Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO

Programas católicos e evangélicos devem sair do ar na TV Brasil

O Conselho Curador da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) deve tirar do ar os programas católicos e evangélicos hoje veiculados pela TV Brasil e pelas oito emissoras de rádio que compõem a rede pública criada pelo governo Lula.

Assim tendem a decidir os integrantes do conselho da EBC que analisarão a questão em 7 de dezembro.

O tema religião, porém, não será banido. A ideia é que seja abordado de forma mais ampla, sem programa específico sobre uma ou outra crença.

A proposta deve ser apresentada para votação do conselho sob a forma de uma minuta de resolução.

Está madura entre os conselheiros a ideia de que a rede pública deve aumentar o diálogo com as religiões.

‘Elas [as religiões] já possuem tempo em redes privadas para divulgar seu proselitismo. Dar espaço também na rede pública me parece antidemocrático’, diz o conselheiro Daniel Aarão Reis.

Os programas que devem sair da grade são ‘Reencontro’ (evangélico), ‘Santa Missa’ e ‘Palavras da Vida’ (católicos).

Porém uma consulta pública sobre o tema mostrou que, de 140 propostas apresentadas, 118 pediam a manutenção da programação.

Apenas 13 reivindicavam a exclusão dos programas com o argumento de que o Estado brasileiro é laico.

 

Luciana Coelho

Palin Show

O canal americano TLC evita dizer ‘reality show’. ‘É um documentário.’ Ou um programa de viagem. Uma atração para a família. Ou, na versão do estrategista conservador Karl Rove, ‘algo que não ajuda os americanos a imaginarem Sarah Palin na Casa Branca’.

O rótulo cabe ao freguês. O que conta é que o espectador/eleitor terá uma dose televisiva extra da política conservadora mais pop dos EUA nas noites de domingo. O segundo episódio de ‘Sarah Palin’s Alaska’ vai ao ar hoje no TLC, braço do Discovery.

Embora o bom senso favoreça Rove, é difícil prever o futuro de Palin quando se dissipa a linha entre política, jornalismo e entretenimento nos EUA.

Celebrizada como candidata republicana a vice-presidente em 2008, ela renunciou ao governo do Alasca e voltou sua carreira política para muito do que estofa o showbiz.

O novo programa traz em seus 45 minutos pouco de política além do broche com a bandeira americana que ela ostenta na lapela, lado a lado com um pingente em forma de crucifixo.

‘As pessoas me conhecem do palco político, ou talvez por meio do meu livro’, explica a musa do movimento ultraconservador Tea Party. ‘Mas eu sou uma mãe de cinco e acho importante que meus filhos vejam o que o Alasca tem a oferecer.’

O primeiro dos oito episódios atraiu quase 5 milhões de espectadores, na conta do instituto Nielsen, o Ibope americano.

Fica cada vez mais difícil fugir de Palin. Comentarista da Fox News, ela estampa a capa de hoje da revista do ‘New York Times’ e, na terça, lança o segundo livro (‘America by Heart: Reflections on Family, Faith and Flag’ – América de Cor: Reflexões sobre Família, Fé e Bandeira). Depois, turnê.

O novo show é uma colagem de sequências da família se divertindo em paisagens de gelo, entrecortada com rápidas cenas domésticas.

Estas, invariavelmente, são da mãe zelosa das filhas -seja cozinhando com Piper, 9, ou ralhando com Willow, 16, por levar um amigo ao quarto. Contrária ao sexo antes do casamento, teve de lidar com gravidez da filha Bristol, aos 17, na campanha.

‘Amo esse Estado como amo minha família’, exclama a certa altura. O primeiro é mais interessante que o segundo, e as imagens valeriam o programa se não fosse a narração incessante na voz esganiçada da protagonista.

AÇÃO!

No primeiro episódio, ela aparece pescando salmão em um lago frequentado por ursos, para que Piper e uma amiguinha vejam uma ursa defender a cria.

De mais, há escaladas, voos de hidroavião e passeios no trailer. No episódio de hoje, ela praticará tiro, fará rafting, e andará de trenó.

Como Palin é uma super-mulher, ou tenta parecer, podemos vê-la também trabalhando no miniestúdio de TV montado em casa para falar à Fox, mexendo em papéis e respondendo e-mails.

A versão candidata -ela já disse querer disputar a Presidência em 2012- só aparece quando Palin exibe a cerca erguida para evitar a xeretice do vizinho e sugere que ‘as pessoas olhem e pensem que é disso que precisamos para proteger nossas fronteiras’.

O exemplo da mãe já é seguido por Bristol, que disputa amanhã a final de ‘Dancing with the Stars’ (a versão americana da ‘Dança dos Famosos’). Mesmo com notas baixas, a moça superou concorrentes graças aos votos do público. Não, claro, sem polarizar o eleitorado.

 

Keila Jimenez

‘Virei a maior bandida e assassina deste país’

Se ainda há quem não saiba quem matou Odete Roitman, vilã que voltou à moda com a reprise de ‘Vale Tudo’ (Viva), é melhor parar de ler por aqui.

Em entrevista à Folha, Cássia Kiss, 52, a intérprete de Leila, a assassina, contou ter guardado na época o segredo por dois meses e que acabou até esquecendo-o de verdade.

Beatriz Segall não fala muito sobre Odete. Você se incomoda de falar sobre a novela?

Cássia Kiss – Você está louca? Acho bárbaro. Se Leila não matasse Odete vocês não estariam me ligando (risos).

Como soube que seria a assassina de Odete?

O Denis Carvalho [diretor] falou dois meses antes: ‘A Leila vai matar a Odete. Não conta para ninguém’. Falei: ‘Tá bom’. Aí esqueci mesmo. Depois, quando vi o alvoroço todo sobre a questão falei para ele: ‘Ô, Denis, foi a Leila que matou mesmo?’. Fui me certificar porque pensei que não era possível ter sido ela. Foi muito engraçado.

Acha que foi mais fácil manter o segredo naquela época?

Acho que sim, mas sou ótima para guardar segredo.

Como foi gravar a revelação de que Leila era a assassina?

Foi no último dia da novela, 6 de janeiro [de 1989]. Era meu aniversário, teve bolo e champanhe no estúdio. Gravamos a cena poucas horas antes de ir ao ar. No dia seguinte eu estava estampada na primeira página de todos os jornais apontando uma arma. Virei a maior bandida e assassina deste país. Foi uma loucura.

Consegue entender o sucesso da reprise?

É uma história fascinante, que aconteceu quando o país estava muito desacreditado. O Gilberto [Braga, autor] botava frases na boca da Odete que eram um desprezo pelo país. Isso mexia muito, né?

Como é a sensação de se ver em novela de 22 anos atrás?

(risos) Engraçadíssima. Acho que uma das glórias da minha profissão é se imortalizar de alguma forma.

É seu personagem preferido?

Não, longe disso. Leila foi histórica porque matou a Odete. Tem outras.

Adultos festejam ‘Chaves’ no Cartoon Network

Há 20 dias no ar no Cartoon Network, os eternos ‘Chaves’ e ‘Chapolin’ já vêm mudando a audiência do canal. São muitos os movimentos na internet de fãs do seriado felizes com a chance de rever episódios há 20 anos esquecidos entre as reprises no SBT, até então o único canal a exibir no Brasil o sucesso da Televisa. ‘Buscamos conteúdo local relevante e adequados ao DNA do canal. ‘Chaves’ e ‘A Turma da Mônica’ são exemplos perfeitos disso’, disse o diretor de conteúdo do Cartoon na América Latina, Pablo Zuccarino. No pacote comprado pelo Cartoon há 162 episódios do ‘Chaves’ e 123 do ‘Chapolin’.

 

Vanessa Barbara

O segredo de Gerson

NO PRÓXIMO dia 29, segunda-feira, será revelado o segredo de Gerson, da novela ‘Passione’ (Rede Globo, às 20h55; 12 anos).

O personagem, vivido por Marcello Antony, tem uma obsessão patológica por algo que vê no computador e que talvez esteja ligado a um abuso sexual sofrido na infância.

Desde meados de agosto, quando foi ao ar a cena em que a mulher de Gerson descobre o que há na tela e o chama de ‘doente’, ‘podre’ e ‘nojento’, pululam na internet várias especulações sobre o teor do mistério. Algumas alternativas já foram descartadas pelo autor da novela, Silvio de Abreu: Gerson não seria pedófilo nem homossexual.

Além disso, a Globo teve de prometer para a Goodyear, patrocinadora do personagem, que o enigma não seria nada escabroso.

Segundo o diretor de marketing da firma, o que Gerson faz no computador ‘não é ilegal, é tratável e é algo do cotidiano’.

Portanto podem esquecer as mirabolantes hipóteses de necrofilia, zoofilia e canibalismo, já que o relacionamento com cadáveres e coelhinhos não seria nada positivo para a imagem da empresa.

Também coprofilia (fezes) é pouco provável, bem como formicofilia (relativo a pequenos animais, tais como caracóis, rãs e saúvas) e autonepiofilia (prazer em usar fraldas).

O acordo comercial que garante a caretice do mistério na trama tirou um pouco da graça das especulações, que hoje se concentram em apostas mais modestas, como fetichismo por dedões do pé, voyeurismo via webcam e sadismo.

Outra explicação cogitada é a de que Gerson seria hacker -essa, além de tola, foi descartada assim que a mulher declarou que tinha ‘nojo’ dele. A não ser que ele seja um enrustido usuário de Windows.

‘Não tem explicação! Você é podre!’, gritaria Diana, adepta da família Macintosh.

Fico imaginando como foi a negociação entre os roteiristas e o patrocinador: fraldão pode? E envolver um punhado de besouros? Ter relações com alienígenas? Gostar de gente com soluço? Botar um trapézio no teto? Que tal se o Gerson fosse mulher, uma coruja ou o avô de si mesmo?

Nunca se sabe o que os anunciantes podem achar de um personagem que se revela, para nojo da mulher recatada, uma grande e gorda coruja. Pega mal em termos de RP.

 

GUERRA

Carlos Eduardo Lins da Silva

Jornalista analisa operações militares secretas de Clinton

Bill Clinton foi um presidente a quem os militares americanos tiveram dificuldade para respeitar como seu comandante-em-chefe.

Ao contrário da maioria de seus predecessores, ele não só jamais havia servido às Forças Armadas como fez oposição cerrada à sua ação num conflito extremamente sensível, o do Vietnã.

Havia suspeitas fortes de que Clinton havia usado de estratagemas para escapar da convocação quando estava em idade de fazer o serviço militar, então obrigatório, na década de 1960.

Além disso, no início de sua gestão, mexeu numa casa de marimbondos ao tentar mudar a proibição a homossexuais na carreira militar.

Ao longo dos seus oito anos na Casa Branca, Clinton e os militares acharam um jeito de conviver em paz.

Ele até conseguiu o respeito entre muitos deles, embora as primeiras ações de seu mandato, como a missão na Somália, tenham terminado de modo humilhante.

Esse relacionamento merece um estudo mais aprofundado. É mais ou menos esta a proposta do jornalista Richard Sale em ‘As Guerras Secretas de Clinton’, que ganhou uma edição brasileira.

Uma de suas teses centrais é que o presidente ganhou o respeito de seus subordinados em uniforme pela maneira como se engajou em operações não públicas, que tinham como objetivo máxima eficiência com mínimo custo.

O resultado de seu esforço não é animador. O autor toma partido a favor de Clinton e de fórmulas ilegais de intervenção dos EUA em assuntos de outros países.

LEITURA

Como os temas de que trata são sensíveis, a maioria absoluta de suas fontes falou com ele sob a condição de não ter identidade revelada.

Sale é um jornalista respeitável, mas não incluído no time dos melhores do país. Não há razão para desconfiar de suas apurações. Mas é esquisito ler relatos detalhados de reuniões secretas sem que o leitor saiba quem foi que deu as informações.

A linguagem, engajada, ufanista e gongórica, amplia mais as dúvidas do leitor sobre a fidelidade das afirmações. Por exemplo, o ex-vice-presidente Al Gore é classificado como ‘sólido, imponente, ágil como um falcão’.

A tradução para o português, muitas vezes claudicante (‘chefe do Estado-Maior das Forças Armadas’ vira presidente da Junta de Chefes das Forças Armadas’), atrapalha a fluidez e a compreensão do texto.

A falta de notas que contextualizem referências a locais, pessoas e incidentes que o leitor americano certamente conhece bem atravanca o brasileiro médio.

O livro é detalhista. Explora a maneira como Clinton atuou nas crises nos Bálcãs e em ações contra o Iraque e os terroristas da Al Qaeda.

Traz informações (caso se resolva crer nelas) interessantes para entender melhor a política externa e militar da gestão Clinton. Mas só para quem realmente se especializa nos assuntos americanos.

AS GUERRAS DE CLINTON

AUTOR Richard Sale

EDITORA Nossa Cultura

QUANTO R$ 48,50

 

TECNOLOGIA

Amazon aposta em feriados e cria vale-livro eletrônico

Depois de autorizar o empréstimo de livros eletrônicos, agora a Amazon, aproveitando o período de feriados nos EUA, criou o ‘vale-e-book’, ou seja, as pessoas vão poder dar de presente uma publicação para o Kindle.

Até então, a única alternativa era dar de presente um certificado que cobria o preço do livro eletrônico.

Para receber o certificado, a pessoa não precisa necessariamente do aparelho Kindle, já que o leitor de e-books tem aplicativos grátis que podem ser baixados em aparelhos como PCs, iPads, iPhones, BlackBerries e smarthphones que usam o sistema Android.

Quem comprar o vale-livro depois só tem que enviá-lo para o e-mail do destinatário pelo próprio site da Amazon.

No mês passado, a empresa disse que os donos de Kindle vão poder emprestar seus livros para outros proprietários do leitor de livros eletrônicos ou quem tenha o aplicativo.

A novidade, porém, vem com uma série de restrições: um livro pode ser emprestado uma única vez e esse empréstimo dura somente 14 dias. Além disso, enquanto a publicação estiver com outra pessoa, o dono original não poderá acessá-la.

A Amazon não divulga números, mas analistas acreditam que 5 milhões de unidades do Kindle serão vendidas neste ano.

 

Novo iPad pode chegar às lojas em abril

Segundo o analista Brian Blair, da Wedge Partners, a nova versão do aparelho da Apple deve começar a ser comercializada nos EUA a partir do ano que vem. Ele diz ainda que o modelo atual vai deixar de ser fabricado em janeiro.

 

IMPRENSA E POLÍTICA

Melchiades Filho

Dilma e o baú da felicidade

Lula sempre teve uma relação próxima com a imprensa.

É vaidoso, gosta de aparecer e sabe que os jornais o ajudaram a conquistar e garantir espaço político, principalmente na reabertura democrática.

Dilma nada tem de frívola e até a campanha manteve distância dos jornalistas, desconfiada ou mesmo convencida de que só atrapalham, quando não representam ‘o inimigo’.

É seu DNA brizolista.

Não é certo, porém, que, em razão das diferenças de personalidade e trajetória, a futura presidente atuará mais ostensivamente do que o padrinho contra as grandes empresas de comunicação do país.

Lula deu bordoadas sucessivas na imprensa não só para atiçar patrulhas e esvaziar denúncias, mas, sobretudo, para reforçar a imagem de pai dos pobres e vítima das elites. Os vilões de outros momentos (usineiros, banqueiros, coroneis etc.) estavam todos no governo. Sobrou para ‘a mídia’.

Dilma não tem perfil para replicar a estratégia. O marqueteiro da campanha não a pintou como coitadinha. Destacou ‘a mulher que decide’.

Outro senão é que Dilma terá de escolher meticulosamente as primeiras batalhas.

A macroeconomia e a aliança com o PMDB já prometem dor de cabeça o suficiente.

Ademais, como todo chefe de governo em início de mandato, ela será pressionada a produzir boas notícias. Por que torpedear justamente quem poderá veiculá-las?

Mas há mais uma razão para Dilma, a despeito do discurso beligerante do PT, não gastar tempo e energia contra a radiodifusão e a grande imprensa: a ofensiva, silenciosa, já foi feita, sob amparo da tendência de mercado.

Neste ano o governo Lula:

* acionou os fundos de pensão estatais e chancelou o acordo que passará a portugueses a ‘supertele nacional’;

* decidiu abrir às teles o mercado da TV a cabo;

* lançou um plano nacional da banda larga, nas mãos de uma estatal com R$ 15 bilhões para escolher quem contratar;

* fechou os olhos à entrada dissimulada de capital estrangeiro na imprensa/internet;

* ampliou a publicidade em órgãos menos independentes. Coordenadas ou não, essas medidas alteram a correlação de forças na iniciativa privada -ampliam a margem de ação de múltis telefônicas e/ou têm potencial para enfraquecer algumas empresas nacionais. As teles investem por ano no Brasil R$ 20 bilhões -oito vezes o patrimônio total do Grupo Silvio Santos.

A aposta no Planalto é que vários empresários brasileiros terão de pedir água e, em troca de barreiras protecionistas, aceitar, senão pedir, mudanças na lei das telecomunicações -ideia que hoje rejeitam. Caberia a Dilma, nesse cenário, arbitrar não apenas a nova conjuntura de mercado, mas também o debate sobre o ‘papel’ da imprensa.

MELCHIADES FILHO é diretor-executivo da Sucursal de Brasília

 

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