Muito do que se tem de registro dos campos de concentração nazistas são do fotógrafo Wilhelm Brasse, que morreu esta semana aos 94 anos em Zywiec, na Polônia. Ele registrou imagens de prisioneiros uniformizados, pessoas com deformidades, vítimas de experiências médicas – por não ter outra escolha, assim como muitos que conseguiram sobreviver a Auschwitz, durante a Segunda Guerra. “Era uma ordem e prisioneiros não tinham direito para discordar”, relembrou ele.
Brasse, entretanto, conseguiu preservar milhares dessas fotos, apesar da ordem de destruí-las. “As fotos foram tiradas para objetivos administrativos, de documentação e também de divertimento pessoal dos nazistas”, revela Judith Cohen, diretora do arquivo fotográfico do Museu Memorial do Holocausto, em Washington. “Entretanto, as mesmas fotografias que foram encomendadas pelos alemães, posteriormente tornaram-se algumas das evidências mais condenatórias de seus crimes. Um dos maiores atos de heroísmo de Brasse foi quando lhe pediram para queimar as imagens e ele salvou milhares delas.”
Como as fotos, as memórias ficaram gravadas na mente de Brasse. Em uma entrevista de 2009, ele relembrou: “Nós fotografamos todos os prisioneiros no começo – judeus, de todas as nacionalidades. Mas depois do número 35 mil, não fotografávamos mais judeus. Eles não eram registrados. Isso porque eles iam direto para as câmaras de gás”.
Brasse nasceu na Áustria em 1917; seu pai era austríaco e sua mãe polonesa. Cresceu na Polônia e estava trabalhando em um estúdio fotográfico, perto da fronteira alemã, quando os nazistas invadiram. Ele, que não era judeu, tinha 22 anos quando foi preso por nazistas em agosto de 1940, enquanto tentava cruzar a fronteira com a Hungria, esperando eventualmente juntar-se aos exilados poloneses na França. Fluente em alemão, foi convidado a integrar o exército alemão, mas recusou.“Quando descobriram que ele era fotógrafo, ficou responsável pelo departamento de identificação”, disse Janina Struk, autora do livro Photographing the Holocaust.
Em janeiro de 1945, na medida em que a tropas soviéticas avançaram em direção a Auschwitz, Brasse foi um dos milhares de presos que foram retirados dos campos de concentração nas marchas rumo ao oeste. Em maio daquele ano, foi liberado pelas tropas americanas. Depois de voltar para a Polônia, casou-se e teve dois filhos. Ele tentou trabalhar como fotógrafo, mas era assombrado por suas experiências. “Quando eu tentava fotografar jovens, por exemplo, vestidas normalmente, eu as via vestidas como crianças do campo de concentração”, disse em uma entrevista à Agence France-Presse. Informações de Dennis Hevesi [The New York Times, 25/10/12].