Centenas de estudantes venezuelanos montaram um gigante quadro-negro em Caracas, no sábado (14/7), para que as pessoas pudessem escrever o que sentem sobre o governo. A inusitada ação faz parte dos protestos contra o fechamento da emissora Radio Caracas Televisión pelo presidente Hugo Chávez.
‘Chávez, pegue sua doutrina e vá para Cuba’, dizia uma das mensagens postadas pelo público. O presidente se negou a renovar a licença de funcionamento do canal privado, que vencia no fim de maio. Chávez acusava a RCTV, entre outras irregularidades, de ter apoiado e participado de um golpe que o tirou brevemente do poder em 2002. O fechamento da emissora levou à maior onda de manifestações estudantis dos últimos 20 anos.
O projeto, intitulado ‘Um Quadro-Negro para a Venezuela’, foi organizado por Liliana Tintori, professora e apresentadora da RCTV e da rádio Union. Os cidadãos eram convidados a expressar suas opiniões sobre o governo ou qualquer outro tema em público sem ter que dar o nome. A expressão mais vista na enorme lousa – de 450 metros – era ‘liberdade de expressão’.
Reivindicações
Segundo a professora, os estudantes críticos ao governo não querem ser rotulados como membros da oposição simplesmente porque pensam diferente da atual administração. Liliana contou à AFP que os alunos prepararam uma nova lista de reivindicações para entregar ao presidente, à Assembléia Nacional e à Organização dos Estados Americanos. Entre os pedidos, estão liberdade de expressão, autonomia para as universidades e melhorias nos direitos civis.
A RCTV, que funcionava há 53 anos e tinha a maior audiência do país, foi a única emissora a se opor abertamente a Chávez. Seu fechamento virou bandeira de protesto aos opositores políticos do presidente, dentro e fora da Venezuela. A antiga freqüência do canal foi entregue à emissora pública TVes, como parte do programa socialista de Chávez.
Os programas da RCTV, entre novelas e shows de jogos, têm sido exibidos na internet e em telões em praças públicas de Caracas. Esta semana, entretanto, a emissora volta à telinha, desta vez como canal a cabo – pago. Ao anunciar a mudança, o presidente da RCTV, Marcel Granier, afirmou que continuaria a lutar pelo direito de transmitir abertamente ‘para que possamos alcançar toda a população venezuelana sem ter que cobrar por isso’. Informações da AFP [14/7/07].