Arthur Ochs “Punch” Sulzberger, que foi publisher e presidente do New York Times Co. durante momentos épicos do jornalismo americano, morreu no sábado (29/9), aos 86 anos, em sua casa, em Southampton, Nova York. A família anunciou a morte, após uma longa doença. Sua mãe, Iphigene Ochs, era filha do fundador do jornal, Adolph Ochs. Seu pai, Arthur Hays Sulzberger, foi publisher de 1935 a 1961. Ele era pai do atual publisher, Arthur O. Sulzberger Jr.
Durante sua gestão como publisher, de 1963 a 1992, o jornal ganhou 31 prêmios Pulitzer. Segundo o presidente americano Barack Obama, ele “acreditava firmemente na importância de uma imprensa livre e independente, que não tem medo de buscar a verdade”. Sulzberger lutou contra a intensa pressão do governo devido à cobertura crítica do NYTimes sobre a Guerra do Vietnã, publicou documentos secretos do Pentágono sobre a guerra, supervisionou a transformação da empresa e desempenhou um papel decivo em modelar o jornal para uma nova geração de leitores.
Os autores Susan E. Tifft e Alex S. Jones, no livro The Trust, publicado em 1999, que conta a história não oficial do jornalão, o chamaram de “comprovadamente o maior” publisher do NYTimes desde que Adolph Ochs o comprou em 1896. A marca de Sulzberger foi sentida de muitos modos durante os 34 anos que ficou à frente do jornal. Ele tornou o diário disponível nacionalmente e, em 1970, lançou a página "op-ed" , com colunistas e escritores que não eram do jornal, e com opiniões muitas vezes diferentes da voz institucional do NYTimes expressa em seus editoriais. Sulzberger também aumentou a cobertura de temas como ciência, esportes, religião, artes e estilo de vida. Indicou, ainda, grandes nomes para a redação, como o jornalista vencedor do Pulitzer A.M. Rosenthal, para o cargo de chefe de redação e, posteriormente, editor-executivo, e o colunista William Safire.
Diversas conquistas
Como publisher, recusou um pedido do presidente John F. Kennedy para trazer para os EUA o correspondente do NYTimes no Vietnã, David Halberstam, que havia incomodado o exército e o governo com matérias que rebatiam informações oficiais sobre o progresso da guerra – que deu a ele e ao jornal o prêmio Pulitzer em 1964 por reportagem internacional.
Sob sua gestão, o jornal levou a melhor em um caso histórico de calúnia, em 1964, o "Times vs. Sullivan". Na ocasião, a Suprema Corte americana determinou que a Primeira Emenda protegeria a publicação de todas as declarações feitas sem malícia sobre a conduta de autoridades públicas.
Papéis do Pentágano
Em 1971, o NYTimes publicou documentos secretos conhecidos como "Papéis do Pentágono", detalhando os 25 anos do envolvimento americano no sudeste asiático. A administração do então presidente Richard Nixon ficou furiosa. Mesmo sabendo que o jornal poderia ser processado e ter danos financeiros altíssimos, além de correr o risco de ir para a prisão, Sulzberger decidiu publicar a série. No segundo dia da série, o Departamento de Justiça foi à Justiça para começar os procedimentos para impedir a publicação do jornal. Nas semanas seguintes, o NYTimes e o governo estavam envolvidos em uma batalha com Suprema Corte. O Washington Post obteve sua própria cópia dos documentos e começou a publicá-los, juntando-se ao NYTimes na disputa. No dia 30 de junho daquele ano, a Suprema Corte determinou, por seis votos a três, que os jornais continuariam a publicar os documentos, estabelecendo o direito de um jornal de publicar o que quiser sem o impedimento prévio do governo.
Desafios
Em 1967, após encerrar uma seção internacional que estava perdendo US$ 2 milhões ao ano, o grupo comprou o International Herald Tribune, com sede em Paris, com o The Washington Post Co. e outro parceiro. Os grupos Times e Post foram os proprietários do jornal de 1991 até 2002, quando o NYTImes tornou-se o único dono, depois de pressionar o Post a vender sua parte.
Em 1969, as ações da empresa foram vendidas pela primeira vez em uma grande negociação, mas ele fez questão que a família ficasse com controle de voto do grupo. Em 1973, ele foi eleito presidente e executivo-chefe.
Nos anos 1970, os Estados Unidos estavam em recessão. De 1969 a 1974, a publicidade no jornal caiu 25% e mais leitores estavam se mudando para os subúrbios. Para diminuir os custos de produção, o jornal demitiu e também passou a usar tecnologia mais eficiente. Em 1978, houve uma greve nas gráficas por 88 dias, mas quando acabou, as mudanças feitas fizeram com que o diário reconquistasse seu domínio.
Ao longo dos anos, o grupo também expandiu o negócio com a compra de jornais regionais, revistas, emissoras de TV e rádio, e um serviço de notícias. Também foi lançada uma divisão de livros. A receita subiu de US$ 101 milhões em 1963 para US$ 2,6 bilhões, em 1996, um ano antes de ele passar o cargo de presidente para Arthur Jr., da quarta geração da sua família na gestão da empresa. Sulzberger acreditava não ser coincidência os melhores jornais do país serem familiares. “Minha conclusão é simples”, disse irônico. “Nepotismo funciona.” Informações de Patricia Sullivan [The Washington Post, 29/9/12] e Clyde Haberman [New York Times, 29/9/12].