A crise deflagrada na BBC com o caso do repórter Andrew Gilligan – que insinuou no ar que o governo britânico teria exagerado um relatório sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein para convencer a população da necessidade de invadir o Iraque junto com os EUA – colocou em risco renovação da licença de financiamento da emissora pública com o ‘imposto da TV’, taxa anual que pagam todos os lares do Reino Unido que possuem televisor. Contudo, segundo informa a Reuters [2/3/05], na semana passada, a secretária de Cultura de Tony Blair, Tessa Jowell, anunciou que a rede continuará recebendo os mais de US$ 3.8 bilhões ao ano a que tem direito, pelo menos até 2016, quando a questão voltará a ser avaliada.
Como observa a revista The Economist [3//3/05], a decisão demonstra o poder político da BBC: o governo teria de estar muito determinado a cortar o orçamento da emissora para querer indispor-se com ela e com seus influentes ex-funcionários. Em discurso no parlamento, a secretária ressaltou que a renovação da licença foi fortemente influenciada pelo fato de que a octogenária rede pública segue muito popular, apesar da ascensão das empresas privadas de televisão.
Assim, a BBC tem seu sustento garantido pelos próximos 11 anos, mas nem tudo deve continuar na mesma. Tessa apresentou planos de criar uma comissão externa que zelará pela qualidade da programação da rede, em substituição ao Board of Governors, espécie de diretoria que acumula o controle do padrão dos programas com decisões executivas, o que compromete sua independência. O novo comitê funcionaria totalmente separado da direção da companhia.
O desgaste provocado pelo caso Gilligan derrubou o antigo diretor-geral da BBC, Greg Dyke, e o seu substituto, Mark Thompson, assumiu com a obrigação de demonstrar que a rede vale aquilo que os cidadãos pagam por ela. Por isso, começou um programa de corte de gastos que preocupa os funcionários. The Guardian [2/3/05] noticia que os trabalhadores organizaram um protesto contra os planos de Thompson de reduzir as despesas da BBC em 15%.