TECNOLOGIA
Atraso nos chips
O OBJETIVO estratégico de instalar no país uma indústria de semicondutores é antigo. Mesmo na vigência da desastrosa reserva de mercado para informática da década de 1980 já se diagnosticava como crucial fabricar no Brasil os microchips hoje indispensáveis.
Desde então o ramo de tecnologia da informação cresceu de modo acentuado. O setor de eletrônicos alcançou em 2007 faturamento de R$ 112 bilhões, mas o sonho de diminuir a dependência de importações desses componentes de alta tecnologia não se materializou: os semicondutores responderam naquele ano por um déficit de R$ 3,5 bilhões.
O governo Lula fiou-se por algum tempo na promessa vaga de empresas japonesas de instalar aqui uma fábrica de semicondutores, como contrapartida pela adoção de seu padrão de TV digital. A miragem se desfez em 2008. Em paralelo, felizmente, investia-se na formação de recursos humanos para projetar os chips, um dos maiores gargalos, e em instalações adequadas.
Agora começam a sair do papel as primeiras fábricas, voltadas para nichos particulares. Elas surgirão em Porto Alegre, com a estatal federal Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec S.A.), dedicada a microprocessadores para rastrear gado bovino, e em São Carlos (SP), onde deve ser inaugurada neste ano uma fábrica de chips de cartão de crédito da empresa americana Symetrix. Nada que se compare à fábrica que a Intel decidiu instalar na Costa Rica em 1996, mas um começo.
O governo federal aplicou R$ 270 milhões na instalação do Ceitec e agora anuncia aporte de R$ 40 milhões ao seu capital. O Ministério da Ciência e Tecnologia espera que se torne um polo de formação de mão-de-obra e ajude a catalisar o setor. Com efeito, fábricas de semicondutores jamais cairão do céu se o país não cuidar de criar as condições para atrair investidores.’
INTERNET
Site dos EUA oferece namoro para casados
‘Na TV, um casal celebra o aniversário de casamento. Estão em um restaurante à luz de velas, mas a noite não é nada romântica. Na metade do tempo, o marido fala de negócios ao telefone; na outra metade, lança olhares lascivos para a garçonete, usa a faca como espelho para limpar os dentes e sugere que a parceira vai engordar se comer sobremesa.
O que ela deve fazer? Partir para o adultério, sugere abertamente o site AshleyMadison.com, responsável pelo comercial acima. A empresa é uma agência de namoro na internet voltada para homens e mulheres comprometidos que buscam ‘affairs’ – e seu sucesso nos EUA já é tão grande quanto a comoção causada entre defensores da fidelidade.
A peça foi banida neste mês pela rede de TV NBC e pela Liga Nacional de Futebol Americano, que se recusaram a transmiti-la nacionalmente no Superbowl (final do campeonato de futebol americano, evento mais assistido da TV nos EUA). Na CNN, o criador da agência, Noel Biderman, foi acusado de estar ‘rasgando em pedaços a instituição do casamento’ e de oferecer um serviço ‘nojento’.
Mas Biderman, 37, diz que não é problema de ninguém o que adultos decidem fazer consensualmente entre quatro paredes. ‘Quem acha que o status quo dos casamentos atuais funciona está delirando’, disse à Folha. ‘O site apenas serve a um comportamento humano já existente. Um comercial de 30 segundos jamais vai convencer alguém a ter um caso.’
Os 3,38 milhões de membros que o AshleyMadison diz ter indicam não precisar mesmo de estímulo. Um perfil básico e sem foto criado pela reportagem recebeu nas primeiras 24 horas 39 e-mails de homens comprometidos interessados em um encontro.
Em um dos e-mails, o pretendente pede que sejam especificadas preferências sexuais. Em outro, um marido insatisfeito diz que está em busca de ‘uma namorada divertida para jantares, drinks e etc’.
‘Notei seu perfil’, escreveu ele. ‘Adoraria conversar se você tiver um tempo. Talvez possamos ser amigos. Como é sua vida? Qual sua cor preferida?’
E não há hipocrisia: em algumas das fotos publicadas, acessíveis apenas a quem o participante envia uma chave, a parceira oficial também aparece.
A rapidez dos contatos pode ser explicada por um descompasso -segundo o site, há cadastrados oito homens para cada mulher. ‘Não se engane, a maioria dos participantes só quer sexo’, alerta Biderman. ‘Para eles, a melhor saída é uma comunidade de pessoas que pensam e se comportam da mesma forma, sem precisar mentir sobre seu estado civil’.
Mas quando o assunto é sua própria união, o discurso muda, e ele insiste que jamais usaria o site. ‘Acredito hoje que ter uma relação monogâmica é a melhor forma de minha mulher e eu cuidarmos um do outro e criarmos nossa família. Talvez em seis anos eu mude de ideia.’
Para o empreendedor, o AshleyMadison na verdade ajuda os casamentos. ‘Não dá para todo mundo que tem problemas no quarto abandonar seu parceiro, isso é ridículo. Na França, onde há muita infidelidade, a taxa de preservação de casamentos é muito maior do que a dos EUA.’
E os brasileiros podem se preparar: ele conta que já pesquisou sobre empresas dos EUA que se expandiram para o Brasil ‘e tiveram grande sucesso’. ‘Estou confiante de que o mercado para o serviço no Brasil seria enorme.’’
TELEVISÃO
Ela bate um bolão
‘Ex-miss Brasil, a gaúcha Renata Fan, 30, conseguiu se destacar em um ambiente masculino. Ela ancora o ‘Jogo Aberto’, programa esportivo da Band, diário. ‘Sou a primeira mulher a ter uma mesa-redonda’, diz. Renata não é só um rostinho bonito. Ela realmente entende de futebol. O público já percebeu. A audiência subiu de um para quatro pontos na Grande SP. ‘Vejo dez jogos por semana. Estou sempre atualizada, tenho a minha opinião’, afirma, lamentando não sobrar tempo para novelas. ‘Sou patricinha, gosto de cor-de-rosa, mas desde pequena amo futebol’.
Kozlowski faz intensivão ‘punk’ para narrar Carnaval
Filha de inglês, neta de polonês, a jornalista Glenda Kozlowski, 34, estreia hoje como apresentadora do Carnaval do Rio, ao lado de Cléber Machado, assim como ela muito mais afeito ao mundo dos esportes.
Mas, apesar do sobrenome, a apresentadora da edição nacional do ‘Globo Esporte’ tem os dois pés no samba. ‘Minha mãe [brasileira] era portelense. Quando era criança, meus pais tinham um acordo: eu ia com minha mãe à Sapucaí e com meu pai ao Maracanã’, conta.
Glenda diz que já fez a ponte Rio-Salvador em muitos carnavais. E que desfilou em outros tantos, em várias escolas. Na União da Ilha, nos anos 80, quando era atriz (ela fez dois filmes), saiu de destaque ‘como gatinha em cima do telhado’.
Mas não foi seu perfil de foliã que levou a direção da Globo a escalá-la para a vaga de Maria Beltrão. ‘Me falaram que fico muito à vontade ao vivo.’
Nos últimos 50 dias, Glenda fez um intensivão ‘punk’ para ‘descobrir que mundo é esse, sobre quem vou falar’. Teve dia que passou das 9h às 3h nos barracões. ‘Meus [dois] filhos não me viram mais. O Eduardo, de três anos, sofreu muito.’
Glenda vê muita semelhança entre o Carnaval e o futebol. ‘A grande diferença é que o Carnaval se movimenta à noite e o futebol, durante o dia’, analisa.
Ansiosa pela estreia, diz que procurará atuar ‘do jeito que sou’: ‘Não vou ficar ditando regras, não vou comentar, falar que essa é mais bonita do que a outra. Vou narrar, tentar passar o que vi todos esses dias na cidade do samba’.
‘Não pensei em como vou fazer [a apresentação do Carnaval]. Vou ser desse jeito que sou, como faço com o esporte’
GLENDA KOZLOWSKI,
jornalista
SORRY, PERIFERIA
Não adianta procurar fotos de Luciana Gimenez nas publicações especializadas em Carnaval. Pelo segundo ano consecutivo, decepcionada com a guerra de bastidores da folia, a ex-madrinha de bateria da Vai Vai, Imperatriz e Grande Rio passará o feriado em Nova York. Luciana está nos EUA desde a semana passada, preparando um especial do ‘Superpop’, da Rede TV!, sobre a cidade. Aproveitou também para ver desfiles e entrevistou Mickey Rourke, um dos favoritos, hoje, ao Oscar de melhor ator.
PÂNCEPS 1
Um produtor de ‘Casseta & Planeta’ passou a última semana fotografando atores de ‘Caminho das Índias’ caracterizados como indianos. Depois do Carnaval, as imagens irão para os humoristas do programa, que vão criar apelidos para os personagens em suas sátiras à novela, a partir de abril.
PÂNCEPS 2
Os atores da Globo adoram ser ‘sacaneados’ pelo ‘Casseta & Planeta’. É sinal de sucesso, acreditam. Um deles, que pede anonimato, sugere um apelido para José de Abreu: ‘Pâncip’, fusão de Pandit (nome de seu barrigudo personagem) com ‘pânceps’, por sua vez a mistura de pança com bíceps.
IDEOLOGIA
O ‘Por Toda a Minha Vida’, programa da Globo que reconstitui a carreira de artistas, volta a ser produzido após no início de março. O primeiro programa da nova safra deverá ser sobre Cazuza. A emissora ainda estuda a realização de edições para Cássia Eller, Gonzagão, Clara Nunes e Noel Rosa.
CRISE
A crise mundial será tema do primeiro ‘Toma Lá, Dá Cá’ deste ano. Sem dinheiro, Rita (Marisa Orth) venderá cosméticos e os testará no marido, Arnaldo (Diogo Vilela), que será confundido com travesti. E Copélia (Arlete Salles) transformará a casa de Mário Jorge (Miguel Falabella) em motel.
YVONE É FALSA… MÉDICA
Que Yvone, a vilã de Letícia Sabatella em ‘Caminho das Índias’, é dissimulada todo mundo já sabe. Em breve, ficará sabendo que ela é falsa médica e que não tem família na Espanha, ao contrário do que diz. ‘Ela foi atrás da Silvia [Débora Bloch] porque leu no jornal que a amiga estava numa ótima situação. E porque sabia que Silvia era uma presa fácil: generosa e de boa-fé. Foi ver o que podia tirar dali. Quando viu o casamento em crise e o marido fragilizado, atacou’, revela Glória Perez. Segundo a autora, Yvone é do tipo ‘de psicopata que convive com você, está do seu lado e você nem percebe!’. Mas avisa que a vilã não vai matar. ‘Ela não vai matar ninguém porque não será necessário. Mas o faria sem nenhum remorso.’’
Bia Abramo
O grande personagem do ‘BBB’
‘JÁ É uma tradição de verão, desse período pré-carnavalesco.
Estão lá aqueles moços e moças, numa casa fechada, fingindo que estão fingindo que não estão fingindo. Ou ao contrário. Tanto faz. Câmeras registram tudo, a rotina artificial, as relações perigosas, o besteirol do ócio. Claro, é do ‘Big Brother Brasil’ que se está falando.
O nono. Mais um. E, de novo, Pedro Bial de mestre-de-cerimônias, apresentador e animador de todas as galeras -dos participantes, do público aqui de fora, dos figurantes que enchem o palco nas eliminações.
Ao longo dessa trajetória de nove edições, o grande personagem, talvez o melhor de todos os que já passaram, é mesmo Pedro Bial. O Bial, como é chamado pelos confinados.
Não há factóide que supere o poder de atração de MC Bial. Não há curvas nem silicone que se compare a seu charme. Não há estrategista malhado que seja mais esperto e que tenha mais presença de espírito. Não há festa, indicação ao paredão ou dia de eliminação que sejam mais capazes de oferecer mais espetáculo.
Ano passado, ao falar de ‘Filmefobia’, Jean-Claude Bernardet classificou o ‘Big Brother’ como ‘fato estético da maior importância’ e arrolou o programa de TV ao lado dos filmes ‘Santiago’, ‘Jogo de Cena’ e o dirigido por Kiko Goifman, no qual o crítico trabalha como ator. Disse Jean-Claude à época: ‘Estamos todos trabalhando dentro da mesma esfera. E tem tudo a ver com o ‘Big Brother’. Somos contemporâneos. É a espetacularização da pessoa’.
Bernardet chama esses filmes, numa fronteira difusa entre o documental e o ficcional, como ‘objetos fílmicos não-identificados’, que exploram o que ele chama de ‘autoficção’, a diluição da separação entre sujeito, personagem e pessoa.
Se a interpretação de Bernardet está certa, Pedro Bial é quase como o paroxismo desse processo de autoficção, uma vez que a essa tríade, sujeito-personagem-pessoa, ele adiciona a do narrador, autor da narrativa ‘Big Brother’. Mais do que as entidades abstratas (o produtor, o diretor, a edição), uma vez que, além de narrador, também ele está espetacularizado como personagem.
É ele quem baliza, pesa e avalia as diversas autoficções que se desenrolam no programa no momento máximo do discurso sobre a eliminação, quem dá o tom e o ritmo dos acontecimentos e quem regula o clima emocional da casa. E, ainda por cima, escreve a própria história como personagem.
Se um dia Bial sair do ‘BBB’, vai ser difícil achar alguém com tamanha disposição.’
CINEMA
Oscar da recessão
‘Em 1933, no auge da Grande Depressão norte-americana, os membros da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas dos EUA se reuniram para um jantar frugal no Ambassador Hotel de Los Angeles, hoje demolido, mas que entraria para a história 35 anos depois ao ser palco do assassinato do senador Bobby Kennedy.
Era a sexta cerimônia do Oscar. Com apresentação do ator-caubói Will Rogers, a noite premiou entre outros o diretor Frank Lloyd, seu filme ‘Cavalgada’ e os atores Charles Laughton (‘Os Amores de Henrique 8º’) e Katharine Hepburn (‘Manhã de Glória’).
O mundo ia mal, mas os negócios em Hollywood iam muito bem. A cada semana, pagando 15 centavos de dólar pelo ingresso, ou US$ 2,50 em dinheiro de hoje, entre 60 e 70 milhões de pessoas lotavam os cinemas no país inteiro. Era o equivalente à nada desprezível metade da população dos EUA.
Hoje, Los Angeles realiza o primeiro Oscar da pior recessão a atingir o país e o mundo desde aquela década. Diferentemente de nos anos 30, no entanto, o país vai mal -e Hollywood também. A começar pela exibição da cerimônia na TV. Espera-se que a performance de 2008, a menos vista da história recente, se repita.
Cerca de 32 milhões de telespectadores viram a transmissão nos EUA então, ante 40 milhões em 2007 e números progressivamente maiores nos anos anteriores. A baixa expectativa para hoje e a crise levaram a ABC, que detém os direitos dessa noite no país, a baixar 18% o preço do anúncio de 30 segundos, para US$ 1,4 milhão.
Ainda assim, a GM cancelou sua campanha pela primeira vez desde 1992 -a montadora é o cerne da crise por que passa o setor nos EUA, atualmente negociando um segundo pacote de ajuda federal-, assim como a gigante de cosméticos L’Oreal, que anunciou sua saída uma semana antes do evento.
Com isso, a emissora tomou a decisão inédita de liberar a publicidade de estúdios de cinema na transmissão, uma proibição não-escrita que ajudava a manter a credibilidade do prêmio. De qualquer maneira, só serão permitidos filmes que ainda não estrearam, e não concorrentes da noite.
Sem ostentação
Fora do Kodak Theatre, palco do Oscar, a situação não é melhor. A tradicional festa Night Before, prevista para acontecer ontem no Beverly Hills Hotel, cortou as chamadas ‘goodie bags’, sacolas de patrocinadores distribuídas aos convidados com presentes caros como celulares de última geração ou noites em hotel cinco estrelas.
‘Foram os patrocinadores que sugeriram que achássemos um jeito de fazer o mesmo tipo de evento sem tanta ostentação’, disse Ken Scherer, da organização da festa. O tom se repete por toda a cidade, que viu diminuir o número de comemorações pré e pós-Oscar.
A tensão chega mesmo ao tapete vermelho, onde a ordem é paradoxal: ostentar, sim, mas com discrição. ‘Antes, era chique falar: ‘Estou usando US$ 16 milhões de jóias’, diz o assessor Howard Bragman, especializad o em aconselhamento para celebridades em crise. ‘Agora, isso é de mau gosto.’
Nas bilheterias, o problema é notado no enfraquecimento do chamado ‘efeito Oscar’, o salto que os filmes concorrentes normalmente recebem após o anúncio de que foram indicados. Em vez de ver o número de salas aumentar depois da indicação, longas como ‘Milk -A Voz da Igualdade’, ‘O Leitor’ e ‘Frost/Nixon’, três dos cinco da categoria principal, passaram para menos telas.
Mas um indicativo do sinal dos tempos talvez tenha sido uma reunião recente feita pela Motion Picture Association of America, a Fiesp do setor cinematográfico, em Washington. Nela, altos executivos de estúdios esperavam com ansiedade por um anúncio, que seria feito nas horas seguintes.
Ele veio, e o clima foi de decepção. Não se tratava de nenhum das dezenas de prêmios que antecedem o Oscar e vão esquentando a competição. A emenda de US$ 246 milhões em cortes de impostos para as produções de cinema havia sido derrubada do pacote de estímulo econômico do presidente Barack Obama. Hoje, isso também é Hollywood.’
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