Mesmo 40 anos depois de sua morte, o âncora da rede de TV CBS Edward R. Murrow continua visto como um representante de alto padrão do jornalismo americano, ou ‘o santo padroeiro da minha profissão’, como o apresentador de rádio Bob Edwards o chamou em uma biografia publicada no ano passado. Os embates entre Murrow e o polêmico senador Joseph McCarthy no programa See it Now ajudaram a derrubar o político – responsável pela operação de ‘caça às bruxas’, que acabou acusando, sem provas, vários cidadãos americanos de serem comunistas, na década de 50.
Os esforços feitos pelo jornalista para denunciar a perseguição comandada por McCarthy são agora representados no filme Good Night and Good Luck (Boa Noite e Boa Sorte, tradução livre), dirigido pelo ator George Clooney. O título é tirado da frase com a qual o próprio Murrow costumava encerrar suas transmissões.
O legado do âncora é tão forte que seu nome é freqüentemente lembrado para demonstrar os defeitos do jornalismo contemporâneo, onde é quase inconcebível imaginar qualquer repórter de TV desafiando diretamente o poder ou algum grande empresário da mídia apoiando-o a fazer isso, como o fez na época William S. Paley, da CBS.
Do rádio para a TV
O jornalista deixou outra herança: ele trouxe estrelato e valores dramáticos às notícias. Quando Murrow começou a enviar suas notícias para a rádio CBS da Europa no início da Segunda Guerra, ele não era um repórter qualquer e se comportava de maneira diferente dos outros profissionais do ramo. Murrow lançava-se no meio da ação, segurando seu microfone para que os ouvintes pudessem escutar as explosões durante o ataque da Alemanha nazista no Reino Unido em 1940-41. Além de um observador, ele se punha no lugar de um protagonista da guerra. O jornalista também falava com um efeito dramático e uma cadência que fazia com que suas reportagens se assemelhassem a poesia e que ele se tornasse irresistivelmente atraente às mulheres.
Não foi por acidente que Murrow sentiu uma afinidade instantânea com a televisão quando se mudou do rádio para o então novo meio de comunicação. A televisão nos seus primórdios não tinha estrelas, mas sim leitores de notícias que sentavam no estúdio, como John Cameron Swayze e Douglas Edwards. Murrow trouxe algo que a televisão precisava: carisma.
Quando ele começou o programa Person to Person, entrevistando celebridades, foi criticado pelo caráter não-jornalístico do show. Na verdade, Murrow sabia o valor do entretenimento para a televisão, até mesmo nos noticiários. Seus programas – Person to Person e See It Now – comprovam que Murrow era tanto um entertainer quanto um jornalista. Informações de Neal Gabler [The New York Times, 9/10/05].