Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha, Estado e O Globo cobrarão por aplicativo para iPad


Portal Imprensa, 8/2/11


Folha, Estado e O Globo cobrarão por aplicativo para iPad


Os jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo se preparam para começarem a cobrar por seus aplicativos para iPad. Segundo informações do Macworld Brasil, a cobrança faz parte de estratégias dos veículos, e pode começar ainda neste trimestre.


As publicações informaram, também, que as estratégias de cobrança pelos aplicativos – que até o momento são gratuitos – não se relacionam diretamente com solicitações externas. Recentemente, jornais estrangeiros receberam uma notificação de que não poderiam mais oferecer seu conteúdo para iPad de graça.


O diretor de mídia digitais do Grupo Estado, Nicholas Serrano, afirmou que a nova edição do aplicativo já tinha sido planejada pela empresa, que estava em período de testes, e ressaltou que ela ‘não foi feita por causa de nenhuma determinação da Apple’, criadora do tablet. A ferramenta do Estadão terá uma versão que reproduzirá o jornal impresso em formato digital e outra desenvolvida especialmente para o iPad, com conteúdo exclusivo.


Em janeiro, várias publicações na Europa receberam um aviso da Apple de que seus assinantes não poderiam acessar a versão gratuita do jornal para iPad, mesmo que o veículo autorizasse. O novo regulamento começaria a vigorar a partir do dia 1º de abril, e recebeu diversas críticas.


O gerente comercial digital do jornal O Globo, Thiago Bispo, destacou que o aplicativo da publicação será um ‘híbrido’ da versão online e impressa e que também trará conteúdo exclusivo para o tablet, além de atualizações em tempo real das principais editorias do veículo.


Já a Folha pretende lançar sua versão paga para iPad neste trimestre. O CEO da empresa Digital Pages, Youssef Murad, afirmou que esses aplicativos tendem a evoluir naturalmente, e que podem ser feitos ‘num prazo de 30 a 90 dias’, podendo ser prorrogado dependendo do projeto de cada veículo. A Digital Pages é a responsável pelos novos sistemas da Folha e de O Globo.


Os usuários dos aplicativos do jornal carioca e do Estadão poderão ter acesso ao conteúdo por meio de compras de edições avulsas, ou pela assinatura mensal ou por períodos que ainda não foram definidos. Os valores a serem cobrados ainda não foram estabelecidos.


 


 


Folha de S. Paulo, 9/2/11


Jornais lutam contra monopólio da Apple


Jornais europeus e brasileiros querem evitar que a Apple crie um monopólio para a venda de assinaturas de suas publicações a serem lidas no tablet iPad.


Em nota, a Associação Europeia de Editoras de Jornais (Enpa, na sigla em inglês) afirma que a venda tem de continuar a ser feita sem restrições pelas empresas.


É uma resposta a uma carta que a Apple enviou a jornais de ao menos cinco países europeus em que os proíbe de fornecer a seus assinantes da versão impressa o acesso ao conteúdo no iPad.


O temor é que esse seja apenas um primeiro movimento para depois obrigar que a venda do acesso seja feita com exclusividade pelo iTunes, loja virtual da Apple.


É o que acontece hoje com a comercialização de aplicativos para os produtos da Apple. Tudo é centralizado no iTunes, que fica com 30% do valor do negócio.


Segundo a Enpa -entidade que representa 5.200 jornais em 25 países-, isso traria prejuízos para os jornais. Primeiro porque perderiam a possibilidade de vender pacotes que incluem versão impressa e acesso eletrônico.


Para Silvio Genesini, coordenador do comitê de estratégias digitais da ANJ (Associação Nacional de Jornais) e diretor-presidente do Grupo Estado, as empresas brasileiras estão preparadas para um modelo em que a assinatura pode ser vendida dentro e fora do iTunes.


No Brasil, esse é o caso da ‘Veja’. A assinatura anual pode ser comprada diretamente com a Editora Abril, mas o exemplar semanal é vendido na loja da Apple.


Tanto Genesini quanto a Enpa apontam um outro problema: a perda da ligação com o leitor.


‘Nós precisamos saber quem é o nosso assinante. Não podemos concordar que a Apple fique com essa base de dados. Nosso assinante tem relação conosco. Não podemos permitir que ele ligue para o nosso call center e não tenhamos a informação de que ele é assinante da versão para o iPad’, diz o coordenador da ANJ.


A polêmica entre a Apple e os jornais cresceu após o lançamento do ‘Daily’, jornal da News Corp, de Rupert Murdoch, feito com exclusividade para o iPad. A venda da assinatura (US$ 0,99 por semana, cerca de R$ 1,60) é feita apenas pelo iTunes.


A questão atual lembra a ocorrida há oito anos, quando a Apple lançou o iTunes e passou a oferecer músicas também por US$ 0,99.


Na época, a novidade foi saudada pela indústria fonográfica, que registrava queda de vendas devido à pirataria.


Com o passar do tempo, muitas gravadoras consideram que não foi um bom negócio deixar uma terceira empresa definir o preço de seus produtos e fazer a intermediação entre elas e o consumidor final.


REGULAÇÃO


A Apple não se pronunciou. Caso a empresa decida pelo monopólio das vendas, a disputa deve acabar na corte da União Europeia.


O ministro da Economia da Bélgica, Vincent Van Quickenborne, pediu ao órgão do país que regula a concorrência que verifique se não seria caso de abuso de poder de mercado.


 


 


Folha de S. Paulo, 7/2


Luciana Coelho, de Boston


Com iPad, jornal digital se tornará mídia de massa


Entre os muitos gurus com previsões sobre a nova mídia, o americano Ken Doctor se sobressai pelo otimismo pragmático de quem vê um futuro feliz para o jornalismo, mas não sem percalços.


Para ele, a seleção natural pela qual só os mais adaptados sobreviverão é inevitável nessa transição tecnológica.


E nada serve melhor a esse teste do que ‘The Daily’, o jornal exclusivo para iPad lançado na última quarta-feira pelo bilionário e pioneiro da mídia Rupert Murdoch.


O consultor vê o novo jornal como um marco na indústria da mídia voltada para as massas. A primeira revolução, diz, é o preço. O leitor paga, sim, mas em vez de uma assinatura o modelo será o do iTunes, com um aplicativo vendido a US$ 0,99 (R$ 1,66) semanais.


A outra é a interatividade -farta, mas sem pirotecnias, de forma a guardar propositadamente a imagem de uma revista ou um jornal.


A Folha ouviu Doctor no dia do lançamento do ‘Daily’. A fórmula, afirma, criará um veículo de massas que vai acelerar a migração do impresso para os tablets -embora ele ressalte que os primeiros não vão deixar de existir tão cedo.


Folha – O ‘Daily’ apresentou uma primeira edição caprichada, à qual o sr. se referiu como uma revista eletrônica. Essa qualidade sobreviverá ao ritmo diário?


Ken Doctor – Essa é a grande pergunta. Fazer isso todo dia com 130 pessoas entre editorial e produção parece uma subestimação. Claro que esperamos que, conforme eles peguem a manha, a coisa se torne mais fácil, mas é um desafio enorme.


Agora, se o ‘Daily’ for bem-sucedido, terá criado um novo patamar no mundo das notícias. E todos os jornais que estão planejando produtos para tablets terão um modelo a superar.


Algumas pessoas no Twitter reclamaram que o ‘Daily’ ainda parece um grande arquivo PDF, e muita gente esperava mais elementos interativos. Houve uma contenção proposital para guardar a semelhança com um jornal?


O consumidor-padrão não passa o dia no Twitter. Creio que seja uma decisão consciente por uma apresentação mais familiar. Foi uma jogada esperta: querem a massa, não a turma da tecnologia.


É uma mistura de revista, jornal e TV, as pessoas sabem como lê-lo. E, como falta interatividade em geral, as pessoas ficam felizes quando conseguem um pouco.


Com o iPad a US$ 500, dá para ser um produto de massa?


Não vai custar US$ 500 por muito tempo. A projeção da [consultoria] eMarketer é que até o fim de 2012 se chegue, no mundo, a 80 milhões de tablets. Mesmo que isso esteja 50% exagerado, o preço já vai cair significativamente.


Logo teremos o iPad 2, com um preço parecido com o primeiro, talvez um pouco menos, mas aí vão surgir versões menos poderosas, e então veremos os preços caírem para US$ 299. É o preço de um smartphone.


Vai se tornar um produto de massa e vai acelerar a transição do impresso para o digital. O tablet é o primeiro produto de substituição, neles a leitura é mais prazerosa e as pessoas passam mais tempo [do que nos sites], como nos jornais impressos.


O grande desafio não será cobrar os leitores pelo noticiário digital, mas sim fazer a transição do modelo com os anunciantes.


Qual é a expectativa deles pelo ‘Daily’ e os demais jornais em iPad?


Em 2010, os poucos que lançaram aplicativos no iPad acharam uma pequena mina de ouro, mas a renda veio sobretudo de anunciantes-patrocinadores [que subsidiaram os aplicativos ao leitor].


A questão é quão bom pode ser o anúncio no tablet, quantas formas de colocar o anunciante há, que tipos de técnicas serão usadas… Por ora, sabemos que os anunciantes gostaram da interatividade, como o consumidor.


O ‘Daily’ vai conseguir cobrir custos com anúncios?


Para cobrir metade do custo anual, que segundo Murdoch é de US$ 25 milhões, eles precisariam ter de 450 mil a 500 mil assinantes -e o resto viria de publicidade.


É um numero alto, mas é viável. Só não acho que vai ser fácil. Eles devem conseguir logo 100 mil assinantes, e depois vão brigar para chegar a 200 mil. Aí temos de ver o que farão os outros jornais, como o ‘New York Times’.


Qual é a matemática por trás de US$ 0,99 por semana? O apelo?


Sim, o apelo. É um número do iTunes. Um número no qual você não precisa parar para pensar.


E o que o Murdoch mais quer é derrubar o ‘New York Times’. O preço do ‘Times’ deve ficar em US$ 240 por um combo de acesso ao site, ao tablet e ao smartphone.


O leitor vai comparar. O ‘Times’ ainda tem uma equipe superimportante. Mas o ‘Daily’ é divertido de ler.


No lançamento do ‘Daily’, falou-se pouco em linha editorial e conteúdo noticioso. A plataforma se tornou mais importante que o conteúdo?


O ‘Daily’ é o ‘USA Today’ [jornal que nos anos 80 desenvolveu uma edição enxuta, maior apelo visual e ênfase também em entretenimento e esporte] de 2011. Acho que o ‘Daily’ copiou a fórmula e a atualizou.


Claro que as pessoas querem as notícias do dia. Mas, como no ‘USA Today’, esporte e entretenimento são também muito importantes.


Já em termos políticos, acho que vai ser mais apolítico ou voltado para a comunidade [os veículos de Murdoch, como o ‘Wall Street Journal’ e a FoxNews, são conservadores]. Isso vai lhes dar mais público.


E o sr. acredita que as pessoas vão querer pagar, com tantas notícias on-line de graça?


As pessoas não gostam de pagar por nada, mas a gente paga para ter coisas das quais precisamos.


Não é todo mundo que vai topar, mas acho que usaram o preço de forma eficiente. E, como só tem no tablet, você não vai comparar com sites de notícias. Vai comparar com aplicativos. É essa a psicologia por trás do preço.


O fato de o ‘Daily’ existir apenas em tablet, longe de sistemas de busca -embora esteja nas redes sociais- não o prejudica?


Sim, mas é uma troca. Ao se lançar como exclusivo para tablet, conseguiu enorme visibilidade. Era o aplicativo da semana na loja on-line da Apple. Se continuar visível assim durante a venda do iPad 2, vai lucrar muito.


Se os tablets são o caminho a seguir no jornalismo, o sr. vê uma transição completa?


Não no caso das empresas ‘mainstream’, que podem ter um produto alternativo para o tablet, mas ainda estão ganhando dinheiro com o impresso e querem manter essa fonte de renda. Afinal, o jornal impresso, depois de algumas perdas e cortes, voltou a ser lucrativo.


 


Portal Imprensa, 7/2


Jornal The Daily, exclusivo para iPad, já tem versão pirata na web


O jornal The Daily – criado pela News Corp. e pela Apple exclusivamente para o iPad – já tem a sua versão pirata. De acordo com o blog da revista Superinteressante, o conteúdo do veículo pode ser acessado, gratuitamente, pelo site The Daily Indexed.


A versão pirata da publicação explora uma falha no sistema do Daily. Os assinantes do jornal podem enviar matérias por e-mail aos amigos, que recebem um link que direciona a uma página da web que contém o texto. Segundo o blog da Super, todas as reportagens do veículo são copiadas na internet, porém seus endereços (URLs) estão escondidos.


O conteúdo do jornal só é acessado por um não-assinante caso um assinante envie a matéria por meio de um link, e não existe um site na web em que elas possam ser lidas. O programador e jornalista Andy Baio chegou a escrever uma espécie de passo-a-passo ensinando internautas a como ter acesso ao material. Baio afirma que a prática não é ilegal, mas que acredita que a News Corp. possa tomar medidas para tentar impedir a publicação das reportagens no The Daily Indexed.


O Daily foi lançado na última quarta-feira (02), após ter sido adiado por problemas com o sistema de assinaturas. A publicação promete se tornar sinônimo de dinamismo e ‘convergência de mídias’. O jornal cobrará US$ 0,99 pela assinatura semanal, ou cerca de US$ 40 por ano.


 


O Estado de S. Paulo, 7/2


Alexandre Matias


Um jornal para o iPad


Na quarta-feira da semana passada, depois de muita especulação, finalmente foi lançado o jornal sem papel imaginado pelo magnata das telecomunicações Rupert Murdoch. The Daily é um jornal que só pode ser lido no iPad. Funciona como uma revista eletrônica diária, cuja diagramação se adapta à forma como se segura o tablet, além de conter conteúdo multimídia, como vídeos, áudio e infográficos em movimento. Cada edição custa US$ 0,14 (a assinatura anual custa US$ 39,99), mas, nos dois primeiros meses, o aplicativo é gratuito para os clientes da operadora norte-americana Verizon.


Mas mais do que uma tentativa de ver como funciona um veículo feito para ser consumido em apenas um tipo de aparelho, a aparição do Daily acontece junto de uma mudança drástica na política comercial da Apple. A empresa agora só permite que se baixe aplicativos gratuitos para seu tablet se isso ocorrer em sua própria loja, a App Store. De graça, agora, só se for via Apple.


É um momento interessante e, talvez, crucial para a sobrevivência do modelo de negócios ao redor do hypado tablet. Não custa lembrar que o iPod, o MP3 player que fez a Apple voltar ao cenário digital no início do século, só foi um sucesso de vendas porque permitia a inclusão de músicas que pudessem ser adquiridas em outro lugar além da loja da Apple. Será que se o iPod só tocasse músicas compradas na iTunes ele seria o sucesso que foi? Acho que não.


Outra nuvem que paira sobre o novo negócio da Apple é a própria presença de Rupert Murdoch, cuja empresa, News Corp., comprou o MySpace por meio bilhão de dólares em 2005. Foi o suficiente para a rede social, então a maior do mundo, começar a desandar. O futuro do MySpace, hoje, é mais do que incerto. Mau agouro?


E quem pode desafiar o poder da Apple e de Murdoch são os próprios usuários, como o norte-americano Andy Bayo, que pegou o conteúdo do Daily e o transformou em um tumblr (http://thedailyindexed.tumblr.com), aberto para quem quiser ler. Sem pagar.


O rapper Dan Bull ficou conhecido no fim de 2009 quando fez uma carta aberta em forma de vídeo à cantora Lily Allen reclamando do fato de ela ter sido descoberta na internet e na época se voltar contra os downloads ilegais. O alvo da nova missiva musical do norte-americano agora é a Microsoft. Num longo e-mail cantado, ele reclama que a empresa só dá passos errados hoje em dia.