Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

SIGILO
Fernando Rodrigues

413 linhas em 3.000 páginas

‘BRASÍLIA – É reveladora da alma do governo a decisão de censurar 413 linhas nas 3.000 páginas das atas do extinto Conselho de Segurança Nacional. Os documentos foram enviados para consulta pública no Arquivo Nacional.

As atas do CSN foram produzidas de 1934 a 1988. Depois, o órgão foi extinto. Eram ocasiões onde os principais ministros, chefes militares e o presidente da República discutiam a conjuntura. O general Jorge Armando Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, justificou a censura. As tarjas pretas sobre o texto encobrem ‘expressões jocosas e ofensivas’. Algumas dessas frases são dos anos 30. Outras, do período da Guerra das Malvinas (1982).

‘Se alguma coisa pode causar constrangimento, nós estamos protegendo’, disse o general. Para não parecer implicância, é justo reconhecer que nos últimos anos tem sido inédito o volume de material oficial remetido pelo governo para o Arquivo Nacional. Para por aí a boa vontade. Prevalece em certos bolsões da administração Lula (como também era o caso na de FHC) a estratégia de fazer diplomacia com sigilo dos fatos. Como se os argentinos não soubessem o que se fala deles no Planalto. Os focos de resistência são alguns jecas-tatus inflados de poder no Itamaraty. Têm o raciocínio enroscado na Guerra Fria.

Um país desenvolvido não precisa temer a divulgação de ofensas proferidas há mais de 60 anos. Tarjas pretas em 413 linhas de 3.000 páginas podem parecer pouca coisa. Não são. Mostram a covardia atávica do governo quando se trata de permitir ao país olhar para o seu passado. Expõe outra vez uma cultura arraigada de não-transparência. Até porque, pior do que as tarjas pretas é não haver prazo específico para a sua retirada. Ficarão lá, para sempre. Essa turma gosta mesmo é de sigilo eterno.’

 

 

JORNAL
Rafael Cariello

‘Novaya Gazeta’ rompe cerco ao jornalismo na Rússia

‘Anna Politkovskaya tinha 48 anos em outubro de 2006 quando, ao chegar à sua casa em Moscou, foi assassinada com dois tiros no peito, outro no ombro e uma quarta bala na cabeça.

Crítica do governo de Vladimir Putin, a jornalista formada pela Universidade de Moscou em 1980 era dona de uma dezena de prêmios internacionais por coberturas como a que apontou violações dos direitos humanos por parte do Exército russo mas também dos rebeldes que buscavam independência na Tchetchênia dos anos 90.

Anastasia Baburova, 25, ainda matriculada na mesma Universidade de Moscou, havia acabado de se filiar ao grupo esquerdista russo Ação Autônoma ao ser morta por outro atirador, há dois meses.

Os mandantes dos dois assassinatos seguem desconhecidos.

Longe de serem casos isolados, elas são exemplos da violência direcionada a jornalistas que fez da Rússia o terceiro país mais perigoso para o trabalho de imprensa no mundo -o índice é baseado no número de mortos no exercício da profissão desde 1992-, segundo a organização norte-americana CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas).

Ambas são também representantes do perfil de profissionais da ‘Novaya Gazeta’ (novo jornal, em russo), uma redação de cerca de cem pessoas que combina a experiência de repórteres como Politkovskaya com certo idealismo de uma maioria recém-saída ou ainda frequentando os bancos escolares, caso de Baburova.

A Gazeta, fundada em 1993, é unanimemente considerada por analistas a publicação mais independente e crítica da Rússia sob Putin.

O enorme poder do atual primeiro-ministro e ex-presidente (2000-2008) tende a limitar a independência dos Poderes Judiciário e Legislativo, as possibilidades de iniciativas políticas e empresariais autônomas no país, bem como a liberdade de opinião e a abrangência dos direitos civis.

É nesse ambiente que a Gazeta consegue uma circulação de 270 mil exemplares, que chegam majoritariamente às bancas de Moscou -uma parcela menor é distribuída em outras grandes cidades- às segundas, quartas e sextas.

Cada edição do pequeno jornal tem cerca de 30 páginas, em que se encontram principalmente notícias da política russa e investigações sobre grupos de poder locais -muitos dos quais terminam por se ligar, direta ou indiretamente, ao primeiro-ministro.

As reportagens alcançam um grupo de leitores que está sobretudo em Moscou. ‘Muitos são intelectuais, com valores liberais, preocupados em terem perspectivas diferentes sobre os fatos, e que não temem criticar as autoridades’, como explica a responsável por Europa e Ásia Central do Comitê para a Proteção de Jornalistas, Nina Ognianova.

Andrei Lipsky, editor-adjunto da Gazeta, afirma que seus leitores ‘são pessoas instruídas, jovens e de meia-idade, que preferem um tipo de imprensa que salvaguarde os valores da liberdade e da cidadania, e que acreditam que o Estado deva ser um instrumento a serviço do cidadão, e não um valor sagrado’.

Mortes

A ‘Novaya Gazeta’ é o jornal ‘mais crítico, mais independente’ da Rússia, diz Ognianova, mas não é o único. Um diário de negócios e economia, o ‘Kommersant’ (algo como ‘homem de negócios’), é apontado por ela como o que tem a estrutura mais profissional, além de ser também independente do governo. Outro exemplo de cobertura crítica é o da revista semanal ‘Novoye Vremya’ (novos tempos).

Entre os entraves para o tipo de jornalismo praticado por esses meios está o que Ognianova chama de estímulo à violência contra a liberdade de imprensa no país. Desde que Putin chegou ao poder, 16 jornalistas foram assassinados na Rússia -quatro deles, segundo a contagem do CPJ, pertenciam à ‘Novaya Gazeta’.

‘Não podemos dizer que o governo russo é diretamente responsável pelas mortes, mas podemos afirmar que ele criou um ambiente em que a impunidade grassa’, diz a representante do CPJ. Dos 16 assassinatos desde 2000, só houve condenação em um dos casos. Em 13 deles, ninguém foi levado a julgamento.

‘Inimigos de uma imprensa livre foram, no fim das contas, fortalecidos e se sentiram à vontade para continuar a censurar os seus críticos -da pior forma possível, matando-os’, ela diz.

O editor-adjunto da Gazeta acusa esses mesmos ‘inimigos’. ‘De onde vêm as balas? Do lado daqueles para os quais é perigosa a verdade a respeito de sua atividade. A maior parte, do lado daqueles representantes das estruturas de poder, que se tornaram objeto de investigações anticorrupção’, diz.

Outro entrave à independência é criado pelas dificuldades econômicas. A ‘Novaya Gazeta’ não consegue sobreviver só de publicidade’, dizem Ognianova, Lipsky e Alexei Simonov, presidente da Fundação de Defesa da Glasnost, uma organização que monitora a liberdade de imprensa no país.

‘Na Rússia há uma interferência do governo no mercado publicitário’, afirma Ognianova. ‘As empresas ligadas ao governo não anunciam em meios críticos. Há também uma restrição informal -embora não saibamos exatamente como ela é lograda pelo governo- que limita o investimento de empresas privadas em publicidade em jornais como a Gazeta.’

A saída encontrada pelo jornal, antes propriedade do grupo de profissionais que o fundou, foi vender 10% de seu controle para o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov e 39% para o milionário russo Alexander Lebedev.

Ambos fazem uma oposição muito mais cautelosa em relação ao governo Putin do que o jornal em que investem. Sem anúncios suficientes para se pagar, Lipsky reconhece que a sobrevivência da publicação depende de Lebedev, que fez fortuna no setor bancário russo e detém também um terço da empresa aérea Aeroflot.

‘O jornal se sustenta com os proventos das vendas e das assinaturas e com os investimentos realizados por acionistas do jornal, como Lebedev’, declara Lipsky.

São essas restrições econômicas e ameaças, fatores que de forma geral limitam drasticamente o número de publicações críticas na Rússia, que terminam por criar as condições que alimentam o perfil profissional da Gazeta.

‘A espinha dorsal do conteúdo é dada por um conjunto de 10 ou 12 jornalistas, entre 40 e 50 anos, que poderiam encontrar emprego em outros meios, menos críticos, mas que só têm os seus anseios profissionais satisfeitos na ‘Novaya Gazeta’, diz Simonov.

‘O jornal atrai grandes nomes e profissionais de boa reputação que querem fazer jornalismo investigativo de verdade’, reitera Ognianova. ‘Eles são parte da equipe. Mas o ‘Novaya Gazeta’ tem também um grande número de repórteres bastante jovens, que acabaram de sair das escolas de jornalismo, idealistas, que querem praticar o tipo de ofício que aprendem na faculdade.’

É essa ‘boa dose de idealismo, de entusiasmo’, ela diz, que explica a persistência em um trabalho que já matou vários de seus colegas. E eles não têm medo?

‘Nosso trabalho testemunha não a coragem, mas a impossibilidade de viver e trabalhar segundo outras diretrizes. Quanto a temer alguma coisa, quando se trabalha muito e de maneira interessante, não há tempo para o medo’, afirma Lipsky.’

 

 

EUA
New York Times

Presidente americano é fiel ao roteiro, com ajuda constante do teleprompter

‘Quando apresentou sua nova escolhida para chefiar a pasta de Saúde, nesta semana, o presidente Obama voltou a cabeça da direita para a esquerda, mas não estava olhando para o público. Ele estava lendo de dois teleprompters colocados do lado de fora da tomada estreita da câmera de televisão. Quando terminou, os teleprompters começaram a descer até o chão. A nomeada, a governadora Kathleen Sebelius, do Kansas, pareceu surpresa.

Os presidentes normalmente usam o teleprompter em discursos mais importantes, mas Obama os emprega para anúncios rotineiros. Ele os usou durante uma visita a uma fábrica da Caterpillar em Peoria, Illinois. Os usou até para falar de espécies em perigo de extinção.

Para Obama, um teleprompter significa disciplina na mensagem. Afinal, ele é um autor de best-sellers que já ajudou a escrever muitos dos próprios discursos. Presume-se que sinta certa fidelidade ao texto redigido com cuidado.

Michael Waldman, que foi redator dos discursos do presidente Bill Clinton, disse que Obama é um dos poucos políticos capazes de fazer uso eficiente de um teleprompter. ‘Acho que ninguém duvida que expresse os próprios pensamentos.’

Mas Bradley A. Blakeman, ex-assessor do presidente George W. Bush, disse que o teleprompter faz Obama parecer um robô. Quando responde a perguntas sem roteiro, disse, ‘sua fala é muito hesitante, e você o vê tomando um bom tempo para refletir sobre o que dizer’.’

 

 

LIVRO
Mônica Bergamo

Nau à deriva

‘Bomba no mercado de livros: o jornalista e escritor Laurentino Gomes decidiu ontem romper com a editora Planeta, que lançou ‘1808’, best-seller que ele escreveu sobre a vinda da família real portuguesa ao Brasil e que há 76 semanas frequenta as listas de livros mais vendidos do país. Gomes afirma que há mais de um mês briga com a empresa para que ela recolha das livrarias 10 mil exemplares que saíram da gráfica com um defeito grave: capítulos de um outro livro, sobre Indira Gandhi, foram enxertados no meio de sua obra.

NA REDE

‘Exigi que a empresa fizesse um recall, com anúncios em jornais e revistas chamando os que compraram o livro para uma troca. Era o mínimo. Estamos vendendo livros errados para as pessoas’, diz Laurentino. ‘E nada aconteceu.’ Ele afirma que visitou duas livrarias da rede Saraiva e que os vendedores sequer sabiam do defeito. ‘Estão vendendo assim até pelo site Submarino’, diz o autor.

FOI A GRÁFICA

A Planeta afirma, por meio de sua assessoria, que o erro foi da gráfica que imprimiu o livro e que os exemplares estão sendo recolhidos. E nega que esteja vendendo livros com defeito pela internet.’

 

 

TELEVISÃO
Laura Mattos

‘Maluf é exemplar’, diz comediante do ‘CQC’

‘‘Um exemplo de político é o Maluf’, acredita Danilo Gentili, repórter do ‘CQC’, da Band.

‘Não estou dizendo que é honesto ou que voto nele, mas ele sempre para e nos dá entrevista. Responde tudo, até se é ladrão. Eu caceto toda hora, e ele continua falando comigo. Isso é uma habilidade que só alguns políticos têm, de saber usar o humor. O Zé Dirceu também.

Ele é o Maluf da esquerda. Já a Marta foge’, diz Gentili, que lembra que, nos Estados Unidos, políticos contratam comediantes para criar piadas para seus discursos porque ‘o humor os aproxima dos eleitores’.

Maluf estará em um dos dez novos quadros do ‘CQC’, que volta nesta segunda, às 22h15, após dois meses de férias.

Enquanto ele fica escondido em uma van com o repórter Oscar Filho, Felipe Andreoli entrevista um eleitor na rua e pergunta o que acha de Maluf. Depois de assistir às críticas por um vídeo no carro, Maluf sai e encara o entrevistado, que repete tudo na sua frente. O quadro se chama ‘Fala na Cara’ e já foi gravado também com Eduardo Suplicy e Soninha.

Gentili (‘29 anos, com voz de 14’) está à frente do ‘Controle de Qualidade’, no qual escolhe uma manchete e vai ao Congresso descobrir até que ponto deputados e senadores estão informados sobre o tema. Uma das notícias é a decisão de Obama de fechar o presídio de Guantánamo. Todos têm uma opinião sobre isso. O problema é quando o repórter pergunta onde fica Guantánamo…

‘Partimos do seguinte princípio: se a população tem que estar informada, imagine os políticos. Escolhemos temas relevantes, que o público conheça. Mas muitos dos políticos, mais os deputados do que os senadores, não sabem do que estamos falando. Vários não sabiam o que são as Farc. E eles ficam enrolando muito tempo, em vez de admitir’, conta Gentili.

Outro novo quadro é o ‘Palavras Cruzadas’. Duas personalidades gravam, separadamente, respostas às mesmas perguntas. O telespectador vê a tela dividida com as respostas. Na estreia, estarão Gilberto Kassab e Eduardo Paes. Para a questão ‘tamanho é documento?’, por exemplo, o prefeito de São Paulo respondeu ‘não’, enquanto o do Rio, após rir, disse ‘isso é com minha mulher’.

Versão de um formato original da Argentina, o ‘CQC’ tem uma das melhores audiências da Band, com cinco pontos de média. Volta com cenário reformulado e a mesma equipe.’

 

 

Folha de S. Paulo

‘Heroes’ terá quarta temporada, diz NBC

‘Apesar da queda na audiência, a série ‘Heroes’ terá mais uma temporada, informou a executiva da rede NBC Angela Bromstad à revista ‘Hollywood Reporter’. O seriado, atualmente na terceira temporada no Brasil pelo Universal Channel, terá mais 18 ou 20 episódios. A série passou de 14 milhões de espectadores durante sua estreia, em 2006, para 8,5 milhões recentemente, nos Estados Unidos.’

 

 

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