Jayson Blair admitiu em seu livro muitas das fraudes cometidas, mas escreve que foram alimentadas pela ambição, pelo abuso de cocaína e álcool e por um quadro maníaco-depressivo não-diagnosticado. Segundo Jacques Steinberg [The New York Times, 27/2], Blair é muitas vezes contemplativo, introspectivo e até agressivo em sua narrativa. Fala da condição de negro em uma redação predominantemente branca, da psicose por que passou e critica meia dúzia de editores e repórteres que via como algozes contra seu crescimento profissional.
O ex-repórter do Times, porém, não demonstra remorso pelos danos que causou ao jornal, às pessoas e famílias envolvidas em seus artigos e a colegas de outras redações que tiveram seus textos plagiados – ele admite, inclusive, ter feito clipping de outros jornais e inventado detalhes, entre outras fraudes. ‘Menti sobre uma viagem de avião que nunca fiz, sobre dormir num carro que nunca aluguei, sobre locais a que nunca fui’, escreve. ‘Menti sobre um rapaz que me ajudou num posto de gasolina que achei na internet e sobre viagens de trem que só soube que existiam por causa de fotografias aéreas de minha coleção particular’.
Blair fala, ainda, de uma fabricação – segundo ele a primeira – que o jornal não descobriu durante o minucioso exame feito nos arquivos no ano passado. Em um artigo de 652 palavras, publicado uma semana após os ataques de 11 de setembro de 2001, Blair escreveu sobre um day trader (investidor que compra e vende títulos no mesmo dia) chamado Andrew Rosstein que saiu de um escritório de corretagem às lágrimas após passar por grandes perdas no mercado financeiro. ‘Improvisei criando um sobrenome’, escreveu Blair. ‘Retirei citações de outros jornais, mas não inventei nada’.
Alguém acredita?