Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Editorial

Direito ao humor

‘Os programas humorísticos do rádio e da TV estão manietados pela lei eleitoral. Uma resolução aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no final de 2009 estabeleceu que, desde o último dia 1º de julho, as emissoras estariam proibidas, em sua programação normal, de ‘usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem, ridicularizem candidato, partido político ou coligação, bem como produzir ou veicular programa com esse efeito’.

O resultado prático mais visível dessa decisão infeliz foi o sumiço das referências a candidatos e à própria campanha em programas como ‘Casseta & Planeta’, da Rede Globo, ‘Pânico na TV’, da Rede TV, e ‘CQC’, da Bandeirantes.

Os efeitos indesejáveis da norma vão muito além da mudança compulsória do conteúdo de programas já incorporados à rotina de entretenimento da população brasileira. Não se trata de defender este ou aquele programa, mas princípios. Não é apenas o humor que está sendo mutilado pelo TSE, mas a liberdade de expressão.

São conhecidas as intenções dos legisladores. Como outras tantas disposições, essa visa a assegurar a lisura do processo eleitoral e garantir aos candidatos um tratamento isonômico. São, sem dúvida, ideais que devem ser observados. Mas que não podem ser obtidos à custa de um diploma legal que parece estar em desacordo com os preceitos da Constituição.

Professor de direito constitucional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gustavo Binenbojm disse em entrevista ao jornal ‘O Globo’ que ‘a lei eleitoral brasileira incorre numa inconstitucionalidade, porque a norma atual é incompatível com o regime constitucional que assegura a liberdade de expressão’.

Binenbojm lembra que nos EUA o modelo da lei eleitoral é o mais liberal do mundo, enquanto na Europa existem algumas regras para resguardar a imagem dos candidatos. Mas nada se compara às restrições da legislação brasileira, na qual prevalece ‘uma cultura oficialista’, calcada na ideia de que ‘o Estado deve proteger o cidadão de si próprio’.

Talvez fosse o caso de acrescentar que a legislação eleitoral do país protege muito mais a imagem dos candidatos do que os direitos do eleitor. Impedir que uma figura como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tão presente na sucessão, ou que os principais candidatos à Presidência sejam parodiados ou abordados sob o prisma do humor é de um obscurantismo atroz. Na pretensão de conferir mais seriedade, infantiliza-se brutalmente o processo eleitoral. Iniciativas desse tipo, de tutela à sociedade, não contribuem para o amadurecimento da democracia.

Esta Folha já se manifestou, em mais de uma oportunidade, contra as tentativas de se impor um excesso de controle judicial sobre os mecanismos de disputa política. A atual legislação consegue ser ao mesmo tempo draconiana e ineficaz. São vários e flagrantes os sinais de que as normas em vigor precisam ser revistas. Se fosse preciso escolher um começo para o debate, poderia ser esse: a população tem o direito sagrado de rir de maneira desimpedida dos seus homens públicos.

 

Folha estreia pacote especial de eleições

A Folha estreia hoje a cobertura especial das eleições 2010, com novo design das páginas do caderno Poder, novos colunistas e novas seções, além da ‘Corrida Eleitoral’, página especial que trará informações sobre as campanhas em um formato irreverente e dinâmico.

Na Folha.com, foi lançado o site especial das eleições, que acompanha em tempo real as atividades dos candidatos, traz análises em texto, áudio e vídeo e os bastidores das campanhas presidencial e nos Estados no blog ‘Presidente 40’.

Dentro de algumas semanas, a cobertura eleitoral migrará para o caderno Eleições 2010, que abrigará diariamente colunistas como José Simão e Nelson de Sá, responsável pela coluna ‘Toda Mídia’. Em agosto, o leitor já poderá acompanhar as principais novidades.

Hoje, estreia a página especial ‘Corrida Eleitoral’, que trará, entre outras novidades, um placar atualizado das pesquisas Datafolha, frases e tuitadas marcantes sobre política, além de charges, ilustrações e curiosidades.

Até o início da circulação do caderno Eleições 2010, a ‘Corrida Eleitoral’ será publicada no caderno Poder aos domingos -depois terá publicação diária.

O caderno especial também terá novas seções, como ‘Pelo Brasil’ (com notas sobre as eleições nos Estados), e dará mais destaque a seções que já compõem o noticiário, como o ‘Promessômetro’ e o ‘Mentirômetro’, que avaliam as promessas e as declarações dos candidatos.

Na Folha.com, a cobertura priorizará a agilidade na publicação de notícias do dia a dia dos candidatos.

Na página especial, que pode ser acessada pela home da editoria no site (www.folha.com.br/poder), o internauta também encontra informações sobre legislação e passos para o eleitor prestar contas à Justiça Eleitoral

O site valoriza a opinião dos internautas, que é exibida com destaque na página inicial. A interação pode ser feita via e-mail, Twitter, (@folha_poder) e Facebook (tinyurl.com/folha-poder).

Nas redes sociais, o leitor não só recebe notícias, mas conversa com a editoria e fica sabendo antes destaques da edição impressa que circula no dia seguinte.

COLUNISTAS

A cobertura das eleições também contará -já a partir de hoje- com um time especial de colunistas.

A atriz Fernanda Torres passa a escrever quinzenalmente aos domingos.

Amanhã estreia Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, que escreverá semanalmente às segundas-feiras.

Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, assinará uma coluna às terças.

O historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, às quartas.

Renata Lo Prete, editora da coluna ‘Painel’, escreverá sempre às quintas.

Na sexta, Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, se revezará com outros analistas estrangeiros.

Claudio Weber Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, continua escrevendo aos sábados

 

AUDIÊNCIA
Emílio Odebrecht

Lições para não esquecer

Em uma noite de semanas atrás, surpreso com a avalanche de notícias sobre dois casos policiais (o assassinato de uma jovem advogada em São Paulo e o suposto envolvimento do goleiro Bruno do Flamengo em episódio ainda não esclarecido pela polícia), decidi cronometrar o espaço que lhes seria dedicado nos jornais de TVs abertas e a cabo: foi nada menos do que 57% do tempo daqueles que pude assistir.

Mas o que me chamou a atenção não foi apenas a quantidade de tempo usada com os dois assuntos durante vários dias, mas principalmente a abordagem da cobertura jornalística, marcada aparentemente pelo compromisso exclusivo com os índices de audiência.

Não tenho dúvidas de que são acontecimentos que mexem com a opinião pública e que cabe à imprensa selecionar e noticiar os fatos que impactam nosso dia-a-dia. Porém, o papel adicional que a televisão pode exercer de contribuir para a formação das pessoas em momentos como este não pode ser esquecido.

Fiquei com a sensação de que, refém dos índices de audiência, a televisão acaba se deixando dominar por notícias dessa natureza. Em quase sua totalidade, o noticiário concentrou-se na exibição e no relato de detalhes que atraem uma certa curiosidade mórbida dos espectadores, sem buscar no bojo das tragédias as profundas lições que deixam e que servem para educar para a vida as novas gerações. Na cobertura jornalística dos dois fatos o tratamento tem sido semelhante ao que é dado aos espetáculos, quando, em minha opinião, deveria ser aproveitada a oportunidade para reflexão, análise e investigação serena e cuidadosa das causas que resultam em episódios tão dramáticos.

No caso do goleiro Bruno, por exemplo, muitos aspectos poderiam ser aprofundados pelas reportagens das TVs. No Brasil, olhamos com um certo descompromisso para jovens como ele, que, de repente, sem o menor preparo pessoal ou social, se deparam com o sucesso e a riqueza. Transformam-se em ídolos, fazem opinião, são imitados, mas perdem a noção dos limites e acabam vítimas trágicas das próprias escolhas -porque não receberam na hora certa amparo e orientação.

É desejável, portanto, que a televisão mude o enfoque ao contar essas histórias, de modo a retirar de cada uma delas lições que sirvam à construção de uma sociedade melhor. Ter a audiência como a única referência da quantidade e da qualidade da abordagem é visão de curto prazo -porque, dessa forma, as emissoras não criarão telespectadores mais críticos e mais preparados para assistir programas melhores no futuro. Perdem elas próprias, perde a sociedade, perde o Brasil.

 

TELEVISÃO
Celso Kinjô assume a direção de jornalismo da TV Cultura

O jornalista Celso Kinjô, 65, assumirá a direção de jornalismo da TV Cultura a partir desta semana.

Ele chega à emissora após a polêmica do afastamento de seu antecessor no cargo, Gabriel Priolli, no início de julho. Priolli foi demitido em meio a boatos de ingerência política sobre a emissora.

O nome de Kinjô foi confirmado pelo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello.

‘O Kinjô é uma referência no mercado. Achamos uma oportunidade de trazê-lo de volta para a televisão’, disse.

Kinjô já trabalhou no ‘Jornal da Tarde’ e na TV Globo.

A Cultura anunciou ainda a contratação de Alexandre Machado como editor-chefe e de Maria Cristina Poli como âncora do Jornal da Cultura.

 

Audrey Furlaneto

Trash, versão brasileira de ‘Law & Order’ sai do ar

Luana Piovani como delegada? Ana Paula Arósio como juíza? Henri Castelli como advogado criminal? Soa insólito, mas aconteceu: a Globo escalou os atores acima para estes papéis.

E mais: a tentativa era fazer algo próximo da já consagrada ‘Law & Order’, série policial que durou 20 anos nos Estados Unidos.

‘Na Forma da Lei’, a versão brasileira, não passou de oito episódios, ou seja, nem dois meses. Sai do ar nesta terça-feira com média de 17 pontos de audiência (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo) e 32% de share (participação dentre os televisores ligados no horário).

Nela, Luana Piovani é a delegada Gabriela Guerreiro que, define, é ‘competente, bem-humorada, afetuosa’.

Em ‘Law & Order’, o papel surge na franquia ‘Special Victims Unit’, no ar há 11 anos. A atriz Mariska Hargitay é a detetive Olivia Benson, que teve a mãe estuprada e, por isso, decide investigar crimes sexuais.

Com personagens menos intensos, a série nacional penou com atuações sofríveis e diálogos que incluíram até frases em latim -de autoria de Antonio Calmon.

É fato que, diante de tanto desacerto, como série policial, ‘Na Forma da Lei’ foi um bom humorístico.

NO BRASIL ELA É

NOME Luana Piovani

IDADE 34 anos

SALÁRIO A Globo não informa

PERSONAGEM Gabriela Guerreiro

PERFIL Para a atriz, ‘comprometida, bem-humorada, afetuosa e competente’

INFLUÊNCIAS Aulas de tiro e ‘instinto mesmo’

O QUE NÃO COLOU Atuação sofrível de cenas dramáticas às de ação; ‘Nunca havia tocado numa arma’, confirma

NOS EUA ELA É

NOME Mariska Hargitay

IDADE 46 anos

SALÁRIO US$ 400 mil por episódio, que são cerca de R$ 705 mil (ou US$ 9,6 milhões por temporada)

PERSONAGEM Olivia Benson

PERFIL A detetive júnior foi investigar crimes sexuais por causa de suas raízes. Ela nasceu após sua mãe, alcoólatra, ter sido estuprada

INFLUÊNCIAS Cita como séries preferidas ‘Deadwood’, ‘Seinfeld’ e ‘Arrested Development’. Entre os colegas, Daniel Day Lewis, Robert de Niro, Jack Nicholson, Meryl Streep, Jodie Foster

O QUE COLOU Ganhou o Emmy em 2006 e o Globo de Ouro em 2005. É um dos mais altos salários da TV americana e já foi confirmada a 12ª temporada do seriado

‘Põe o resultado aí! Manda esse imbecil colocar o resultado!’

FAUSTÃO apresentador, no último domingo, pedindo à produção para deixar na tela o resultado da ‘Dança dos Famosos’

La garantia soy yo Na internet, o mercado pirata de novelas oferece farto acervo (e nenhuma garantia de qualidade). Um ‘vendedor’ em site de comércio livre oferece 52 DVDs com a íntegra de ‘Roque Santeiro’ (1985) por R$ 200. Já ‘A Viagem’ (1994), com 30 DVDs, sai por menos: R$ 100.

Vale tudo A SporTV, que briga com a ESPN na TV paga, comprou direitos de exibição do Mundial Paraolímpico de Natação e do Campeonato Português de Futebol.

Vida que segue Depois de ‘Viver a Vida’, na Globo, o ator Beto Nasci fechou contrato com o SBT. Vai atuar em ‘Corações Feridos’.

AUDIÊNCIA

DE LARGADA

‘TI TI TI’

29 pontos (média dos dez primeiros capítulos da novela da faixa das 19h da Globo; a trama anterior, ‘Tempos Modernos’, teve a mesma marca no princípio)

 

Clarice Cardoso, Pedro Diniz e Vivian Whiteman

Zona Luxo

A região do Tatuapé, que informalmente inclui a área nobre do jardim Anália Franco, virou o novo ‘point’ quente das novelas da Globo. As tramas de ‘Ti Ti Ti’, do horário das sete, e ‘Passione’, das oito, levaram seus personagens para o bairro emergente da zona leste de São Paulo, despertando reações controversas entre os moradores da área.

Um dos focos da discórdia é a perua Clô, personagem de Irene Ravache, que está roubando a cena em ‘Passione’.

Nova rica e metida a chique, Clô já convenceu o marido a se mudar para o Jardim América e odeia a ‘cafonada’ do bairro onde mora. Astuciosa, a trama não especifica o endereço da madame. Porém, há indícios no ar: nos primeiros capítulos de ‘Passione’, cenas do núcleo de Clô foram gravadas no shopping Anália Franco.

Além disso, há a família da feirante Candê (Vera Holtz), que mora declaradamente no Tatuapé. Simples e modestos, representam os ‘não emergentes’, moradores mais antigos do bairro.

O fato é que dezenas de moradores com quem a Folha falou na semana passada acreditam que as críticas de Clô se referem ao Tatuapé, área tradicional da ZL (‘zelê’, para os íntimos) e que vive um processo de hipervalorização imobiliária. São telespectadores como a psiquiatra Maria Lúcia Matheus, 48. ‘Sei de pelo menos 300 mulheres que, indignadas, chegaram até a fazer boicote’, diz.

HOMENAGEM

Outros identificam o bairro com o jeitão da perua. ‘As mulheres do Tatuapé querem status. Não têm o berço dos Jardins, mas têm dinheiro’, diz a designer de semijoias Erika Morgan, 25, que tem uma loja no Tatuapé.

Para Silvio de Abreu, autor de ‘Passione’, e Maria Adelaide Amaral, que assina o remake de ‘Ti Ti Ti’, a escolha do Tatuapé tem valor sentimental. ‘Tenho recordações de infância no bairro, quando ia visitar parentes, e o jardim Anália Franco nem existia’, afirma Silvio.

Colaborou LEONARDO FOLETTO

 

Sarah Lyall, New York Times

Em série, ator ri da vida pós-’Friends’

O veterano produtor e ator britânico Jimmy Mulville sofreu com a malfadada americanização de ‘Game On’, comédia dos anos 1990 da BBC, quando ela foi comprada e adaptada pela Fox, dos EUA.

Essa interferência é a base de ‘Episodes’ (episódios), nova série cômica sobre Hollywood com Matt LeBlanc e coproduzida por Mulville com a Showtime-BBC. ‘Episodes’ acompanha as provações de um casal de roteiristas britânicos contratados por uma rede americana para recriar um seriado de sucesso. A rede adora o seriado -inicialmente.

Após um olhar atento, o protagonista parece demasiado britânico. Ninguém vai gostar dele. Que tal contratar outro ator? Que tal Matt LeBlanc? Que tal mudar o nome do programa?

‘Então eles veem o programa que curtiam desaparecer’, disse David Crane, que escreveu o roteiro em conjunto com Jeffrey Klarik. ‘Episodes’ está previsto para ir ao ar pela Showtime a partir de janeiro. Não há data para a estreia no Brasil.

PÓS-’FRIENDS’

O humor está na relação do casal com LeBlanc e também no próprio LeBlanc. Seu personagem tampouco é ele mesmo, mas é mais ‘Matt LeBlanc’ que o próprio, assim como o ‘Larry David’ de ‘Curb Your Enthusiasm’ lembra um gêmeo maligno que guarda semelhança com o Larry David real.

Tudo isso permite a LeBlanc divertir-se ironizando seu status complexo de celebridade pós-’Friends’ (1994-2004). ‘O papel encara toda essa persona de Joey Tribianni [personagem dele em ‘Friends’]’, diz o ator, 43.

ENTRE REAL E FICTÍCIO

Em ‘Episodes’, a rede insiste que o falso Matt LeBlanc aja como a imagem que se tem de Matt LeBlanc e que ele represente, basicamente, como se fosse Joey.

O Matt LeBlanc fictício ‘é um pouco mais emocionalmente marcado’, tem dois filhos e está passando por um divórcio amargo (o real também é divorciado, mas não tem meninos, apenas uma filha). Ele coleciona obras de arte, possui um jatinho (‘bem que eu gostaria de ter um jatinho’, diz o LeBlanc real) e gosta de gabar-se de sua mansão e seu carrão.

‘O LeBlanc do seriado usa o fato de as pessoas presumirem que sou burro -porque representei o burrinho em ‘Friends’- para manipular situações’, afirmou.

Se surpreende ouvir LeBlanc utilizar corretamente palavras como ‘manipular’, surpreende igualmente descobrir que ele fala pouco.

‘Joey era cheio de energia e falava alto, mas não sou assim. Tinha que tomar muito café quando filmávamos.’

A atriz britânica Tamsin Greig, que faz Beverly, uma das roteiristas, disse achar essa dicotomia fascinante.

Beverly e o marido, Sean (Stephen Mangan), têm relações distintas com Hollywood, levando a mais tensões enquanto se desentendem sobre como conservar os empregos sem perder os resquícios de visão artística.

PESO DE JOEY

‘Friends’ chegou ao fim em 2004, e seus seis protagonistas vêm tendo graus diversos de sucesso no segundo ato de suas carreiras.

LeBlanc protagonizou o único ‘spin-off’, ‘Joey’, entre 2004 e 2006, sem sucesso. Ele não fala muito sobre o assunto, exceto para dizer que não foi uma boa experiência.

Desde então, passa tempo com sua filha, de seis anos, e se esforça para ficar longe do cenário de Hollywood. Ele afirma ter recebido muitos roteiros, mas que, após ‘Friends’, só agora sentiu interesse em voltar ao trabalho.

O ator disse ter se convencido a voltar à televisão devido à oportunidade de trabalhar com Crane, um dos criadores de ‘Friends’. De volta ao trailer, após gravar ‘Episodes’, o ator refletia sobre Joey Tribbiani, que vai sempre segui-lo.

Alguns anos atrás, quando caminhava em Londres com Gary Oldman nas filmagens de ‘Perdidos no Espaço’ (1998), ele se espantou ao ver que as pessoas hesitavam diante de Oldman, mas ficavam felizes em topar com ele.

‘Interpretei isso como elogio’, disse. ‘Em última análise, é bem melhor que ganhar a vida cavando buracos.’

Tradução de CLARA ALLAIN

 

Vanessa Bárbara

Rugas de televisão

Muitas vezes, a TV nos faz envelhecer. Aqui em casa, há ocasiões em que permanecemos hipnotizados por horas a fio, sem conseguir desligar o aparelho, presos irremediavelmente num programa qualquer.

Quando saímos do transe, é setembro e já temos bisnetos.

A atração pode ser ruim ou enfadonha, não importa. É comum escutar nossos neurônios estalando, fritando, cometendo suicídio. Ainda assim, por alguma razão, continuamos sintonizados.

A categoria de programas desnecessariamente longos inclui reality shows como ‘American Idol’, que até maio começava às nove da noite e ocupava toda a madrugada de sábado, no canal Sony. Há também os épicos infomerciais de cintas elásticas que se alastram pelos canais numa espécie de loop demente.

Na Record, houve uma edição do ‘Programa do Gugu’ (dom., 16h às 20h) em que se construiu uma casa para uma espectadora. Tudo nos fazia acreditar que o processo era exibido em tempo real, pois o programa deve ter durado umas boas duas horas. Prego a prego.

Nosso novo entorpecente domiciliar é o ‘Tribunal na TV’ (Band, sex., às 23h15), programa que faz a reconstituição dramática de crimes polêmicos, sob a narração do jornalista Marcelo Rezende.

No dia 23, o caso era um homicídio por asfixia de gás, estrangulamento e afogamento de uma mulher grávida de nove meses, perpetrado pelo próprio marido na banheira de hidromassagem.

O apresentador, num texto exageradamente emotivo, lança mão de inúmeras pompas narrativas para criar suspense, antecipando as atrocidades que virão e pondo em dúvida o desfecho.

Um grupo de atores ‘sui generis’ assume o papel de cada um dos envolvidos. Com a naturalidade de um filólogo parnasiano, eles dizem coisas como: ‘O que é um filho, senão o reflexo de um amor?’. Ou: ‘Ele nunca me inspirou confiança. Ora grosseiro, ora distraído’.

O crime é contado de forma fragmentária, cheia de saltos temporais, talvez com a intenção de manter o espectador mentalmente confuso, sem condições de se defender desligando o aparelho.

Foi o que houve conosco naquela sexta-feira. Ao fim do programa, acordamos do transe televisivo a tempo de botar nossas dentaduras no copo d’água e ir dormir, reclamando de um leve lumbago.

 

PUBLICIDADE
Mariana Barbosa

‘Publicidade de produto lícito não faz mal à saúde’

Para o presidente do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), Gilberto Leifert, as tentativas de restringir a propaganda de alimentos, bebidas e medicamentos, por parte da Anvisa ou do Congresso, não têm o respaldo da sociedade. Leia os principais tópicos da entrevista.

Cerco à publicidade

Publicidade de produto lícito não faz mal à saúde. Ou os produtos têm defeitos intrínsecos e não deveriam ser fabricados e consumidos ou, se o Estado admite que eles deveriam ser ofertados, é porque os considera seguros para o consumo. O jovem bebe porque a tribo bebe. A influência da propaganda se dá na escolha da marca.

Constituição

As iniciativas da Anvisa são autoritárias e inconstitucionais. A liberdade de expressão comercial é uma garantia constitucional, e só o Congresso pode legislar sobre a propaganda.

Demanda social

O Estado quer impor algo que não é um problema para a sociedade. Não há demanda social para regular a propaganda. De 104 mil reclamações que chegaram aos Procons de todo o país no último ano, só 1,19% é relativo à propaganda. No Conar, apenas 24% dos 343 processos abertos em 2009 foram movidos por consumidores.

Papel do Estado

A autoridade sanitária tem um papel importantíssimo em uma sociedade com uma grande economia informal e com epidemias.

A tubaína de fundo de quintal e o biscoito lotado de gordura trans vendido a granel, que não são submetidos a controle sanitário nem são anunciados, vão continuar na mesa dos cidadãos. Banir a publicidade é uma forma preguiçosa de acudir a sociedade.

Todos são responsáveis

Estado, escola, fabricantes de produto, meios de comunicação, sanitaristas, juristas, todos têm de ajudar a construir modelos para aprimorar a sociedade. A propaganda não pode ser responsabilizada isoladamente. Se você apenas restringe a publicidade, os resultados não serão atingidos.

Regras mais rígidas

Não é que o Conar seja contra o aprimoramento das regras para a publicidade. É que as regras que nos foram apresentadas, nas audiências públicas da Anvisa, no Congresso, eram absurdas. Tirar a criança do comercial não vai resolver os problemas da sociedade. Se a questão é excesso de açúcar, sódio ou gordura trans, a Anvisa tem de cuidar da formulação do produto, não da publicidade.

Cigarro

O país, por meio do Congresso, decidiu praticamente banir a publicidade do cigarro. E o Conar tem ajudado a fazer cumprir a lei. Quando encontramos algum anúncio, atuamos. Mas uma pesquisa da Fipe indica que, após o banimento da publicidade, ao contrário do que se apregoa, o consumo não teve o comportamento que se esperava.

30 anos de Conar

O Brasil tem sistema misto de legislação e autorregulamentação. Os regulados abrem mão de frações de seus direitos em nome do bem comum. Quando o Conar resolve as controvérsias que ele mesmo cria, diante de um anúncio, é um grande negócio para anunciante e consumidor.

Engana-se quem acredita que o anunciante fica feliz de pregar mentira e ser recusado no ponto de venda. Propaganda enganosa dá detenção e multa. Está no Código de Defesa do Consumidor.

 

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