ISABELLA NARDONI
‘A Folha Online acompanhou em tempo real a cobertura do júri do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Um blog com informações minuto a minuto (www.folha.com.br/100813) mostrou os principais acontecimentos no plenário. Foram registrados mais de 800 mil acessos.
Com a transmissão pela TV negada pelo juiz Maurício Fossen, apesar de pedido da defesa, o julgamento foi acompanhado em tempo real por outros sites jornalísticos, blogs e pelo Twitter. O microblog foi a ferramenta usada pela plateia para divulgar o que ocorria lá dentro. Com apenas 77 cadeiras, as vagas no plenário foram muito disputadas.
Fossen vetou ainda celulares e outros aparelhos na plateia. Mas houve momentos em que a medida parecia ser descumprida, devido às informações publicadas no Twitter.’
POLÍTICA CULTURAL
O certo pelo duvidoso
‘O Congresso Nacional deve aprovar o Procultura?
NÃO
PROJETO DE lei governamental, o Procultura revoga o único mecanismo de financiamento à cultura do país (Lei Rouanet), substituindo-o por um instrumento de manipulação ideológica. Mecanismo complexo, de arquitetura simples e base conceitual sólida, a Lei Rouanet é divida em três partes: o mecenato, constituído de incentivo fiscal para doadores e patrocinadores; o Fundo Nacional da Cultura (FNC), que abarca os investimentos diretos do Estado; e o Ficart, um ativador de investimentos financeiros para indústria cultural nacional, com motivação de lucro.
Por falta de uma gestão competente ou de vontade política, dois desses mecanismos, o FNC e o Ficart, nunca atuaram adequadamente, transformando o mecenato no único instrumento válido de financiamento público à cultura. Um só guichê para atender as mais diferentes áreas da produção cultural.
Em seus 18 anos de funcionamento, a Lei Rouanet tornou-se a salvação da cultura nacional, ajudando a fomentar inúmeros empreendedores culturais, desde projetos comunitários até a indústria do entretenimento.
Já em 2002 lutávamos todos por mudanças na lei. Exigíamos transparência na aplicação do Fundo Nacional da Cultura, uma nuvem carregada de interesses político-ideológico-partidários. Buscávamos a justa aplicação do Ficart, para que o Cirque du Soleil não disputasse o mesmo mercado de produtores pequenos e independentes, como fez na atual gestão.
Nos últimos sete anos, observamos o mecanismo crescer e se consolidar.
Porém sucessivas portarias e decretos dificultaram a vida dos pleiteantes ao benefício público, que deveria ser amplo e indiscriminado. Os entraves burocráticos criados pelo Ministério da Cultura transformaram-se na maior causa da restrição de acesso aos pequenos e ‘fora do eixo’. Os números do próprio MinC demonstram que a atual gestão fez aumentar a concentração nas regiões mais ricas.
Amparado por um assistencialismo moldado à cara do freguês e por uma campanha publicitária milionária, o ministro Juca Ferreira correu o Brasil com um diagnóstico falso sobre a exclusão cultural brasileira, atribuindo à Lei Rouanet a responsabilidade por todos os problemas centenários da nossa frágil política cultural, eximindo-se daquilo que não conseguiu resolver ou enfrentar.
Com um verniz de participação democrática, lançou uma consulta pública e diz ter recebido mais de 2.000 contribuições. Sem apresentar transparência ou qualquer critério de qualificação das propostas, vem a público com um dos maiores atentados contra a causa pública já vivenciados no campo da cultura, o engodo chamado Procultura.
O projeto decreta o fim da Lei Rouanet e de todos os benefícios e conquistas caros à produção cultural brasileira. Além disso, diminui os benefícios de maneira abrupta e punitiva justamente à classe de artistas e produtores culturais. Mas aumenta os benefícios para a parte lucrativa (Ficart), criando assim uma disparidade enorme em relação aos outros mecanismos existentes, como as leis do esporte e do audiovisual, que, por sua vez, ampliaram os benefícios que o Procultura pretende cortar de maneira injustificada e incoerente.
O projeto é uma afronta à democracia, pois desinstitucionaliza e personaliza a gestão pública. A CNIC (comissão julgadora de projetos), por exemplo, passaria a atuar como uma rainha da Inglaterra. Cheia de pompa e circunstância, mas sem poder decisório, o que caberia somente à pessoa do ministro.
Nenhum dos itens questionados e exigidos pela sociedade são atendidos pelo projeto. Não há um artigo sequer que garanta a distribuição correta e eficaz dos recursos públicos. Diante disso não existe outra saída senão enterrar o Procultura e fazer o que o MinC vem prometendo há sete anos: uma reforma real da Lei Rouanet, baseada em estudos e pesquisas efetivos, que comprovem o impacto positivo das mudanças propostas.
ODILON WAGNER é ator, produtor e presidente da Associação dos Produtores Teatrais Independentes.
LEONARDO BRANT é pesquisador de políticas culturais, presidente da Brant Associados, autor do livro ‘O Poder da Cultura’ e editor do site ‘Cultura e Mercado’.’
Ney Piacentini
Uma bandeira para o teatro
‘O Congresso Nacional deve aprovar o Procultura?
SIM
‘NESTE DIA 27, Dia Mundial do Teatro, as artes cênicas no Brasil, se ainda não têm o que comemorar, têm pelo que lutar.
Após 15 anos da retomada da politização do debate no teatro nacional, que se reiniciou na década de 90 com o movimento Arte contra a Barbárie na cidade de São Paulo, foi criado no novo projeto de lei para a cultura do país, o Procultura, que está no Congresso Nacional, um fundo setorial para as artes cênicas, e foram lançadas, no mesmo projeto, as bases de um programa nacional para o teatro.
Trata-se de um grande avanço, visto que, desde a interrupção pela ditadura do histórico período em que a cultura brasileira tinha amplo diálogo com a sociedade, não se tem perspectiva de o teatro voltar a fazer parte da vida da população do país.
A plataforma nacional é baseada na experiência do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, lei 13.279. Implantado em 2002/2003, o programa mudou a geografia teatral da cidade, descentralizando a produção e o acesso da população ao teatro na capital e exigindo dos contemplados contrapartida social e real inserção nas comunidades onde os projetos são realizados.
O programa nacional, de nome Prêmio Teatro Brasileiro, tem três bases: fomento a grupos e companhias teatrais em todo o país; estímulo à produção teatral por meio de montagens de espetáculos não necessariamente ligados a núcleos estáveis; difusão e circulação de trabalhos teatrais em todo o país.
Quando, em 2008, os editoriais dos grandes jornais do país abriram espaço para debater duas propostas para o teatro brasileiro, uma baseada em fundo público e outra em renúncia fiscal, houve quem não entendesse o teor da ideia que acabou vingando.
Falou-se que o projeto defendido por movimentos teatrais, cooperativas e entidades próximas à produção teatral coletivizada não incluiria os produtores sem vínculos à referida base. Ou seja, produtor e empresas de produção que não fizessem parte do escopo de grupos e companhias não teriam acesso ao programa.
Como se pode ver no projeto de lei, que, do nosso ponto de vista, precisa ser aperfeiçoado, isso não corresponde à realidade: ‘Artigo 66. Fica instituído o Programa Prêmio Teatro Brasileiro, que precisa ser definido em regulamento, para fomentar: I -núcleos artísticos teatrais com trabalho continuado; II – produção de espetáculos teatrais; e III – circulação de espetáculos ou atividades teatrais’.
O inciso II do artigo 66 faz jus ao pleito de um setor significativo da produção nacional.
Outro temor dos produtores seria o critério de escolha na concorrência pública dos projetos a serem contemplados. De acordo com as diretrizes levantadas pelos movimentos teatrais do país, o julgamento deve ser feito por comissões paritárias entre órgãos do governo e representantes da sociedade, com notório saber na área, eleitas pelas representações reconhecidas da categoria, cujo critério central seria o mérito cultural dos projetos.
Existe um argumento de que essas comissões podem ser tendenciosas e excluir aqueles que não estejam alinhados com a ideologia do governo de plantão. Ora, para evitar que os governos sejam os únicos com poder de escolha é que se propõe a paridade com a sociedade civil.
E mais, se esses delegados da sociedade puderem ser escolhidos a partir das entidades que representam legitimamente a categoria, cabe aos agentes teatrais se dirigir às suas representações para garantir o direito de participação nesse processo de escolha de possíveis membros das comissões julgadoras.
Nenhum procedimento é totalmente perfeito, e o tempo molda os problemas que venham a surgir no percurso de implantação de uma nova política para a cultura no Brasil.
Mas, depois de 15 anos de discussões por todo o país, o que está no Congresso, no que diz respeito ao teatro brasileiro, foi o melhor que o setor produziu e da maneira mais democrática possível.
Cabe à comunidade cultural fazer aprovar o projeto e acompanhar de perto a sua instalação, como uma aposta em um novo tempo para o teatro no Brasil.
NEY PIACENTINI , 49, é ator da Companhia do Latão e presidente da Cooperativa Paulista de Teatro.’
CAMPANHA
‘O corregedor regional eleitoral do Estado de São Paulo, desembargador Alceu Penteado Navarro, suspendeu a veiculação da propaganda partidária do PSDB exibida na TV. A decisão foi dada em liminar solicitada pelo PT.
A propaganda mostrava o governador de São Paulo, José Serra, falando da criação do seguro-desemprego e sobre a expansão do Metrô.
‘Eu batalhei, nós conseguimos. O seguro desemprego é hoje um benefício para você, e também parecia impossível que a gente fosse fazer a maior estação (quando correto é expansão) de metrô do Brasil, pois nós estamos fazendo e gerando emprego para os trabalhadores. É isso, planejamento, experiência de vida e o Brasil no coração’, diz Serra no anúncio.
A representação do PT ainda será analisada pelo plenário do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo. Cabe recurso.
No dia 15 deste mês, o mesmo desembargador suspendeu as inserções do PT em que o presidente Lula elogia a ministra Dilma Rousseff.’
Bernardo Mello Franco
Marina é convidada a dançar ‘Rebolation’ em programa popular de TV
‘Conhecida pelo estilo sóbrio e recatado, a pré-candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva (AC), abriu ontem uma exceção para garantir espaço na estreia do quadro Loiras e Morenas, do ‘Programa do Gugu’. Ela topou ser entrevistada por duas modelos esculturais, que a procuraram com uma tarefa inusitada: tentar convencê-la a dançar o ‘Rebolation’ -dancinha que virou febre no Carnaval baiano.
A gravação foi feita no hotel em que Marina estava hospedada em São Paulo. As meninas fizeram perguntas sobre sua infância no Acre e a militância na causa ambiental. Depois sugeriram que a senadora, evangélica, ensaiasse a coreografia. Segundo assessores, ela recusou o pedido, com bom humor.
A brincadeira faz parte da estratégia da senadora de tentar ganhar popularidade entre o eleitorado de menor poder aquisitivo, que ainda demonstra desconhecê-la nas pesquisas. Marina participou de outros programas populares nas últimas semanas.
Anteontem, as loiras também foram atrás da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, que participava de encontro com mulheres metalúrgicas em São Bernardo do Campo (SP). Elas chegaram a ser recebidas pela ministra, mas foram enxotadas do local por sindicalistas que a acompanhavam. Dilma teria prometido gravar novamente em outra ocasião. O quadro será exibido no domingo, na TV Record.’
Lula atribui multa que tomou do TSE a ‘barulho da oposição’
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que só foi multado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por campanha eleitoral antecipada a favor da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, em razão do ‘barulho’ feito pela oposição por ‘razões políticas’.
A declaração foi feita em entrevista ao jornal baiano ‘A Tarde’: ‘Quando ela [a oposição] esteve no governo, não havia empreendimentos, não havia obras, não havia nada para ser inaugurado’, afirmou. Ele negou a campanha antecipada.
‘Estamos prestando contas à população e mostrando nossos serviços, como devem fazer todos os governos. Se a ministra [Dilma] se empenhou em prol das melhorias que estamos implementando, por que na hora da inauguração ela tem de ficar recolhida em casa?’
Lula se referiu apenas à multa de R$ 5.000, aplicada na semana passada, porque a entrevista foi concedida por escrito antes da multa de R$ 10 mil.
Segundo o TSE, o presidente promoveu, em inaugurações no Rio e em São Paulo, a pré-candidatura de Dilma ao Planalto.
Ontem, Lula participou, ao lado de Dilma, da inauguração de um gasoduto em Itabuna (BA) e do lançamento do edital da ferrovia Oeste-Leste, em Ilhéus, também na Bahia.
Na primeira cerimônia, o ministro peemedebista Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), que deve disputar o governo da Bahia contra o pré-candidato à reeleição Jaques Wagner (PT), foi vaiado. Para evitar constrangimentos, Lula e Wagner usaram parte de seus discursos para defender Geddel.
Oposição
Animada com a decisão do TSE de multar em R$ 10 mil o presidente Lula por propaganda antecipada, a oposição promete novas representações sempre que o petista utilizar atos do governo para falar da pré-candidatura de Dilma.
A próxima representação será movida semana que vem. Desta vez, DEM, PSDB e PPS vão questionar o evento realizado anteontem, em Osasco, onde o presidente ironizou a primeira multa de R$ 5.000.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou Lula pela multa: ‘O presidente Lula tem que refletir um pouco. É inédito na história republicana o presidente da República ser chamado atenção pela segunda vez. Ele tem que mudar de comportamento e se comportar de acordo com a lei’.
Em palestra para advogados, FHC ironizou a multa: ‘Todos nós sabemos que não há igualdade perante a lei. Mas agora começamos a ter. Multaram o presidente, isso é importante’.
Líderes da oposição defenderam a ofensiva na Justiça Eleitoral contra Lula. ‘A eleição precisa ter equidade, tem que se simétrica. Cada vez que o presidente transgredir a lei, vamos em cima dele’, disse o líder do DEM na Câmara, deputado Paulo Bornhausen (SC).
(Matheus Magenta, Gabriela Guerreiro e Bernardo Mello Franco)’
VENEZUELA
‘No mesmo dia em que o dono da emissora de TV Globovisión, crítica ao governo da Venezuela, foi preso por criticar o presidente Hugo Chávez, um deputado federal dissidente foi detido sob acusação de agressão a uma policial, em mais um episódio do assédio chavista à oposição no país.
Wilmer Azuaje é um ex-simpatizante de Chávez que passou para a oposição em 2008, após fazer denúncias de corrupção contra parentes do presidente, acusações que repercutiam na mídia venezuelana. Foi eleito pelo Estado de Barinas, governado pelo irmão mais velho de Chávez, Adán Chávez.
O deputado foi algemado e detido anteontem após discussão no departamento de veículos da polícia judicial. Tramitava um documento para recuperar um carro de sua mãe quando, alega a polícia, se exaltou pela demora e agrediu funcionários do setor, o que ele nega.
‘Sou um preso de Chávez’, disse ontem Azuaje, após ser obrigado a passar a noite em um hotel de Caracas. O Tribunal Supremo de Justiça decidiu ontem abrir processo contra o deputado e mantê-lo em prisão domiciliar. A Assembleia Nacional discutia ontem se derrubava a imunidade do parlamentar.
A detenção do deputado e do dono da Globovisión, o empresário Guillermo Zuloaga, engrossou o coro de acusações a Chávez. A ONG Repórteres sem Fronteiras questionou ontem ‘o que está permitido dizer’ sobre o presidente no país.
Preso e colocado em liberdade condicional, com proibição de deixar o país, Zuloaga afirmou ontem que ‘exercer o jornalismo na Venezuela é cada dia mais perigoso’.
Com agências internacionais’
CUBA
‘A premiada blogueira cubana Yoani Sánchez resolveu pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajuda para conseguir permissão do governo de Cuba para visitar o Brasil.
Em carta, que ainda não foi entregue ao Planalto, Sánchez diz a Lula que, se ele intervier, os irmãos Castro cederão para não decepcionar o presidente que ‘tem dado mostras recentes de possuir grande confiança na boa-fé’ de Havana.
A mensagem é mais um lance da pressão do grupo de opositores e críticos do regime cubano para que Lula se manifeste sobre a repressão em Cuba. À Folha Sánchez disse que a carta dá ao presidente a ‘oportunidade de se mostrar ao lado do povo cubano’, após suas ‘infelizes’ declarações sobre os dissidentes do país.
No início do mês, Lula colecionou críticas no Brasil e no exterior por condenar greve de fome de dissidentes cubanos e compará-los a presos comuns de São Paulo. O protesto, segundo Lula, não pode ser ‘pretexto’ para obter libertações.
Pelas leis de Cuba, só sai do país quem obtém a autorização do governo. Desde que lançou seu blog, o Generación Y, há três anos, Sánchez já teve permissão negada quatro vezes, uma delas para vir ao Brasil lançar ‘De Cuba com Carinho’ (Editora Contexto).
Agora, ela quer ir a Jequié, na Bahia, para a estreia, em junho, de um documentário feito por Dado Galvão sobre a repressão em Cuba e em Honduras -após o golpe em 2009. ‘Adoro falar com pessoas que estão fazendo seu trabalho em suas comunidades’, diz Sánchez, que, clandestinamente, dá oficinas para ensinar a criar blogs e alimentar twitters usando celulares.
A internet é controlada, mas o celular foi liberado em 2008, e a intenção, diz ela, é expandir ‘a sociedade civil virtual’ que repercute no exterior, mas tem impacto marginal em Cuba.
Galvão, 29, documentarista e ativista social em Jequié, chegou a Havana com uma passagem doada por um deputado estadual e após fazer campanha numa rádio da cidade (150 mil habitantes) para colher fundos. Gravou Sánchez por duas semanas em Cuba e faz questão que o governador Jaques Wagner (PT) seja o portador da carta da blogueira para Lula. ‘Quero fazer a entrega formal.’’
RECICLAGEM
‘Pressionada pelos custos de fabricação e pelas demandas da sociedade, mais exigente quanto à sustentabilidade ambiental, a produção de papel usado pelos jornais consome cada vez menos recursos naturais.
Mais empresas de comunicação priorizam fontes consideradas ecologicamente corretas -papel originado de reciclagem e de projetos certificados com manejo sustentável, em que selos de auditoria ambiental atestam impacto mínimo sobre a natureza. Nesses projetos, a produção de papel vem de cultivos planejados, com replantio permanente de árvores.
O papel-jornal pode ser considerado um ‘subproduto’. O tronco, parte mais nobre das árvores, destina-se à indústria da construção. O ‘newsprint’, o papel para a impressão de jornais, vem de galhos e pedaços menores que não servem à fabricação de móveis. Também demanda menos celulose que outros tipos de papel. Para cada tonelada de ‘newsprint’, usam-se recursos de 15 árvores -cerca de 2,5 toneladas.
Na avaliação da gerência de desenvolvimento de produto da Norske Skog, um dos principais fornecedores do papel-jornal do país, a tecnologia de reciclagem está totalmente desenvolvida, tem a mesma qualidade do papel obtido a partir das fibras virgens e representa o futuro do ‘newsprint’.
Madeira, água e energia
O processo de fibras virgens requer madeira, água e energia -três recursos que se tornam a cada dia mais escassos e caros. Atualmente, são necessários de 25 m3 a 30 m3 de água para produzir uma tonelada de papel-jornal, metade do que era usado há 20 anos.
Na reciclagem, a indústria de papel recorre a processos termomecânicos em que o uso de produtos químicos é limitado. Quando a tinta de impressão for biodegradável -o que se prevê para os próximos dez anos-, esse processo se tornará ainda mais limpo.
O consumo da energia dá outra vantagem à reciclagem. A ‘polpação’ -habilitar o produto recuperado para novo uso como papel-jornal- exige até 0,4 megawatt-hora por tonelada. No caso de fibras virgens, são 2,5 MWh/t. Com as demais etapas da fabricação, são 3 MWh/t. Número superado só pelo processamento de alumínio, que demanda 3,5 MWh/t.
Por isso, a indústria tem a preocupação de adquirir energia de fontes renováveis. No Canadá, as empresas investem em pequenas centrais hidrelétricas. Na Europa e no Chile, a cogeração própria é frequente. Na cadeia de sustentabilidade, cascas de madeira são aproveitadas para gerar energia.
Certificação
A Folha busca adquirir papel de empresas que adotem compromissos ambientais firmes, verificáveis por meio da certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês).
O papel que o jornal usa -50 mil toneladas por ano- vem do Canadá (60%), da Europa e do Chile (os outros 40%).
O produto da América do Norte basicamente se constitui de 85% de fibras virgens e 15% de recicladas. No ‘newsprint’ da Europa, a proporção é inversa -85% vêm da reciclagem.
Desde o seu início, em 1995, o CTG-F (Centro Tecnológico Gráfico-Folha), em Santana de Parnaíba (SP), trata os efluentes -prática obrigatória para os fornecedores de papel. O CTG-F faz ainda coleta seletiva e a destina à indústria de papel, que a aproveita como embalagens e papel absorvente.
O mais recente Relatório de Responsabilidade Social da ANJ (Associação Nacional de Jornais) mostrou que 75% das publicações tinham programas de reciclagem e tratamento industrial, sendo que 57% contavam com projetos mais amplos, reciclando resíduos gerados por todos os setores da empresa de comunicação.
Em contrapartida, apenas 43% exigiam certificado de origem do papel de impressão.’
TELEVISÃO
HBO aposta em novos atores para fazer rir em série
‘Graça não quer fazer graça. Ela é uma mulher séria, acredita no que faz e naquilo que se transforma quando se interessa por um novo homem. É quem vive a ‘Mulher de Fases’, título da nova série da HBO filmada no Brasil, com produção da independente Casa de Cinema de Porto Alegre.
Mas também podemos chamá-la de Elisa Volpatto, atriz de olhos verdes marcantes nascida em Nova Prata, região serrana do Rio Grande do Sul. Sentada em um café, Graça come seu sanduíche, quando se aproxima um rapaz simpático.
O jovem é boa-pinta, arrumado. Até demais. Saca do bolso um par de luvas e limpa a mesa. Aparece um saco de lixo. Um guardanapo limpa a boca da paquera, suja de maionese. O que está acontecendo? Arremata com spray desodorizante. É um maníaco por limpeza.
Logo Graça está com seu vidro de álcool em mãos, desinfetando tudo o que vê pela frente. É que ela é camaleônica, muda conforme o homem que tem por perto. Recém-separada, se envolve rápido, mas sai das relações com igual facilidade.
‘Nenhuma mulher consegue se envolver com dois homens e resolver tudo em 26 minutos. É claro que é uma comédia’, explica a produtora Nora Goulart. Após três anos desenvolvendo o projeto, com base no livro ‘Louca por Homem’, de Claudia Tajes, a série está na metade das gravações. Ainda não tem data para ir ao ar na HBO, mas vai ficar pronta até setembro.
Saltam aos olhos as novas caras na produção. Elisa Volpatto fez 12 anos de balé e entrou no teatro em 2005. Aos 23 anos, ‘Mulher de Fases’ é seu primeiro trabalho na televisão. ‘Já fui linda e chata. Mas gostei mais de ser feia e marginalizada. Agora, com Graça, tento não cair numa caricatura’, diz ela, durante um curto intervalo das 12 horas de gravações diárias.
‘Graça vai para os relacionamentos sem medo de se machucar. Ela vive intensamente o auge de sua sensualidade.’ Compara sua vida à da melhor amiga. A Selma interpretada por Antoniela Canto, 33, se parece com uma irmã mais velha. Ela tem uma filha de dez anos e implica com Gilberto, vivido por Rodrigo Pandolfo, 25.
‘Pegamos na mão um do outro e dividimos essa experiência. Só torna o trabalho mais especial’, diz ele, indicado ao Prêmio Shell por ‘O Despertar da Primavera’, em cartaz em SP. A veterana do grupo é Mira Haar, 55, que vive a mãe de Graça e ficou conhecida por seu papel em ‘Mundo da Lua’ (Cultura). ‘Os atores não estão marcados por outro trabalho. Ajuda o público a se identificar.’
O diretor Marcio Schoenardie divide a função com Ana Luiza Azevedo. ‘Quando dirijo, ela monta o episódio. Assim, garantimos a unidade do projeto. Fico impressionado como meu olhar masculino é diferente. Sou bem mais rude.’
A dificuldade vai ser para uma segunda temporada. ‘Os homens são todos iguais’, diz Nora Goulart. ‘Vai ser um trabalho não nos repetirmos.’
A jornalista LÚCIA VALENTIM RODRIGUES viajou a convite da HBO’
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