, 40, psicoterapeuta, mestre em psicologia pela USP e doutora em psiquiatria e psicologia médica pela Unifesp, é pesquisadora sênior do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.’


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Eduardo Scolese


Governo recua na classificação indicativa


‘O Ministério da Justiça cedeu à pressão das emissoras de televisão e editou ontem uma portaria que entrega às TVs o poder de autoclassificação indicativa de seus programas e oferece a elas um prazo de 180 dias para que adeqüem aos diferentes fusos horários do país a exibição da grade definida por faixas etárias e horárias.


A portaria 1.220 assinada ontem pelo ministro Tarso Genro (Justiça) revoga uma anterior, de fevereiro (número 264), editada pelo então titular da pasta, Márcio Thomaz Bastos, e que provocou reação da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), da classe artística e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). O argumento deles é que a portaria 264 oferecia possíveis riscos de censura.


Na prática, a portaria anterior dava ao ministério a ‘análise prévia’ para a classificação indicativa de um determinado programa. Agora, com o novo texto, esse papel caberá exclusivamente às emissoras, na chamada autoclassificação. Ela apresenta sua autoclassificação ao Ministério da Justiça, que, por sua vez, apenas homologa o requerimento da TV.


Nos 60 dias seguintes, quando o programa já estiver sendo veiculado (ou mesmo concluído, no caso de uma minissérie, por exemplo), haverá uma espécie de ‘monitoramento’ do ministério, para sugerir ou não uma nova classificação.


A emissora, porém, estará livre de qualquer tipo de sanção, caso não respeite uma eventual revisão de classificação. ‘Qual é a sanção que pode ser aplicada pelo Ministério da Justiça? Nenhuma’, disse ontem o secretário nacional de Justiça, Antonio Carlos Biscaia.


Reavaliações de classificação indicativa, segundo ele, serão feitas somente pelo Ministério Público e, a seguir, pela Justiça.


Segundo a nova portaria, passam a valer a partir de hoje cinco faixas de classificação indicativa e de faixa horária: 1) exibição livre; 2) a partir das 20h, não recomendada para menores de 12 anos; 3) a partir das 21h, não recomendada para menores de 14 anos; 4) a partir das 22h, não recomendada para menores de 16 anos; 5) a partir das 23h, não recomendada para menores de 18 anos.


Essas faixas terão de ser identificadas na tela por meio de selos padronizados pela portaria. Outra obrigação é uma tradução da faixa de classificação em libras (linguagem para surdo-mudo).


Além da portaria 264, a pasta revogou ontem o artigo segundo da portaria 796, de setembro de 2000, que colocava como ‘terminantemente vedada a exibição [de programas de TV] em horário diversos do permitido [na classificação]’.


A revogação do artigo foi um pedido direto do ministro Tarso à sua equipe para evitar que viessem à tona novas insinuações sobre ligações do texto com a censura.


Fuso horário


As TVs por assinatura estão livres da adequação aos fusos, que, durante o horário de verão, chegam a três horas entre Rio Branco (AC) e Brasília (DF), por exemplo. ‘Neste caso [TVs por assinatura], os pais podem bloquear os programas que quiserem’, disse o secretário Biscaia.


Hoje, alegando dificuldades técnicas, as TVs levam em conta apenas o horário de Brasília. Ou seja, uma novela inadequada para antes das 21h chega duas horas antes (19h) às residências dos acreanos e uma hora antes (20h) às telas dos mato-grossenses. Em seis meses (180 dias), segundo a nova portaria, essa novela teria de ser exibida em diferentes horários pelo país.


O governo, porém, já admite que o prazo de 180 dias pode ser ampliado. ‘Negociação sempre existirá. Não há nenhuma posição que não admita a negociação’, disse o secretário nacional de Justiça. ‘Isso [o cumprimento da exigência do fuso] talvez não seja possível nesse momento’, completou o secretário.’


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Andi elogia texto; Abert não se manifesta


‘A portaria 1.220, que atribui às emissoras o poder de classificar seus programas segundo faixas etárias, foi bem-recebida pelas instituições ouvidas pela Folha.


Para o coordenador de relações acadêmicas da Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), Guilherme Canela, o espírito da portaria anterior sobrevive. ‘A vinculação de horários à não-recomendação para certas faixas etárias se mantém, assim como a padronização da forma de veiculação da classificação indicativa.’


O presidente da Associação dos Roteiristas, Marcílio Moraes, vê como avanço a ampliação do poder de autoclassificação dado às TVs. ‘Por que deveria admitir que um burocrata de Brasília saiba melhor do que eu o que o público deve ver?’


O cineasta Cacá Diegues, entretanto, mostrou-se cético. ‘Enquanto não houver garantia de que cabe aos pais, e não ao Estado, cuidar de escolher os programas que seus filhos podem ou não assistir na TV, sempre haverá perigo de censura.’


A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) só falará após a publicação do texto no Diário Oficial.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Quase todos


‘O circo continua, a um passo do recesso. Nas manchetes dos telejornais e sites, a desistência de Renan Calheiros, que não presidiu a sessão no Senado, mas até o último momento, dizia a blogosfera, ainda ameaçava, em vaivém pela praça dos Três Poderes. No fim, ao vivo pela TV Senado, a sessão foi uma modorra.


Na outra ponta do palco, geralmente às escuras, a Bloomberg fez reportagem especial sobre a informação privilegiada no país, ‘insider trading’, com repercussão na home page do ‘Wall Street Journal’, dizendo que ‘quase todos os 145 negócios de fusão e aquisição de empresas fechados neste ano vazaram antes’. É prática que ‘infecta as ações’ por aqui, mas os investidores externos não ligam, em meio ao ‘boom’.


RESPOSTA OU SILÊNCIO


Depois do encontro de Lula com o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, em que o assunto foi priorizado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu pelas agências AP, Reuters, Efe dizendo que o ‘Brasil buscará os aliados China e Índia para reformar o FMI’. Mas logo entrou artigo no ‘Financial Times’, dizendo que o ‘silêncio’ de China e Índia visa tirar legitimidade e levar EUA/Europa a ‘cavar cova mais profunda para o sistema financeiro mundial’.


Por outro lado, no ‘Christian Science Monitor’, com a foto do brasileiro e colegas de Argentina, Venezuela etc. (abaixo), uma longa reportagem arriscou com ‘A resposta da América Latina ao Banco Mundial e ao FMI’. O jornal diz que ‘é uma coisa quando Chávez tacha Banco Mundial e FMI de armas do imperialismo’, mas ‘agora não é só Chávez’. Cita elogios de ‘think tanks’ dos próprios EUA.


ENQUANTO ISSO


O ‘New York Times’ destacou que, enquanto o secretário do Tesouro anda por aqui, ‘senadores influentes de ambos os partidos, apoiados por centrais sindicais e grandes companhias, vão apresentar nova proposta contra o aquecimento global’, nos EUA.


Ela prevê ‘impor taxas semelhantes a tarifas sobre a importação de produtos que emitam carbono em sua produção, como aço e automóveis, de China, Índia, Brasil e outros países emergentes’.


A MONTANHA


O mesmo secretário Henry Paulson é o principal entrevistado da nova revista ‘Fortune’, na edição especial que sublinha ‘O maior boom econômico da história’. Ele comenta, entre outras coisas, ‘a ascensão do protecionismo’:


– É o desafio que nós temos pela frente. O público está preocupado com a globalização. Não importa o que pessoas como eu possam pensar, nós estamos diante de uma batalha montanha acima, se o público não comprar a idéia.


DE BAGDÁ A PORTO ALEGRE


A BBC deu que, pelo telefone, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown tratou com Lula de Rodada Doha, do futuro encontro do chanceler Celso Amorim com o comissário europeu Peter Mandelson, e também ‘parabenizou o presidente pela atuação brasileira no combate à fome e na questão da mudança climática’.


Brown, pelo jeito, anda encantado com o Brasil. Em série de reportagens e até edição de cartas, ontem e ao longo dos últimos dias, o londrino ‘Guardian’ e a BBC vêm destacando o Orçamento Participativo de Porto Alegre, que seria o modelo para uma ação anunciada na semana passada pelo novo gabinete do Reino Unido.


SUBMARINOS CÁ


Com um dia de atraso, ecoou ontem pelos sites de ‘NYT’, ‘Washington Post’ e também outras partes, notadamente China e Índia, a notícia de que o Brasil vai voltar a investir no programa nuclear da Marinha, inclusive com a produção de ‘submarinos de propulsão nuclear’.


Aqui e ali, registro para a controvérsia em torno das inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica, há três anos, e à origem do projeto, na ditadura militar.


E LÁ


O venezuelano ‘El Universal’ ironizava ontem os submarinos que Chávez foi comprar na Rússia: ‘Para quê? Para viajar a Cuba quando quiser sem que ninguém note’.


A piada parou aí -e o longo texto detalhou serem nove, com ‘armamento altamente sofisticado’ etc. Uma semana atrás, quando se divulgou a compra, a Marinha brasileira convocou entrevista com correspondentes estrangeiros e declarou que nada indicava uma ‘corrida armamentista’.’


VENEZUELA
Fabiano Maisonnave


Sem concessão pública, RCTV voltará a transmitir por cabo


‘Fora do ar desde o final de maio, a emissora oposicionista RCTV voltará ao ar via cabo a partir do próximo dia 16, disse ontem o presidente do canal, Marcel Granier.


O empresário informou que continuará tentando que sua emissora, a mais antiga do país, volte a transmitir em sinal aberto, como fez durante os últimos 53 anos.


O público da RCTV, que até maio disputava a liderança do sinal aberto com a Venevisión, do magnata Gustavo Cisneros, será bem menor, já que o serviço de TV paga alcança apenas 21,3% da população, segundo a Câmara Venezuelana de Televisão por Assinatura.


A RCTV não teve a sua concessão renovada por Chávez sob a justificativa de que participou do frustrado golpe de 2002 contra ele.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record corre atrás da Globo na TV digital


‘Enquanto a Globo já faz transmissões experimentais em alta definição (HDTV) na Grande SP, a Record desenvolve aplicativos de interatividade de TV digital. A rede de Edir Macedo inicialmente não conseguirá fazer frente ao poderio da Globo na nova tecnologia, mas não quer ficar muito atrás.


A Globo inaugurará as transmissões digitais em São Paulo, em dezembro, já com uma novela das oito toda gravada em alta definição, a principal inovação da TV digital. Deverá oferecer em HDTV também, já em dezembro, futebol e filmes.


A Record só deverá transmitir produção própria em HDTV alguns meses depois. Avalia que não vale a pena gastar alguns milhões de reais a mais em uma novela se quase ninguém a assistirá em HDTV.


A rede investe, no momento, na criação de aplicativos de interatividade. Já tem prontas aplicações para transmissões de telejornais, novelas e futebol. Nos telejornais, oferecerá informações adicionais em canto de tela, como cotação de moedas. Nas novelas, terá resumo de capítulos em formato de texto e, possivelmente, áudio e legendas em uma segunda língua. No futebol, permitirá ao telespectador rever lances de um outro ponto de vista, com uma segunda câmera.


Para ter acesso, o telespectador terá que comprar caixa conversora com o middleware Ginga (o Windows da TV digital), disponíveis só em 2008.


PIZZA DA PAZ 1


Depois do episódio do último domingo, em que criticou o fato de o ‘Pânico na TV’ seguir conselho de Silvio Santos e tentar arrancar doações de apresentadores para o asilo Retiro dos Artistas, Fausto Silva chamou Emílio Surita, Rodrigo Scarpa e Wellington Muniz para uma pizza em sua casa, na terça.


PIZZA DA PAZ 2


Os humoristas explicaram a Fausto Silva que tudo é só brincadeira, que eles não seguem ordens de Silvio Santos. E Faustão entregou um relógio para o programa da Rede TV! doar ao Retiro dos Artistas.


RENOVAÇÃO


A maioria dos humoristas do ‘Pânico’ já renovou contrato com a Rede TV! até o final de 2009. É o caso do líder do grupo, Emílio Surita.


NO AR


Longe da Globo desde ‘América’, o ator Matheus Nachtergaele estará de volta na minissérie ‘Aos Meus Amigos’, de Maria Adelaide Amaral, que estréia em fevereiro de 2008. A produção também terá Mayanna Neiva, revelação de ‘A Pedra do Reino’, na qual interpretou Heliana Swendson.


B.O.


¦Um carro elétrico, usado para transportar funcionários da Globo, desapareceu do Projac (central de estúdios da emissora) recentemente. O caso intriga os ‘detetives’ da rede. Como um veículo que roda a 20 km/h pode ter sido roubado?


PESCARIA


Fora do ‘Caldeirão do Huck’ há várias semanas, a ex-’BBB’ Mariana Felício não foi demitida. Voltará ao ar em breve.’


MEMÓRIA / YOLANDA CARDOSO
Folha de S. Paulo


Morre No Rio A Atriz Yolanda Cardoso


‘A atriz Yolanda Cardoso, 78, morreu anteontem no Rio, no final da manhã, no Hospital Municipal Álvaro Ramos. Ela teve pneumonia e infecção generalizada, segundo a instituição. A atriz morava no Retiro dos Artistas. Carioca, Yolanda Cardoso trabalhou em novelas como ‘Coração Alado’ (1980), de Janete Clair, e ‘As Pupilas do Senhor Reitor’ (1970).’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 12 de julho de 2007


CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Mariângela Gallucci e Cristina Padiglione


Governo flexibiliza regras para TV


‘Pressionado pelas emissoras de televisão e pelo movimento organizado de artistas famosos, principalmente da TV Globo, o governo recuou e permitiu que a classificação indicativa seja por autoclassificação, sem qualquer análise prévia de conteúdo pelo Ministério da Justiça.


O governo também deu prazo de seis meses para as emissoras ajustarem a exibição dos programas aos fusos horários do País.


Em síntese, o Ministério da Justiça anunciou ontem regras mais flexíveis para o processo de classificação indicativa da programação televisiva. As empresas terão de comunicar oficialmente a autoclassificação ao ministério e não dependerão mais de uma prévia avaliação para começar a exibir os programas de sua grade.


Ficou estabelecida uma espécie de escala de vigilância. Durante 60 dias, o ministério fará um monitoramento da programação. No caso de abusos, a emissora será advertida por duas vezes. Se essa providência não surtir efeito, o ministério mudará a classificação. Se, mesmo assim, persistir o que for considerado abuso, então o fato será comunicado ao Ministério Público para que sejam tomadas medidas judiciais cabíveis.


Ontem, o secretário nacional de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, apresentou os detalhes da portaria 1220, que deverá ser publicada no Diário Oficial de hoje. Biscaia afirmou que foram atendidas 18 das 24 reivindicações da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).


Atores como Fernanda Montenegro e Tony Ramos defenderam publicamente mudanças do projeto original.


FAIXA ETÁRIA E FUSO HORÁRIO


A nova portaria mantém a vinculação entre faixas etárias e horários de exibição da programação. Mas o novo texto retira a expressão ‘terminantemente vedado’ que constava nas regras anteriores de vinculação entre faixas etária e de horário.


‘A vinculação faixa etária-horária está mantida por ser uma determinação constitucional, (mas) desaparece o termo ‘terminantemente proibido’, explicou Biscaia.


Pela portaria 1220, é considerada inadequada a exibição antes das 20 horas de programas classificados como não recomendados para menores de 12 anos.


Não deverão ser veiculados antes das 21 horas os programas não recomendados para menores de 14 anos. Ainda segundo a portaria, é inadequado exibir antes das 22 horas os programas não recomendados para menores de 16 anos e antes das 23 horas os não recomendados para menores de 18 anos.


O Ministério da Justiça determinou que as emissoras cumpram essas regras também em Estados com fuso horário diferente do de Brasília.


Para tanto, o governo deu um prazo de 180 dias para que as empresas adaptem a exibição de programas, adequando o horário à faixa etária. No Acre, por exemplo, a novela das 21 horas, exibida hoje naquele Estado às 18 horas, terá de ser veiculada às 21 horas do horário local.


As emissoras de TV por assinatura não estão sujeitas à vinculação faixa etária-horária porque oferecem aos pais e responsáveis dispositivos para bloquear a exibição de determinados programas.


As empresas terão de informar a classificação dos programas, mas poderão exibi-los no horário que desejarem. Programas jornalísticos, esportivos, propaganda eleitoral e publicidade não estão sujeitos às regras.


REAÇÕES


Contrárias à vinculação entre faixa horária e etária, item mantido no texto final da nova portaria, a Abert e a Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra) informaram que só se manifestarão após a publicação do texto final no Diário Oficial da União.


O novo texto da portaria remete o embasamento jurídico das medidas diretamente ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). ‘Agora, se alguém quiser discutir as regras, terá de brigar contra o próprio estatuto’, diz Guilherme Canela, representante da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).


Ele lamenta a exclusão do selo ER (Especialmente Recomendado) para programas voltados a crianças e adolescentes. ‘É um grande retrocesso para a própria lógica das emissoras, porque o ER trazia uma mensagem extremamente importante: já que estamos advertindo sobre as inadequações da TV, é bom que se ressalte as coisas que merecem ser especialmente recomendadas para crianças’, avalia Canela.


Com as alterações, perde efeito liminar obtida pelas emissoras de TV em abril, no Superior Tribunal de Justiça, que eliminava qualquer obrigação das concessionárias em adequar conteúdo de programação a faixas horárias.


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota afirmando que a ‘classificação indicativa é não só oportuna como necessária’ e que a entidade apóia ‘toda iniciativa que vise à defesa e à promoção dos direitos da criança e do adolescente considerando sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento’.


A CNBB, contudo, ressalva que é preciso ‘adotar métodos que evitem que a classificação indicativa seja submetida a critérios políticos ou ideológicos’.’


DIPLOMA EM DEBATE
Ana Paula Lacerda


Gates não tem diploma. E daí?


‘Para alguns empresários, a faculdade pode ser uma perda de tempo. Dos 946 bilionários da lista da Forbes, por exemplo, 50 não têm nível superior. E não são ilustres desconhecidos: entre eles estão Steve Jobs, da Apple, e Ralph Lauren, da grife que leva seu nome. Bill Gates, o ex-homem mais rico do mundo, só conseguiu um diploma (honorário) em Harvard no mês passado, 30 anos após desistir das aulas para vender softwares.


Mas existe uma razão para o sucesso dessas pessoas – que aparentemente poderiam ser cortadas já no primeiro critério da maioria das seleções -: elas tiveram formação, sim, na área em que gostavam. Mesmo que não tenha sido uma educação formal. ‘As pessoas devem despertar e perceber que não podem apostar todas as fichas em uma faculdade ou em cursos’, diz o consultor de empresas Ricardo Neves. ‘Se ela se tornar apenas um zumbi procurador de emprego, ou se fez uma faculdade sem um foco para sua vida, foi perda de tempo.’


Não que Neves recomende às pessoas que não façam faculdade. ‘A educação deve ser um processo contínuo, que começa com uma faculdade e continua com atividades focadas no projeto de vida do indivíduo.’


Alcides Barrichello, diretor de vendas da Nipro, empresa de produtos hospitalares, tem formação em Farmácia e Bioquímica. ‘Fiz MBA recentemente para poder atuar de maneira mais completa dentro da empresa’, explica. Ele também participa de vários grupos de discussão na internet e de um grupo voluntário para tratamento de diabetes. ‘Essas atividades podem não estar ligadas diretamente ao meu trabalho, mas ampliam minha rede de relacionamento e me colocam em contato com novos pontos de vista.’


‘Mais válido do que colocar uma lista de cursos em um currículo é listar realizações a partir do conhecimento obtido’, diz o diretor da BPI no Brasil, Gilberto Guimarães. ‘Ter nível superior é uma condição indispensável só para o início da carreira, porém não é mais critério de sucesso.’


Ele diz que, tão importante quanto os bancos de escola são a leitura, as palestras e a convivência com pessoas interessantes. ‘Você não pode colocar no currículo que adora ler sobre psicanálise, mas pode listar seus sucessos em gestão de pessoas por ter esses conhecimentos.’ Os novos líderes, para eles, são maestros. ‘Conhecem o som de cada instrumento, mas não os tocam. Fazem com que todos toquem juntos, da melhor maneira.’


TRANSIÇÃO


Ricardo Neves diz que o mundo do trabalho está passando por uma mudança radical, e que os empregos serão, em pouco tempo substituídos por projetos. ‘As empresas vão brigar pelos melhores talentos para cada projeto, as pessoas vão trabalhar em casa e terão de se reciclar com uma freqüência muito maior do que hoje’, afirma. ‘Aquele sonho de se formar e seguir carreira em banco estatal vai desaparecer. E daqui a algumas gerações, as pessoas vão rir de como muitos se sujeitavam a ficar oito horas por dia fazendo coisas que nem sempre gostavam.’


Em seu livro O Novo Mundo Digital, o consultor discute esse assunto, dentre outros que acompanharão essas mudanças. ‘Aos jovens, recomendo que desliguem a TV e leiam muito. Que aprendam a usar as ferramentas de web 2.0 e falem inglês.’ Para quem já está com a carreira em andamento, ele desaconselha o comodismo. ‘Não estacione em um emprego porque ele lhe garante a sobrevivência. Aprenda a fazer o que gosta.’


FRASE


Ricardo Neves


Consultor


‘Aos jovens, recomendo que desliguem a TV e leiam muito. Que usem a web 2.0 e falem inglês. Para quem já está no mercado, que não estacione em um emprego só porque ele lhe garante a sobrevivência’’


POLÍTICA CULTURAL
Roberta Pennafort


Petrobrás contempla 263 projetos de todo o País


‘A Petrobrás anunciou ontem para onde vão os R$ 60 milhões previstos para seu programa de patrocínios culturais. Foram contemplados 263 projetos de todo o País, de um total de 7.392 inscritos (número recorde), nas áreas de cinema, música, artes cênicas, literatura, formação e preservação. Metade se concentra no Rio (24%) e em São Paulo (26%), de onde saiu, também, metade das inscrições. Ainda assim, segundo mostram os dados da estatal, o programa, iniciado em 2003, vem possibilitando uma melhor distribuição dos recursos pelas outras regiões brasileiras.


Somente cinco Estados não tiveram qualquer agraciado: Roraima, Rondônia, Tocantins, Amapá e Mato Grosso do Sul. Entre os vencedores, estão artistas e grupos já consagrados e também iniciantes. Dona da verba mais vultosa (R$ 30,3 milhões), a área de produção e difusão de cinema, por exemplo (que, em anos anteriores, viabilizou filmes que viriam a ser premiados, como O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias e Casa de Areia), reúne em sua lista de ganhadores nomes como Julio Bressane, Hugo Carvana, Guel Arraes, Ruy Guerra e Murilo Salles e produtoras como a O2, a Videofilmes e a Natasha. Houve também espaço para estreantes, caso dos diretores Paulo Halm, do Rio, João Daniel Tikhomiroff, de São Paulo, e Cláudio Barroso, de Pernambuco. O teto por projeto é de R$ 1,5 milhão.


Curtas-metragens e filmes para mídias digitais foram incluídos na seleção. No setor teatral e de dança, alguns medalhões: a carioca Márcia Milhazes Companhia de Dança, a Companhia do Latão, paulista, e a Udi Grudi, de Brasília.


Já a área de formação (ações, materiais e documentação de educação para as artes e produção de apresentações culturais inclusivas), que pela primeira vez é incluída no Programa Petrobrás Cultural e que, surpreendentemente, recebeu o maior número de competidores (2.477, quase um terço do total), foi bastante democrática. Foram aprovados projetos de abrangência local, como a capacitação de 300 alunos de cinco cidades da Paraíba para direção e produção de filmes e a manutenção do Barco de Leitura, da Associação de Seringueiros do Seringal Cazumbá, no Acre, que trabalha pelo combate ao analfabetismo.


‘Não é nossa prioridade projetos que tenham visibilidade no mercado e na mídia. Se fosse assim, não precisaria nem fazer seleção’, explicou Eliane Costa, gerente de patrocínios da Petrobrás, durante o anúncio dos resultados, ontem de manhã, no Rio. Ela lembrou que a estatal vem percorrendo o País fazendo palestras e oficinas com o objetivo de capacitar produtores locais e melhorar a qualidade dos projetos enviados, fazendo com que eles tenham mais condições na hora da competição.


Além da área de formação, também começou este ano a seleção para arte cênicas e literatura (esta vai fornecer a escritores uma bolsa mensal de R$ 3 mil para que possam tocar seus livros de ficção e poesia e mais R$ 4 mil para animarem as editoras a investir nesses autores). Na música, a Petrobrás contemplou compositores eruditos e populares, que agora terão recursos para gravar CDs e tocar projetos de pesquisa.


A fatia destinada à preservação e memória de patrimônio imaterial e ao apoio a museus, arquivos e bibliotecas irá para os mais diversos cantos do Brasil: do laboratório de Paleovertrebados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que editará um livro e fará uma exposição para difundir suas pesquisas, à Biblioteca Pública Benedito Leite, do Maranhão, que poderá cuidar da preservação e divulgação de suas obras raras, passando por São Paulo, Estado que teve seis projetos contemplados nessa área (entre os quais, o de levantamento, catalogação e preservação do acervo de Gianni Ratto e o de publicação das melodias transcritas por Camargo Guarnieri). Seis projetos voltados à cultura indígena compõem o rol de ganhadores.


As escolhas foram feitas por comissões nomeadas pela Petrobrás, formadas por especialistas, produtores e artistas, e foram submetidos aos membros do Conselho Petrobrás Cultural. Dos 263 contemplados, 254 saíram da seleção pública e 9 foram homenageados. Além dos R$ 60 milhões destinados à seleção pública, outros R$ 20 milhões vão para projetos de convidados diretamente pelos conselheiros (os nomes foram anunciados em dezembro).’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten


Todos querem Bebel, todos amam Camila


‘Aos 16 anos, Camila Pitanga experimentou seu primeiro boom. Celebrada pela mídia, virou mito sexual e objeto de desejo de todos os machos do País. ‘Era uma celebridade’, ela diz e coloca a expressão entre aspas, porque, embora ainda não soubesse o que queria – era muito jovem -, Camila já intuía que aquilo não era legal. Filha de atores – Vera Manhães e o lendário Antônio Sampaio, que depois virou Pitanga, figura emblemática do Cinema Novo, nos filmes de Glauber Rocha e Cacá Diegues -, ela sempre conviveu com a arte (o cinema) e a política, mesmo antes de seu pai casar-se com a ex-governadora do Rio, Benedita da Silva, a Benê. Como Camila conta, ‘a política não entrou na minha vida por causa da Benê. Antes de ela virar minha madrasta eu já fazia campanha. Acima de tudo, somos amigas.’


O segundo boom veio agora, com o estouro da personagem Bebel na novela Paraíso Tropical, de Gilberto Braga. Programa mais visto da TV brasileira em junho, Paraíso Tropical transformou Camila na prostituta que, vinda de um lugarejo no litoral da Bahia, começou a rodar bolsinha no Rio e hoje é amante de Olavo, o inescrupuloso personagem interpretado por Wagner Moura. Bebel começou rampeira, vulgar, mas passou – ainda está passando – por uma transformação. ‘Ela está vivendo seu sonho de Cinderela’, define Camila, que curte o sucesso dessa personagem. Desta vez, o que o público e a mídia celebram não é sua – esplêndida, é bom ressaltar – aparência física, com aqueles olhos, aquela boca e aquelas curvas, mas o trabalho da atriz. ‘Bebel não é uma prostituta caricata. Percebo isso porque tenho uma resposta muito grande do público de todas as idades. Os jovens, os idosos, as crianças, todos adoram a Bebel e suas trapalhadas, agora que ela está tendo de lidar com a etiqueta.’


Camila sentiu, mais uma vez, o gostinho dessa nova fase de sua vida – e carreira – na terça-feira à noite. Hollywood baixou em São Paulo, mais exatamente no Shopping Eldorado, onde ocorreu a pré-estréia, para convidados, de Saneamento Básico – O Filme, de Jorge Furtado, que estréia na sexta da próxima semana, dia 20. Todo o elenco veio prestigiar – Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Paulo José, Bruno Garcia e, claro, Camila Pitanga. Sua entrada foi de superstar, assediada pelo público e pela imprensa que queriam chegar perto ‘da Bebel’. Foi a maior muvuca. Como, para ela, trabalho é coisa séria, Camila gostaria de acreditar que Silene, a personagem que interpreta em Saneamento Básico, venha a merecer o mesmo carinho do público. E, se preparem, porque em agosto ela bate nas telas em outro papel de prostituta, mas Ceci, a dama da noite de Noel, O Poeta da Vila, de Ricardo Van Steen, não tem nada a ver com Bebel.


O filme de Ricardo van Steen focaliza a boemia do Rio, nos anos 30, a partir do lendário Noel Rosa. Camila faz Ceci, a dançarina de um cabaré da Lapa que é a grande paixão do compositor. Numa cena já antológica do cinema brasileiro, Noel, interpretado por Rafael Raposo e já infectado pela tuberculose e pela doença na boca, veste máscara para fazer amor com Camila/Ceci. Os dois mascarados entregam-se com verdadeira fúria ao prazer misturado de dor. Aguardem – ‘Ceci é muito diferente da Bebel’, diz Camila. ‘A Bebel vive uma trajetória ascendente. A da Ceci é descendente, num meio degradado.’ Ceci é mais intensa, mais forte, mais visceral. Parece mentira, mas Camila conta que se preparou para o papel de uma maneira absurda. ‘Na verdade, me preparei ao mesmo tempo para dois papéis – a dama da noite de Noel e a atriz de Porto Alegre em Sal de Prata (de Carlos Gerbase). Me preparava para um papel no Rio, tomava um avião e ia a Porto Alegre fazer os preparativos para o outro. Uma loucura.’


Sal de Prata foi produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, a mesma produtora de Saneamento Básico – O Filme. ‘Adoro o pessoal da casa. É muito bacana. Além de talentosos, eles são muito legais, muito inteligentes. Fazem um cinema de turma, distante do Rio e de São Paulo e obtêm reconhecimento, o que é melhor ainda.’ Ela considera Jorge Furtado um dos diretores mais lights – relaxado no bom sentido – com quem trabalhou. ‘O Jorge não se estressa. Ele se prepara muito, faz o filme na cabeça antes de passar pela câmera. A gente ensaia, prepara tudo e, na hora de filmar, ela não grita ‘Corta!’. A gente diz o diálogo e ele continua filmando. Há sempre muita improvisação no rabinho das cenas filmadas pelo Jorge, o que é sempre muito estimulante para o ator. Às vezes ele usa, às vezes não, mas o importante é que todo mundo fica descontraído no set. O ato de filmar é prazeroso, não uma angústia.’


Saneamento Básico – O Filme. Que raio de título é este? Num certo momento, todo mundo tentou fazer com que o diretor mudasse o título, sob a alegação de que ninguém iria sair de casa para ver um filme assim chamado. Jorge, como pai da criança, bateu pé. O interessante é justamente o estranhamento – saneamento básico refere-se a um problema endêmico das desigualdades sociais no Brasil. Uma parcela muito grande da população ainda não tem esse básico, esse mínimo que é condição da cidadania. E, por outro lado, o filme representa o limite da sofisticação e do desenvolvimento tecnológico. Entre os dois extremos – a ausência de saneamento básico e o filme -, constrói-se a visão social de Jorge Furtado. Camila concorda, mas diz que o filme também pode ser visto como uma piada muito divertida. ‘Existem camadas de leitura. Cada um vai tirar o que quiser, ou puder’, ela diz. No filme, um grupo quer resolver o problema dessa cidadezinha de colonização italiana, encravada na serra gaúcha. Eles querem saneamento básico, a prefeitura não dispõe de recursos, mas existe uma verba do MinC, o Ministério da Cultura, para a realização de um vídeo. Eles resolvem usar o dinheiro do vídeo para construir a fossa. Mas como se produz cinema, como se faz um vídeo?


‘Silene é uma personagem legal, muito mais rica do que parece. Ela ingressa nesse mundo de fantasia do cinema e descobre outra coisa, um outro mundo que lhe produz deslumbramento.’ Silene vira, em seu mundinho, uma celebridade – ‘a’ gostosa, aquilo que Camila decidiu não ser, há dez anos. Quer dizer, com aquele corpão ela sabe que não consegue deixar de ser objeto de desejo, mas isso não lhe basta. O trabalho como atriz é levado muito a sério. ‘Isso é uma herança de meu pai. Ele foi um farol, uma referência não apenas para mim, mas para o Rocco, também.’ Camila refere-se ao irmão, Rocco Pitanga, também ator de TV e cinema. No início da semana passada, o repórter encontrou-se com Rocco no morro do Cantagalo, no Rio, no set do novo filme de Breno Silveira, Era Uma Vez. Rocco falou com imenso carinho da irmã, disse que seu sucesso é merecido, é o reconhecimento a um trabalho de atriz. Ela retribui – ‘Rocco ainda vai ter o grande estouro dele. É uma questão de tempo, espere para ver.’


Carioca, Camila nasceu em Botafogo, mas rodou toda a Cidade Maravilhosa, como gosta de dizer. Morou no Leblon, em Jacarepaguá, na Barra, no Leblon de novo, no Jardim Botânico. Numa certa época, quando seu pai começou a namorar com Benê, a casa em Jacarepaguá passou por uma reforma e ficou inabitável. Camila e Rocco foram morar na casa de Benê, no Morro de Chapéu Mangueira. Até hoje, se você vai ao morro – onde foi filmado o ainda inédito Cidade dos Homens -, os moradores apontam com orgulho ‘a casa da Camila’, que já foi um deles. Camila pode ter morado no morro, mas nunca foi uma favelada, camada da população pela qual ela tem o maior respeito, é bom ressaltar. Mas a experiência reforça um lado Cinderela que termina servindo à personagem de Paraíso Tropical.


‘Desde a primeira sinopse, o Gilberto (Braga) já havia criado esse desenho para a personagem. A Bebel ia ascender, passar por um processo de reeducação, ficar chique.’ Uma cena emblemática dessa fase há mais ou menos duas semanas, quando Bebel ganhou dinheiro de Olavo para ir às compras, mas as funcionárias da butique se recusaram a atendê-la. Você deve se lembrar da cena de Julia Roberts em Uma Linda Mulher. Gilberto Braga tem escrito belas cenas para Camila Pitanga. ‘Já estavam previstas na sinopse’, ela ressalta, minimizando o estouro da personagem. Gilberto Braga não está simplesmente atendendo a uma demanda do público por mais Bebel. A previsão é de que a novela vá até outubro. E depois? ‘Preciso descansar’, anuncia Camila.


Nos últimos anos, seu nome tem sido trabalho. Ao mesmo tempo que se preparava para os dois filmes – Sal de Prata e O Poeta da Vila -, ela terminava a faculdade, no Rio. Formou-se e hoje é, com honras, bacharelanda em teoria teatral. Você pode discutir a teoria do teatro com Camila – a tradição da commedia dell’arte, que Jorge Furtado homenageia em Saneamento Básico – O Filme. É uma mulher de gosto refinado. Assistiu há pouco, em DVD, a Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, e ficou chapada. ‘Que texto maravilhoso! Você não acha que dá uma peça de teatro? Estou louca para fazer teatro.’ Por que não Hiroshima, por que não Duras? O olho brilha. Camila precisa de férias, mas … quem sabe?’


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Ciúmes contaminam Donas de Casa


‘A série nem começou a ser exibida e o elenco de Donas de Casa Desesperadas, da RedeTV!, já anda em atrito. São comuns os comentários ácidos das atrizes nos bastidores da produção, umas sobre as outras. A ciumeira rola solta, principalmente com relação a Sônia Braga. O problema seria o boato sobre o cachê pago à atriz: R$ 1 milhão. A RedeTV! nega que Sônia tenha recebido tudo isso. Outro fato curioso é a atitude de Lucélia Santos. Mesmo vendo todas as suas colegas atendendo pessoalmente à imprensa, a atriz diz só dar entrevistas por e-mail.


entre-linhas


A ex-BBB Íris, vulgo Siri, nova contratada da RedeTV!, estréia esta semana no comando do TV Fama.


A TV Cultura firmou dois acordos de co-produção com a TV pública da Coréia do Sul. A intenção é produzir dois programas: um sobre como estará o planeta em 2050 e um documentário que vai acompanhar adolescentes de oito países ao Pólo Norte para observar os efeitos do aquecimento global.


É neste sábado, em Campos do Jordão, o lançamento do CD com a trilha sonora do Programa Amaury Jr.’


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